16 - A calmaria antes da tempestade

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Tem certeza que não quer matar aula pra ir lá pra casa? — ele me olhou nos olhos daquele jeito que me prendia, ardente, fixo, sem dúvida, como se estivesse vendo através do meu corpo. — Vai ser só nós dois, pode confiar em mim. A gente vai fazer tudo do seu jeito.

Não conseguia parar de pensar naquela frase. Estava me revirando o juízo. O jeito que ele segurou meu rosto, a forma como me beijou e mordeu minha boca. Jungkook me deixava entregue. Nunca conseguia raciocinar muito bem quando ele estava por perto. Quando ele me provocava daquele jeito, quando me instigava, era como se eu estivesse num rio e me deixasse levar pela correnteza. Mas sempre havia algo que me prendia. Eu seguia minhas vontades até certo ponto, minha mente tinha uns estalos que eram capazes de me fazer saltar no lugar. Quando pensei na possibilidade de transar com ele, meu cérebro travou. Simplesmente não consegui dar uma resposta. Não conseguia me ver fazendo aquilo, embora vontade não me faltasse.

Por um instante, entre o seu pedido e a minha resposta, imaginei como seria depois que a gente transasse. Eu sabia que seria inegavelmente gostoso, sabia do que ele era capaz, como me sentiria, sabia como enlouqueceria de prazer, mas o depois me assustava. Eu nunca tinha ido para casa de nenhum cara que tinha ficado, fiquei com medo dos pais aparecerem, fiquei com medo de alguém na faculdade ficar sabendo, fiquei com medo de sentir usada. Eu senti medo. Por alguma razão só senti medo. Não sabia se era por causa da minha inexperiência, dos meus traumas do único relacionamento que tive ou se era medo de descobrir que, talvez, ele não fosse aquele cara que me mostrava ser.

Sempre fui uma grande criadora de paranoias, então era fácil confundir o que era criação da minha cabeça e o que era fato. A verdade é que eu não conhecia Jungkook muito bem, e o fato dele ser um cara envolvente e legal comigo, não extinguia o que se sabia dele pelos corredores da faculdade. E quando o deixei naquela árvore e fui para minha aula pensei sobre aquilo. Como se o universo estivesse fazendo uma piadinha de mal gosto, ao ir ao banheiro após a aula, ouvi duas alunas conversando. E eu não consegui reagir.

— Conseguiu o número do Jungkook? — uma delas perguntou.

— Consegui com um amigo dele. — a outra respondeu, mas a voz dela não estava muito animada.

— Qual deles? O coreano?

— O nerd? — a garota perguntou rindo. — Não. Ele é meio estranho e quando eu disse que queria o número do Jungkook, ele disse que não podia me dar porque o Jungkook não tinha autorizado. Ah, tão irritante!

— Então com quem que você conseguiu?

— Com o loirinho do bocão. Fui num bar e aí ele estava lá cantando, então eu pedi o número do Jungkook e ele tava tão bêbado que me deu sem mais nem menos. — ela riu e a amiga também.

— E aí, mandou mensagem pra ele? — a outra perguntou animada.

— Mandei. — ela respondeu sem muito ânimo. — Mas ele não respondeu até hoje.

— Sério? — a surpresa na voz da garota foi tão nítida. — Mas vocês já não ficaram uma vez?

— Ficamos duas vezes. Já faz uns meses, mas ele sumiu depois.

Dentro da cabine do banheiro, senti o sangue fugir da minha face. Minhas mãos ficaram geladas e eu prendi a respiração.

— Sério? Que babaca! Por que ele fez isso?

— Sei lá. Ele é meio... — a garota pensou por um instante. — Ele é meio rude na forma de ser. Sei lá, não sei explicar. Ele é legal, me tratou bem, o sexo foi maravilhoso, mas eu não consegui sair dessa fase. Ele não me deixa prosseguir.

CatástrofeOnde histórias criam vida. Descubra agora