4 - Uma faísca que acendeu timidamente

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Desde aquele dia no bar, pensei pouco sobre o bilhete que havia ganhado. Não tinha muito tempo para aquilo. Apenas guardei o guardanapo no pequeno gaveteiro ao lado da minha cama, e esqueci o que havia acontecido. Não era o tipo de coisa que merecia tanto a minha atenção.

E voltando para a minha rotina, logo na segunda me deparei com Namjoon e Jungkook no grupo de pesquisas. Falamos pouco sobre o trabalho depois da aula, pois eu não podia ficar mais tempo e nem queria. Ainda era estranho estar perto deles. Mais estranho ainda foi perceber que Jungkook me olhou de uma forma diferente. Na maioria das vezes, naquele curto espaço de tempo em que havíamos nos conhecido, ele só olhava daquele jeito sério. Mas naquela segunda-feira havia algo mais em seus olhos. Não era só aquela sombra soturna que pairava sobre seu olhar sempre misterioso demais. Havia algo que eu não sabia explicar, um brilho diferente que chamou minha atenção. Tinha, sim, um pouco de malícia, mas não era só isso. Jungkook era uma incógnita para mim, então preferia não ter que lidar com meus pensamentos a respeito dele. Ignorei a forma como ele me olhou.

Os dias foram passando, e quando dei por mim, já era quarta outra vez, e tive que ir até o cybercafé. Para constar, Namjoon não havia ido, o que não foi surpresa, já que eu esperava que ele realmente não fosse. Na terceira vez, continuo sendo somente eu e Jungkook. Até que isso se repetiu na quarta semana e mais duas semanas depois disso, e foi impossível ignorar o fato de Namjoon não aparecer por quase um mês de trabalho. Mesmo que Jungkook sempre comparecesse e fosse muito atencioso ao trabalho, sempre ficava faltando a parte de Namjoon, faltava sua parte da pesquisa para que tudo funcionasse da maneira certa. E a medida que as semanas foram passando, fui perdendo a paciência.

Eu e Jungkook sempre tínhamos que nos desdobrar em mil funções para tentar imaginar como seria a parte de Namjoon no trabalho, e onde encaixaríamos quando ele resolvesse aparecer. E por conta disso, a minha tolerância estava quase zero. O que gerou alguns conflitos com Jungkook algumas vezes. Trocávamos poucas farpas no começo, mas foi aumentando, e era sempre por causa do trabalho, até que começou a ficar pessoal demais, pois não estávamos nos controlando mais. O estresse parecia grande demais para ser contido, então na maioria das vezes não controlava a minha língua. E ele também não fazia questão nenhuma de segurar tudo o que tinha para falar. No começo foram discussões leves do tipo: "Não queria estar fazendo esse trabalho também" ou "Você acha que eu queria estar aqui?". Tudo sempre se resumia ao trabalho. Até que um dia perdi minha paciência e disse que não estava afim de fazer o trabalho naquele dia, e que não era obrigada a aturar a criancice de Namjoon. E isso fez Jungkook mostrar um lado grosseiro, que provavelmente já havia sido mostrado a metade da faculdade, menos a mim. Foi quando ele disse: "Se não quer fazer essa merda, é só largar aí e ir embora." Isso resultou em breves xingamentos do tipo "babaca" e "metida". Depois disso tudo ficou meio estranho. Eu e Jungkook não estávamos mais nos entendendo. Cheguei a cogitar a ideia de não nos suportarmos mais. Parecia um martírio tanto para mim quanto para ele. Mal nos falávamos naquelas quartas-feiras. Apenas nos desgastávamos.

— Isso só pode ser castigo! O universo me odeia e está tentando de todas as formas possíveis me fazer surtar. — disse enquanto digitava um trecho do trabalho no meu notebook. — Essa ideia de sorteio foi a maior merda que o senhor Greene já inventou. Ele deve ter feito para me prejudicar!

— Meu Deus! Você não para de falar nunca? — ele disse naquele tom de voz irritado contido que me tirava do sério. — Sério, você não parou de falar por um segundo desde que chegou aqui.

— Pois eu vou continuar reclamando! — parei de digitar e olhei para ele, que imediatamente soltou o lápis e me olhou de volta. — Namjoon devia estar aqui. Esse trabalho é em trio, e eu estou cansada de ficar fazendo a parte dele. Isso não é certo! Aliás, o professor devia ter dado a opção da gente escolher nossos trios.

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