Capítulo 1.

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Luma.

Me virei na cama mais uma vez e bufei quando o alarme do meu celular tocou depois de uns vinte minutos, que merda.

Acordar antes do alarme é de fuder.

Levantei na força do ódio depois de desligar ele e joguei o meu uniforme, que estava em um cabide dentro do guarda-roupas, na cama antes de sair do quarto e ir pro banheiro fazer as minhas higienes.

Depois de tomar banho e escovar os dentes voltei pro quarto tremendo mais que vara verde, a água tava fria pra caralho. Vida de pobre não é fácil, viu?

Já devidamente vestida faço um coque bagunçado no meu cabelo e pego minha mochila, meu celular e os meus inseparáveis fones, saindo do meu quarto logo em seguida.

-Bom dia mãe.-Dou um beijo na cabeça dela e ela sorri pra mim antes de responder.

Benê: Bom dia filha, e esse cabelo?-Apontou pro meu coque quase desfazendo e eu dei de ombros.

-Quando tiver tempo eu vou no salão da tia Ana trançar.

Benê: Tu só tirou as tranças antes de ontem e já vai trançar de novo, Luma?-Assenti já pronta pra bronca que ia levar.-Você tem que cuidar mais do seu cabelo, se acostumar com ele.

-É fácil pra você falar, mãe.-Suspirei me sentando na cadeira.-Seu cabelo é liso, ninguém nunca vai reclamar e a senhora nunca vai entender o que eu passo. É um porre pra mim ficar ouvindo aquele bando de playba e patricinha reclamarem que o meu cabelo impossibilita a visão deles lá no colégio.

Benê: Tá né.-Levantou as mãos como quem se rende.-Não tá mais aqui quem falou.

Comi as torradas com manteiga que ela fez pra mim e tomei o leite em apenas três goles.

Meu celular vibrou e eu vi que era mensagem da Drielly falando que já estavam na entrada da favela.

Peguei o prato e a caneca que usei e fui deixar na pia antes de me despedir da minha mãe e sair de casa, descendo a ladeira logo em seguida.

Bocejei enquanto caminhava e cumprimentei os soldados que estavam na contenção da barreira antes de passar por eles e abrir a porta do Range Rover Velar preto que o tio Lucca e o tio Ht compraram pro motorista levar a gente pro colégio ou outro lugar que a gente queira.

-Bom dia.-Desejei colocando o cinto de segurança e sorri ao receber um abraço apertado do Luan e da Malu.

Eu amo eles de paixão. Pensa nas crianças mais preciosas desse mundo, são eles.

Drielly: E aí, vagaba.-Fizemos um toque.-Cadê a Safira?

-Tá com uma cólica braba desde ontem, hoje não vai.-Respondi e o seu Fábio começou a dirigir.

Drielly: Essa menina não tá dramatizando?-Riu.

-Não creio, cê tá falando isso porque a nossa menstruação já iniciou há anos. A dela iniciou na semana passada só, ela não tá familiarizada com a dor ainda.

Drielly: Pensando por esse lado cê tá certa. Mudando de assunto, ainda bem que esse é o nosso último ano.-Passou a mão no cabelo.-Não aguento mais estudar.

-Nem eu.-Choraminguei.-Quando acordo de manhã eu invejo o Henri e o Khalil por já terem terminado, sortudos.

Drielly: Demais.

Peguei o meu celular e quando eu ia digitar a senha ele simplesmente desligou, na minha cara.

-Que porra.

Drielly: Olha as crianças, mano. Já basta o tio Lucca e o meu pai de más influências pra eles.-Negou com a cabeça e eu ri.-Seu celular tá dando problema de novo?-Neguei com a cabeça, mentindo na cara dura mesmo.-O que foi então?

-Nada não, coisa minha.-Forcei um sorriso, ela não pareceu acreditar mas também não insistiu.

Tive que mentir porque eu não quero o apoio financeiro dela. Drielly é a melhor amiga que uma pessoa pode ter, se eu dissesse que tá dando problema ela ia querer dar outro celular pra mim e eu não quero que ela gaste a mesada que ela ganha dos pais comigo.

Meu iPhone seis tá só o pó, tenho ele desde os meus quatorze anos. Ganhei da tia Mari e apesar dela e do tio Lucca quererem comprar outro pra mim eu vou seguir negando.

Não gosto de abusar da boa vontade dos outros. Eles já gastam à beça pagando a minha mensalidade e a dos gêmeos, e olha que eu nem sou responsabilidade deles.

Só a minha mensalidade dá uns oito, quase nove mil reais e a dos gêmeos é uns cinco, quase seis mil pra cada. Sei que esse dinheiro não faz falta pra eles, mas isso não muda a minha forma de pensar.

O carro parou na frente da EARJ, ou Escola Americana do Rio de Janeiro, como preferirem chamar, e nós descemos antes de passar pelo portão de entrada do colégio.

-Good Morning.-Cumprimentamos o porteiro antes de adentrar no colégio.

Eu e a Elly acompanhamos os gêmeos até a sala deles, depois de passar pela portaria, e depois fomos pra nossa. Desde o segundo ano do ensino fundamental, que foi quando a gente começou a estudar aqui, sempre acabamos caindo na mesma turma graças a Deus.

Aproveitei que ainda não tinha professor na sala de aula e coloquei o meu celular pra carregar na força do ódio, eu nem bem usei desde que acordei e a percentagem tava pra lá de baixa.

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Malu e Luan Andrade Pinheiro

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Malu e Luan Andrade Pinheiro.| 7 anos.

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