Capítulo especial - 50k CTF

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OBS: o capítulo faz menção a agressão física, uso abusivo de álcool e drogas e suicídio. 


[Jungkook]

O vento frio da noite parecia cortar a minha pele. Meus olhos embaçavam por causa das lágrimas e eu não conseguia enxergar nada a minha frente. Quanto mais eu chorava, mais eu acelerava a moto. Foi inevitável pensar no alivio que seria bater aquela moto e já cair desacordado. A vida não tinha nenhum sentido, era só um amontoado de dias triste e desesperadores.

O choro se intensificou quando lembrei da mão de Junghyun atingindo meu rosto em cheio. Por que eu sempre continuava o desapontando? Por que eu sempre continuava sendo o motivo dos problemas? Eu não queria ter falado todas aquelas coisas para ele, não queria ter batido nele, não queria que Lola tivesse visto, e não queria que papai estivesse tão bêbado ao ponto de não ter visto nada daquilo. Eu não queria tantas coisas e queria tantas outras. Por alguma razão me achava sem nenhum controle sobre qualquer mísera parte da minha vida.

Enxugo os olhos com a manga da minha jaqueta jeans, perdendo brevemente o controle da direção, mas retomo ao colocar as duas mãos no guidão.

"Qual a porra do seu problema?" A voz de Junghyun vociferou comigo, seu rosto de pele clara estava vermelho. "Você não pode fazer isso com ela. É a sua mãe!"

"Minha mãe porra nenhuma! Ela não é a minha mãe!" Eu devolvi o grito.

A briga inteira havia começado por causa daquela desgraçada. Já não bastava ter fodido a minha vida inteira, e ainda estava ali, como uma sanguessuga, a porra de um parasita, subtraindo tudo o que podia. Às vezes me perguntava qual era a porra do propósito dela nessa merda de vida. Era me destruir? Provavelmente. Ela conseguia fazer isso com excelência. Mas o que mais me matava por dentro era não ser capaz de odia-la. Eu não conseguia. Mesmo que tentasse. Eu só tinha raiva, cada mais raiva, mas não dela, de mim mesmo.

Talvez, de alguma forma, eu merecesse tudo aquilo, afinal de contas eu era o filho indesejado e problemático que havia trazido consigo, desde o nascimento, inúmeros problemas. Duvidava que alguém fosse capaz de me amar. Eu era um peso, um fardo pesado de um e oitenta de altura que as pessoas tinham que suportar porque era impossível ignorar. Pensava que em certo grau, apesar de tudo, Junghyun nutria algo por mim, mas aquele pensamento sempre se esvaia quando ele tipo de coisa acontecia.

Ele preferia ela a mim. Em certos momentos ele me odiava. Eu vivia trazendo problemas para a vida dele e isso por si só já justificava qualquer sentimento contrário que ele nutria por mim.

As lágrimas não paravam de cair. Eu podia prever o momento em que minha moto bateria.

"Ela é a sua mãe, sim! Você querendo ou não! E nada justifica você empurrar ela desse jeito!"

Foi a gota d'água para mim. Eu podia aguentar qualquer coisa, menos o que justificava minhas atitudes em relação a ela. Ninguém além de mim sabia o que eu sentia, ninguém além de mim sofreu o que eu sofri por causa dela, então ninguém tinha o direito de dizer o que justificava minhas atitudes ou não. Só eu sabia como era estar na minha pele e ter que lidar com ela.

"Vai se foder você e ela!" Gritei para ele.

"Jungkook." Junghyun avisou, ele estava no próprio limite.

"É isso mesmo! Vai se foder você e essa vagabunda que chama de mãe."

Em menos de cinco segundo senti a mão de Junghyun na minha cara, metendo um soco forte, me arrebentando inteiro. O impacto dos seus dedos em mim foi devastador. Como uma bomba atômica, destruiu tudo. Na pele a causa foi apenas um hematoma, mas por dentro... Ainda sentia a dor se alastrando pelos meus ossos, se entranhando em cada parte do meu ser, esmagando meu peito. Meu irmão era a pessoa que eu mais amava no mundo. Junghyun era a única pessoa que não podia sair da minha vida. E isso fazia dele uma bomba atômica para mim, porque quando as coisas iam mal entre nós dois, meu mundo ruía. Eu não podia existir em um mundo onde Junghyun não estivesse ao meu lado. E me feria, com dor de morte, quando ele agia daquela forma. Eu me sentira horrível, um miserável.

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