Capítulo Vinte [Consciente]

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— Não, esse não. — diz Melissa sobre o sétimo apartamento que eu a mostro. Respiro fundo, buscando a paciência que não tem me restado ultimamente.

— Precisamos decidir onde eu vou ficar, só temos mais um mês para decidir tudo e nenhuma opção parece boa o bastante para você.

Melissa torce o nariz.

— É que todos eles têm algo que poderia ser melhorado: a pintura, o tamanho, os cômodos, o preço, a localização... — a cada item que ela lista, eu encolho mais meus ombros. Notando a minha frustração, ela pigarreia. — E quanto ao ateliê?

— Nathan ficou de olhar alguns e até agora não me deu uma resposta... — apenas noto o biquinho de criança aborrecida quando Melissa sorri para mim e agarra as laterais do rosto com uma só mão.

— Tenho uma solução e, possivelmente, seja a melhor solução do mundo.

Suas mãos em minha bochecha as apertam e apenas consigo murmurar um “o quê?” abafado.

— More comigo.

Murmuro o mesmo “o quê?” com a sobrancelha levantada. Ela não pode estar falando sério.

— Isso é de mais, Melissa. — retiro suas mãos de meu rosto e começo a rodar o ateliê, como faço quando estou nervosa.

Morar com a minha ex-namorada, sabendo que verei sua filha todos os dias, sua família a visitará e, por Deus, isso inclui seu ex-marido. Como eu poderei encará-lo após toda essa confusão? Isso era demais para mim.

— Não é como se nós fossemos...

— Um casal? — ela se levanta, andando até mim em seguida. — Não somos porque algo está te bloqueando.

— Não tem nada me bloqueando, que eu saiba.

Melissa torce o nariz.

— Mentir não é seu forte, Jú. Ser observadora é o meu. E eu sei que tem algo te bloqueando de ir para Salvador comigo, mesmo que você tenha dito que realmente iria. — ela faz uma pausa, me olhando calmamente. — A não ser que eu esteja errada e não seja “algo”, é alguém?

Praticamente engasgo com o “não” que solto tão rápido que soa suspeito. Melissa ergue as sobrancelhas com humor.

— Me avisa quando tiver a resposta. — diz por fim, sentando-se novamente à cadeira em frente ao notebook aberto em todas aquelas opções de apartamento.

A verdade é que Melissa tem me dado espaço o suficiente para que eu saiba as respostas, mas eu não consigo dizê-las.

Por sorte, o toque do meu celular interrompe o clima acerbo. O nome de Tatiane se destaca na tela com sua foto em uma praia afrodisíaca que eles tiraram há não sei quanto tempo atrás.

Atendo no quarto toque e a primeira coisa que ouço são gritos abafados.

— Não me diga que te internaram. — é a primeira coisa que digo para minha mãe.

— Ninguém teria a audácia. — diz com o mesmo humor juvenil de sempre. — Venha para cá, agora, já, voando.

— Que loucura é essa? Onde e por quê?

— Estamos na piscina do condomínio, e porque eu te quero aqui, oras! Você me deve isso.

Praticamente gemo ao lembrar de minha promessa, penso em dizer “não” mas ela é mais rápida.

— Além do mais, esse churrasco está muito monótono sem Carlos Antônio e Kailan.

Espera, o quê?

A namorada do meu sobrinho [Enemies to lovers lésbico✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora