Capítulo Dezenove [Criminal]

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“You left me with goodbye and open arms
A cut so deep I don’t deserve
Well, you were always invincible in my eyes
The only thing against us now it time”

(Com um adeus e de braços abertos você me deixou
Um corte tão profundo, eu não mereço
Bem, perante aos meus olhos, você sempre foi invencível
A única coisa contra nós agora é o tempo)

No rádio, mais uma música do The Calling se inicia e eu encaro nosso percurso para não ter o que dizer. Melissa está quieta, mas isso não é algo a se estranhar, naturalmente sempre foi assim.

Mantenho as mãos firmes no volante a cada vez que a frase “could it be harder to live my life without you?” se repete. Ergo minha mão para o painel e desligo a música, fazendo com que Melissa saía de órbita e me olhe. Sei que sua atenção está em meu perfil mas eu não me movo.

Ela suspira, finalmente.

— Hoje no jantar... — ela começa e eu quero tanto fechar os olhos. —, pouco antes de você ir no banheiro, eu e o seu irmão fomos para a cozinha e, em determinado momento, vi seu pai na varanda.

Franzo o cenho com estranhamente.

— E o que tem demais nisso?

— Ele estava sangrando pelo nariz, Júlia. Sangrando muito. Eu ofereci a minha ajuda mas ele apenas a negou e voltou para a sala. — faz uma pausa, ainda me encarando. — Então eu fiquei me perguntando: é por isso que você ter ficar por algumas semanas?

— Eu não quero ficar — digo rapidamente, para deixar bem claro. —, mas devo isso a Tati.

— Somente a ela?

Suspiro, querendo acabar logo com aquilo.

— Tenho algumas coisas para resolver, Melissa, e preciso de algumas semanas para isso.

— Sei disso, por isso ficarei aqui por dois meses até que tudo esteja pronto. — estaciono na frente do hotel que ela está hospedada. Melissa se livra do cinto e sinto sua mão percorrendo meu antebraço. — Sei que ficou tudo um mal entendido, mas eu prometo que quando chegarmos a Salvador, te explicarei tudo direitinho. Tudo o que você quiser saber.

Assinto em concordância, vendo seu rosto graças a luz amarelada do poste. Ela se inclina até mim, mas eu viro meu rosto quando sua boca tenta se encostar na minha.

— Desculpe. — peço baixinho porque ainda sinto seu rosto a poucos centímetros do meu. — Tá tudo muito recente pra mim.

Melissa sorri forçadamente.

— Eu entendo, mesmo. Eu deixei que tudo isso acontecesse, não posso ir com pressa também. — leva a mão até a porta. — No seu tempo, meu amor.

Acompanhado cada passo que ela dá do meu carro até o saguão. Sei que estou prometendo mais do que posso cumprir e eu espero de verdade não estar cometendo um erro.

Dirijo até meu ateliê, que fica apenas a alguns quilômetros de Melissa, o que me leva a crer que ela fez isso propositalmente. Deixo meu carro no estacionamento e subo as escadas. A bagunça ainda é a mesma, parece que Tadeu nem ao mesmo esteve aqui no início do dia. Os quadros com os rostos e detalhes de Hilary ainda estão aqui, espalhados no meio do meu espaço, só que agora é diferente, a sensação que eu tive quando fiz seu último desenho e a qual eu sinto quando a olho agora são completamente diferentes, e nem ao menos parece que eu o acabei apenas há nove horas atrás.

Meus ombros caem e eu sinto as lágrimas novamente. Aquele choro silencioso e quieto vem enquanto eu embalo os quadros para não a olhar mais. Acabou, e tudo bem. Desde o início, quando se começa algo que você sabe que está errado, sua mente automaticamente vai te preparando para o pior. Às vezes sim, às vezes não. Eu estava preparada para perder Hilary... eu só não imaginava que doeria tanto.

A namorada do meu sobrinho [Enemies to lovers lésbico✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora