Capítulo Oito [Lembra?]

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Encaro o papel em branco em minha frente, nele, começo a rabiscar alguns traços longos e curtos, fazendo alguns círculos logo em seguida. Não sei bem o que vai sair daqui, mas gosto de desenhar quando tento não pensar em tomar decisões.

O carvão suja os meus dedos inquietos enquanto continuo rabiscando, fazendo contornos nos trações. Afasto a folha de mim e, trancada no meu quarto, tentando fugir das decisões, dos arranhões que Hilary me causou, eu acabo de perceber que, sem ter a mínima intenção, eu desenhei seus olhos. Verdes e cativantes. A cicatriz acima de sua sobrancelha direita, que me faz percorrer meus dedos pelo papel até tocá-la, fazendo o carvão manchar as linhas.

De onde veio aquela cicatriz?

Ouço batidas na porta e, como se estivesse escondendo um corpo, eu jogo o caderno para debaixo da minha cama, ao tempo que Kailan abre a porta e coloca a cabeça a cabeça para dentro.

— Tudo certo por aqui?

— Considerando o fato que você bateu na porta e abriu-a logo em seguida sem ouvir uma permissão, fora isso, tudo certo.

Kailan afasta os fios castanhos da franja de seu rosto quando desvia o olhar, envergonhado.

— Não vai acontecer de novo, prometo. Posso entrar?

— Pedir já é um grande passo pra você, não é? — digo ironicamente, apontando um lugar à cama para ele.

Ele adentra o quarto, olhando cada centímetro do cômodo: minha escrivaninha que mal uso, o closet pequeno com algumas mudas de roupas.

— Você ainda não desfez a mala?

— Não por completo. — sento na cama enquanto o vejo fazer o mesmo.

— A senhora não vai embora, vai?

Engulo o “senhora” com horror.

— Senhora é a sua mãe. — digo, apesar do tom de xingamento. Bufo e encosto na parede. — Respondendo a sua pergunta: meu plano era ficar aqui por três meses até eu arrumar meu apartamento. Infelizmente não posso morar no meu ateliê – acredite em mim, está um caos.

— E com meus avôs?

Só a ideia de morar com Carlos Antônio me faz estremecer.

— Estou falida, não louca.

Isso faz Kailan ri e relaxar. Respiro fundo, percebendo que essa é a primeira vez que converso diretamente com ele a sós.

— Eu achei que mamãe te deixava louca.

— Dificilmente nos bicamos. — ... tirando a discussão do primeiro dia, Cristina e eu evitamos uma a outra... por Kailan.

Ele assente, mesmo que pareça distante a conversa.

— Por quê? — ele diz tão baixo que me esforço para ouvi-lo.

— Por que o quê?

Ele vira todo seu corpo para minha direção.

— Por que você e minha mãe vivem nessa rixa? Não é assim com tio Nathan. E tem meus avós também... Não consigo achar um motivo plausível para não gostarem de você.

— “Motivo plausível”? — quase dou risada para fugir. — Que tipo de adolescente fala isso?

Kailan cora e encolhe os ombros, defensivo e envergonhado. Acabo rindo e me arrasto para me levantar da cama, passando por ele, bagunço seus cabelos.

— Isso não é assunto para você, pequeno.

— Pequeno? Tenho apenas quatro centímetros a menos que você. — ele avança sobre mim, colocando seus braços em volta do meu pescoço e fingindo me estrangular por trás.

A namorada do meu sobrinho [Enemies to lovers lésbico✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora