𝑭𝑨𝑰𝑹𝒀𝑻𝑨𝑳𝑬🦋 | • 𝓑𝓪𝓳𝓲 𝓚𝓮𝓲𝓼𝓾𝓴𝓮

•𝓒𝓪𝓹𝓲𝓽𝓾𝓵𝓸 I

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Ondas fervorosas e em abundância, como se descontassem todo e qualquer ódio a quem tentasse desvendar o que haveria de existir em seu tão precioso oceano, acertavam a superfície de madeira do pequenino barquinho que ousava atravessar até o seu destino. A tempestade era quase como um monstro, intensa, devorando tudo ao seu redor impiedosamente; No céu, o clarão de raios se chocando entre  nuvens camufladas na escuridão,

uma explosão de cores variando entre o violeta e o azul, acompanhadas de trovões estrondosos, ressoando a melodia do próprio purgatório. Qualquer pessoa humanamente instável estaria rezando para seus deuses nesse momento, implorando pela misericórdia de suas almas emergidas em pecados. Pecados estes profanos, as quais estas julgavam dignos de uma eternidade de sofrimento para pagá-los.

No entanto, naquele barquinho, sete pessoas tirando o homem que nos conduzia, enfrentavam seus maiores medos buscando uma vida pela qual foi lhes dada, seja por almejo próprio ou por circunstância. Eu, uma delas, encolhida em um canto, observava pela janela redonda e minúscula as ondas apunhalando a parte inferior, fazendo-nos mover frequentemente para frente e para trás em um movimento digno de ânsia. Com o capuz sob a minha cabeça, só conseguia pensar em como seria infernal na hora da saída-- se é que sobreviveríamos.

Ao meu redor, os outros seis dispostos individualmente roíam suas unhas em nervos, havia um em específico que parecia prestes a desmaiar, seus olhos redondos e azulados possuíam um assombro fora do comum embora tentasse permanecer na plenitude, era evidente o seu desespero; Outro, por sua vez, era o oposto, este tinha braços musculosos e pele bronzeada, uma marca típica e clichê em seu braço de âncora, um estereótipo pirata quase extinto o famoso "valentão"

desbravador dos sete mares, o tal do "Não mexam comigo, sou problema", mas que na verdade não passa de um novato que nunca pôs os pés em um navio

--- Deus nos ajude! -- um deles disse em voz alta, uma presa fácil para o valentão, o qual não demorou a exibir sua masculinidade

--- Fraco. Já está pedindo pra Deus? Acho que você tá no lugar errado, garotinho. Quer sôssego volte para a barra da saia da sua mãe

--- Você não deveria dizer isso, nem mesmo me conhece -- retrucou

--- Preciso conhecer?-- rolou os olhos e acariciou a barba -- Eles não vão aceitar alguém tão fraco na tripulação. DEUSES -- volta a zombar em uma risada alta -- Vocês, ovelhinhas obedientes, são uma raça deplorável, acreditam em qualquer merda que lhe dizem.

--- Qual é o seu problema? -- o rapaz segue defendendo a sua ideia enquanto segura uma pedra estranha entre seus dedos, um tipo de colar de alguma religião esquisita

--- Tenha fé no mar -- ele da de ombros -- Você todos! Ouçam! se querem estar entre os melhores, é melhor agirem como tais.

--- Ah, então é assim que os melhores agem? Imagine os piores -- murmuro sorrindo sarcasticamente comigo mesma enquanto traço com o dedo as linhas de costura sob o couro da minha bota

Minha capa cobre todo o meu corpo e pouco de mim é revelado, um tipo de casulo para situações emergenciais. Essa situação realmente me deixa desconfortável, sei que não deveria me meter, no entanto...

--- E você, ceifadorzinho? Também vai implorar para Deus salvar a sua alma? -- diz em tom de deboche

--- Nah! Eu prefiro passar vergonha fingindo que entendo tudo sobre o oceano e impressionar homens musculosos que nunca vi na vida -- satirizo -- é um meio de vida, entende?