Capítulo 17

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"Bem, eu não sei o que isso será

Mas com meus olhos fechados tudo que vejo

É o céu, pela janela

A lua acima de você e as ruas abaixo

Prendo minha respiração quando você se aproxima

Saboreio seus lábios e sinto sua pele

Quando chega a hora, baby, não fuja

Apenas me beije devagar."

- Kiss Me Slowly – Parachute

Abri meus olhos um pouco desorientada e, por um momento, eu não fazia ideia de onde estava. Uma brisa fria gelava minhas costas onde o cobertor tinha se afastado e, devido a claridade e a persistente névoa do sono, levei alguns segundos para conseguir me situar. Meu rosto estava apoiado no peito de Carter e meu nariz enterrado no pequeno bolo de tecido que minha mão tinha feito em sua camiseta, fazendo com que eu absorvesse o cheiro daquela peculiar mistura amadeirada e cítrica que vinha da pele dele. Sua respiração era suave contra o meu cabelo e um de seus braços contornava a minha cintura com firmeza como se tivesse medo que eu fugisse dali. Eu não fazia ideia de que horas eram, mas eu me sentia descansada de uma maneira que não me sentia em muito tempo, como se um peso tivesse sido tirado de cima de mim. E foi apenas por isso que decidi curtir aquele pequeno momento de paz.

Levantei minha cabeça, tentando ao máximo não fazer movimentos bruscos e acordá-lo, e me permiti admirá-lo por um momento. Carter estava mergulhado em um sono profundo e a expressão em seu rosto era serena, quase como se ele estivesse em paz. Os cabelos escuros estavam caídos em sua testa de maneira desordenada e havia algo que quase parecia um sorriso em seus lábios. Os cílios espessos formavam uma sombra graciosa em seu rosto e eu podia ver as linhas brancas de pequenas cicatrizes espalhadas aqui e ali, marcando histórias a serem contadas e que possível nunca seriam. Seus lábios cheios estavam entreabertos, quase em um bico, e ele resmungava alguma coisa incompreensível na linguagem dos sonhos.

Eu invejava um pouco daquilo, porque meu sono sempre era tudo, menos tranquilo. Porém, ao mesmo tempo, vê-lo daquela forma era algo bom, porque me dava uma estranha sensação de segurança e bem-estar. Desviei o olhar de seu rosto após alguns instantes e me permiti apreciar o lugar onde estávamos à luz do dia. Agora que um pouco do sono tinha se dissipado eu podia notar que estava muito claro ali dentro, muito mais que o normal, e bastou que meus olhos se ajustassem um pouco mais àquela luminosidade ofuscante e olhar para o teto para entender o porquê. Estava nevando. Boa parte do teto estava coberta pela neve e pelas paredes era possível ver pequenos flocos caindo do lado de fora, uma quantidade considerável para provavelmente parar boa parte da cidade pelo resto do dia. Era uma bela visão para se ver ao acordar, ainda mais naquele lugar.

—Eu poderia me acostumar com uma vista assim. – sussurrou Carter com a voz levemente rouca pelo sono.

Virei meu rosto em sua direção e o encontrei com os olhos azuis semicerrados, tanto pela claridade quanto pelo sono, e um irresistível sorriso sonolento. Aquela também era uma vista com a qual eu poderia me acostumar.

—Com a visão do meu belo rosto ou com essa linda imagem de inverno? – brinquei.

—As duas. – respondeu fingindo seriedade, mas que o sorriso não deixava enganar. – Na verdade, ainda estou tentando decidir se isso não é um sonho.

Me estiquei um pouco mais em sua direção e dei um leve e demorado beijo em seus lábios.

—Bom dia. – sussurrei.

—Definitivamente eu estou sonhando. – falou me fazendo rir. – Não que eu me incomode, sabe, tudo está caminhando para um rumo aparentemente muito bom.

Legado de Sangue - Retaliação - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora