Capítulo vinte e cinco [Fim]

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Dois meses depois:

Viver em torno do luto era algo estranho quando você não está passando por ele. Não me sinto culpada por não estar sentindo falta daquele homem. Meu pai era a pior pessoa que tinha passado pela minha vida e seria mentira se eu dissesse que o amava. No entanto, o choque de ter visto a faca adentrando seu corpo e ainda mais quem o apunhalava, foi algo que tive que trabalhar por semanas para acreditar no que tinha realmente acontecido: no fim das contas, foi Kailan que pós um fim àquilo tudo.

— Júlia? — desvio meu olhar da janela para prestar atenção na pessoa que põe as mãos em meus ombros. — Quanto tempo você vai continuar olhando esse jardim?

Sorrio de lado para o meu amor.

— Até que Cristina volte com notícias. — declaro sem muita firmeza na voz. Na verdade, eu já estava entediada de ter que esperar que ela voltasse.

Hoje minha irmã tomaria a frente da Alcance, e eu estava nervosa por ela. Kailan assumiria, mas estava em tratamento psiquiátrico. A última vez que o vi, foi para fazer check-in na clínica.

Olhando para cima, onde estava o rosto de Hilary, vejo-a fitar o mesmo jardim que eu.

— Ei — puxo-a para que fique em minha frente e então se sente em meu colo. —, quê que foi?

Ela suspira.

— Ele morreu, mas parece que nunca foi embora.

Eu entendia bem o que ela queria dizer com isso. Eu sentia a presença daquele infeliz em tudo que eu fazia, até que, aos poucos, fui parando de fazer.

— Ele morreu, Hila, acabou. — tento tranquilizá-la, mesmo não sentindo o que tento emitir.

— Sei disso. — suspira. — Você acha que Kailan vai ser igual ele quando for mais velho?

Penso sobre isso. Apesar de ter cometido um homicídio em um momento delicado, eu não sei ao certo do que será dele daqui pra frente, porque uma parte de mim ainda acredita que ele agiu por impulso e não faria algo assim de novo.

— Eu não sei. — respondo com sinceridade.

Hilary assente. Ela estava linda naquele fim de tarde, tão linda que poderia facilmente ser confundida com o crepúsculo.

Havia algumas semanas que estávamos morando na casa que era de meu pai, que agora pertencia inteiramente a Tati. Nathan optou por sair daqui, indo morar com Tadeu. Cristina não quis ficar sozinha no apartamento dela, por isso veio ficar comigo, nossa mãe e Hilary. A verdade é que Cristina e Hilary passaram por coisas semelhantes e isso as deixou mais próximas.

— Liguei para Gustavo Herrera. — conto como se não fosse nada demais. Hilary arregala os olhos e vira o rosto em minha direção.

— Quando?

— Ah, sei lá...

— Quando, Júlia?

— Semana passada. — confesso. — Ele avaliou meus quadros e disse que... — como eu contaria aquilo? — que poderíamos trabalhar juntos. Ele e eu.

Espero alguns segundos para que Hilary falasse. Ela abriu a boca, depois a fechou, suspirou, tentou outra vez e falhou.

— Vou esperar você se recuperar, ok? — aviso, encostando meu queixo no ombro dela. Eu estava apenas a admirando. Ela será minha namorada, esperei tanto tempo pra poder chamá-la de minha que sinto que é uma possibilidade. Antes não era.

Cerca de dois minutos se passaram até que ela, por fim, reagiu:

— Onde, exatamente?

Essa era a parte delicada.

A namorada do meu sobrinho [Enemies to lovers lésbico✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora