Capítulo Dois [Ápice ilusório]

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Percorro minhas mãos pelo pintura preta do meu antigo Jeep Renegade, o qual tive que deixar para trás quando me mudei para Salvador. Ao contrário do que Cristina acha, não me arrependi de ter atravessado o país para correr atrás das oportunidades que eu tive de vender meus quadros — e, ainda por cima, ficar com a mulher que eu amava —, no entanto, minha vida profissional não durou muito tempo e minha vida amorosa com Melissa tampouco. O que me fez ficar em Salvador por 3 anos foi a minha insistência de que daria certo, em ambos os quesitos.

No fim, não deu. E eu tive que voltar para casa, sem deixar nada de mim em Salvador: nenhum amigo, nenhum trabalho, e muito menos alguém.

Coloco o cinto de segurança assim que adentro o carro. Nathan está ao celular, digitando algo de forma rápida e concentrada, tanto que seu maxilar está completamente travado.

— Problemas? — questiono assim que saio do estacionamento do prédio.

— Não, nenhum. — ele suspira e nega com a cabeça, deixando o celular sobre seu colo. — Estou mentindo, na verdade... Tem algo que eu quero te contar.

Continuo concentrada no tráfego, portanto apenas assinto para sinalizar que estou escutando-o.

— Estou saindo com alguém. — declara. Passamos 5 segundos, percebo que é apenas isso.

— Só isso?

— Já é um grande passo pra mim, entendeu? — responde de forma defensiva.

— Relaxa aí, Nathan. — digo isso de forma autoritária, o que funciona. — Quanto tempo?

— Um ano e dois meses.

— O quê? — praticamente grito. — Por que nunca me contou?

— Você estava muito ocupada em saber como ia pagar as contas e como faria para descobrir se Melissa tinha uma vida dupla ou não.

A simples menção do nome dela faz com que eu recue discretamente. Aperto o volante com força, tentando fazer com que a raiva fique contida. Infelizmente, Nathan nota.

— Desculpe, eu não queria...

— Vamos combinar uma coisa? Não toca nesse assunto a não ser que eu toque primeiro, tudo bem?

— Certo, tudo bem. — diz de imediato, e sinto seu olhar de soslaio sobre mim. — Eu realmente sinto muito.

Assinto para dizer que aceito suas desculpas. A pressão contra o volante vai se afrouxando aos poucos e eu vou voltando a relaxar. “Tudo bem, Júlia. Você está bem agora.”, digo para mim mesma tentando me convencer que é verdade.

— Como é o nome? — questiono de repente e Nathan demonstra não ter entendido. — Da pessoa que você está saindo.

— Ah, tá. É Tadeu.

Viro-me para olhá-lo.

— O porteiro? — seu silêncio confirma. — Você ‘tá saindo com o porteiro há um ano e dois meses e Cristina não sabe?

Nathan dá de ombros como se esconder sua orientação sexual por tanto tempo estando tão perto não fosse nada.

Estou orgulhosa dele, mas não digo isso. Apenas o observo saindo do carro assim que estaciono em frente à boate que eu frequentava quando era menor de idade.

Nathan assovia quando entra e se depara com o espaçoso lugar e a quantidade de pessoas que se encontram amoutadas ali. Eu mesma não me lembrava que esse lugar poderia ficar tão lotado assim.

A música eletrônica sem letra é como um passe para o passado, para quando eu tinha dezessete anos e era inconsequente. Agora, aos meus vinte e dois, vejo que isso não mudou muito. A diferença é que passei a ter noção do porquê algumas coisas não devem serem feitas.

A namorada do meu sobrinho [Enemies to lovers lésbico✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora