•𝓒𝓪𝓹𝓲𝓽𝓾𝓵𝓸 VIII

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Já dentro do navio, com a luz eminente das chamas das velas baixas, me preparo para dormir.

A maioria dos tripulantes se encontravam em suas respectivas redes, menos eu e Takemichi, o qual também chegara atrasado por ter estado acompanhado do capitão, o vice e a dama por todo esse tempo:

--- Parece que o capitão gostou de mim -- ele diz desembaraçando seu cabelo com os dedos -- talvez eu fique

--- Também arrumei amigos -- sorrio empurrando a rede com um dos pés

--- Que bom que estamos nos dando bem, mas tenho a leve impressão de que só nós dois é quem vamos permanecer aqui, a maioria já desistiu

--- Quem diria? Pareciamos os mais fracos

--- Diga por você -- ele sorri -- Eu sou forte pra caramba

--- Ah, claro -- sorrio fechando os olhos

--- Enfim, estou morto -- ele se joga na rede e faz careta quando ela range -- espero que não ceda

--- Eu vou adorar rir de você

--- Que maldade! -- ele se vira fechando a rede como em um casulo

Quando vou fazer o mesmo, sinto um desconforto em meu quadril, enfio a mão no bolso e retiro o anel da imortalidade, o analiso bem diante dos meus olhos, a sua pedra parece brilhar e estar bem mais intensa do que quando a vi pela primeira vez

--- Anel da imortalidade né... -- sussurro para mim mesma-- qual a vantagem da imortalidade? -- Eu o coloco em meu dedo e este serve com exatidão -- talvez seja só um anel de mulher superestimado

Fecho a mão e me viro voltando a fechar também os olhos. Minha mente divaga em uma escuridão silenciosa, ouço minha respiração e sinto o corpo ficar cada vez mais leve, ainda consciente aguardo que o sono e o cansaço atinjam. 

Estou exausta e tudo parece confuso, um aperto repetino em minha garganta desperta a atenção, inicia com um leve incômodo que não é tão grave ao ponto de me fazer levantar, tento desviar a atenção da dor, no entanto...

O ar que antes entrava com leveza pelas minhas narinas começa a faltar, puxo com força tentando fazer com que  o corpo recupere o estado constante, entretanto não há volta, um peso é depositado, meu peito parece querer explodir em questão de segundos e a minha cabeça ser esmagada por uma força incontável

Assustada, coloco a mão sob a clavícula e abro os olhos, mas a situação é ainda pior, quando tento puxar pela boca, não entra oxigênio e sim água e em grande quantidade; A sinto queimar em meus pulmões, esta penetra embora eu tente lutar, estou engasgada, flutuando, não há mais rede ou navio, não há mais chão, nem mesmo ar, não há mais nada além de água. Estou dentro do mar, dentro do oceano.

Quando olho para cima, vejo a superfície, ergo as mãos buscando algo para me agarrar, mas estou sendo puxada pelo cansaço até o fundo, quero gritar e não consigo, não há voz, não há ajuda, não há ninguém, tudo é escuro, gélido, desesperador, estou morrendo sozinha e sentindo cada gota do oceano parar o meu coração, o desespero da solidão me cerca

Cenas passam pelos meus olhos, Takemichi está gritando e vejo tudo em câmera lenta, caindo e caindo, Storm está sorrindo e por um segundo é como se eu tivesse me jogado de algum lugar

"Não pule"
"Não pule"

Ouço vozes sussurrantes e dolorosas que passam pelos meus tímpanos como flechas

As bolhas de oxigênio escapam em frente a mim dando fim as cenas ousadas acompanhadas de pontos pretos que escurecem minha visão completamente.

Recuperando a consciência, levanto de uma vez em completo desespero como se tomasse controle do próprio corpo novamente, puxo o oxigênio e tusso com violência, meu coração está tão acelerado no peito que mal consigo respirar, Caio da rede para o chão de joelhos, punhos cerrados contra a superfície e olhos apertados, sinto meu pulmão aos poucos se estabilizar

𝑭𝑨𝑰𝑹𝒀𝑻𝑨𝑳𝑬🦋 | • 𝓑𝓪𝓳𝓲 𝓚𝓮𝓲𝓼𝓾𝓴𝓮Onde histórias criam vida. Descubra agora