•𝓒𝓪𝓹𝓲𝓽𝓾𝓵𝓸 XXXVIII

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  A dança transmite a verdade, os sentimentos obscuros e os pensamentos inseguros. Dançar reflete a arte, a cultura, a liberdade da alma, o saber dos sentidos, o qual lhe seduz ao melhor da vida, o cansar no limite dos corpos através de sua comunicação mútua e ao mesmo tempo ambígua ao seu universo.

Deixo meu corpo falar por si só, levado pela melodia que entorpece cada ânsia pela qual cresce em meu peito, de olhos fechados me entrego ao vazio da comunicação, girando e acompanhando o ritmo assim como as chamas de uma fogueira consumindo sua lenha, enfaíscando e incendiando suas dores, reduzindo todos os medos à meras cinzas suscetíveis ao tocar de uma brisa suave.

O soar dos tambores nos obriga a mudar de par cruzando as mãos e costurando entre si, a cada três pessoas, paramos e cumprimentamos com uma voltinha completa em volta do eixo. Aceleramos os passos à medida que os músicos exaltam a musicalidade, o meu sorriso não desaparece do rosto em momento algum, enlarguece ainda mais quando o próximo a pegar a minha mão é o meu moreno.

   Ele possuí os olhos mais belos daquele lugar, no entanto estão obscuros, vazios, irritadiços, tão propícios a uma explosão vulcânica quanto. Este emana a ira e a mágoa, nunca conheci alguém tão expressivamente disponível, quando nossas mãos se tocam, nossos olhares se cruzam fuzilantemente e o resto parece incendiar

Keisuke transmite desprezo quando um músculo ressalta em sua bochecha.

--- Você está radiante -- digo sorrindo, minha mão esquerda dobrada atrás das costas e a direita sujeita ao toque de seus dedos -- É contagiante

--- É incrível como você tem a capacidade de brincar com o fogo e com um maldito sorriso no rosto.

--- Digamos que eu já tenha me queimado nele -- sorrio ainda mais-- vamos, diga

--- Não há nada a ser dito -- ele continua os passos

--- Apesar de eu gostar de te ver irritado, ainda me incomoda quando não diz a verdade

--- Ah, então parece que você está a um passo de entender como me sinto.

Eu acho que sei o que fiz.

--- O que fiz dessa vez? -- torço os lábios em contradição

Ele se afasta e chega mais perto, seguindo o fluxo dos passos.

--- O que foi aquilo no jantar em casa? O que pretendeu dizer quando disse que amava alguém olhando para mim?

--- Eu... Eu olhei sem motivo em especial

--- Se é o que você diz -- nós trocamos de par. Ele toma para si a dama logo atrás de mim, uma camponesa muito bonita, cabelos longos e pele avelã, delicada, dentro de um vestido amarelo que ressalta suas curvas, esta utiliza uma coroa de flores em sua cabeça e não tira os olhos do mesmo através de um sorriso formoso

  Eu por outro lado, fico com uma senhora. Enquanto dançamos, eu os observo: O moreno segura delicadamente a mão da donzela que sorri em sua direção com ternura, eles repetem os passos com harmonia e em um gingado bonito, ela diz algo inaudível que lhe tira um sorrisinho tímido.

Uma onda fervorosa de calor cresce em meu peito e domina os vasos sanguíneos do meu corpo, posso sentir meus batimentos aumentarem, dando lugar a uma estranha sensação de alerta. Ele se aproxima da orelha dela e olha diretamente para mim, se diverte em parecer desejar que eu intervenha, me provocando. Engulo em seco, mas estou ficando trêmula

𝑭𝑨𝑰𝑹𝒀𝑻𝑨𝑳𝑬🦋 | • 𝓑𝓪𝓳𝓲 𝓚𝓮𝓲𝓼𝓾𝓴𝓮Onde histórias criam vida. Descubra agora