Capítulo Dezoito [Tarde demais]

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Os braços do meu pai estão em volta de Kailan, o parabenizando. Tati segura as mãos de Hilary, balbuciando coisas que não entendo. Nathan e Cristina estão me encarando mas tudo que eu consigo fazer e encará-la, sentindo o baque doer minha cabeça, como se aquela notícia que deveria ser maravilhosa, estivesse esmagando o meu crânio até que virasse pó.

— Eu também tenho uma notícia. — não acredito que essa palavras saíram de mim até que os olhos dela estejam em mim. Ela começa a ficar tensa, mas eu não me importo. Viro-me para Melissa quando as atenções estão em mim. — Voltarei para Salvador com Melissa.

— O quê? — Tati é a primeira a protestar. — Mas... você acabou de chegar.

— Não, mãe. Tem três meses que eu estou em Florianópolis, e eu acho que já está na hora de voltar.

— Achei que você tinha vindo para ficar. — papai me provoca. Sei que ninguém percebe a sua provocação, por isso respondo no mesmo tom:

— Isso não significa nada. Eu disse para Nathan que ficaria apenas por três meses, e, bem, esse tempo acabou.

Cristina fica desconfortável na cadeira, mexendo-se.

— Tem certeza que não pode ficar um pouco mais, meu amor? — Tati põe as mãos em meu rosto, fazendo-me um carinho maternal. — Eu mal tive tempo de estar com você.

— Mãe — retiro suas mãos de meu rosto e as faço um carinho. —, agora você tem um bisneto para se preocupar. Eu estou bem, voltarei com Melissa e acredito que Florianópolis não seja o meu lugar.

Ela inclina a cabeça para o lado e encara nossas mãos juntas.

— Tem algo que está te incomodando, não é? — quero interrompê-la mas ela continua: — Se tiver, e eu acredito que tenha, você tem a obrigação de me contar, Júlia.

A pressão que antes estava em minha cabeça agora se move para o peito. Quero voltar no tempo e ter passado esses três meses com minha mãe e não com a namorada do meu sobrinho – isso teria resolvido todos os meus problemas.

— Por isso, eu vou te perguntar: há algo te incomodando?

Minto descaradamente:

— Não, não tem. Tenho certeza do que estou fazendo agora, como tive anos atrás.

Mesmo que isso aparente estar doendo nela, ela assente.

— Posso te dar um abraço? — ela sorri fracamente com seus olhos marejados.

— Mãe. — sussurro, puxando-a para um abraço e ouvindo-a murmurar que sentiu minha falta. — Eu também senti. — digo, sentindo o peso da culpa me atingir.

Melissa nos interrompe.

— Na verdade, Jú, eu acho que posso prolongar a nossa viagem para mais algumas semanas.

— Pode? — ainda abraçada com a minha mãe, pergunto. — E isso não interferirá na agência?

— Ah, não. Treinei minha equipe justamente para tomarem o controle de tudo enquanto eu estivesse fora. E, além do mais, posso cuidar de tudo à distância se precisar.

Os braços de minha mãe se afastam de mim para se agarrar aos de Melissa.

— Obrigada por isso. — afasta-se, olhando-a. — Ainda bem que ela tem alguém como você.

Hilary revira os olhos ao ouvir isso. E o incrível é: esse foi a única reação que ela teve desde que contei a notícia que nem eu mesma sabia.

Nathan arrasta a cadeira para trás e me abraça com força.

A namorada do meu sobrinho [Enemies to lovers lésbico✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora