O QUE NOSSOS CORAÇÕES DESEJAM

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"Existem coisas que queremos, por baixo do que sabemos, por baixo até mesmo do que sentimos, existem coisas que nossas almas desejam, e a minha deseja você."

– Cassandra Clare – Cidade do Fogo Celestial

Mesmo que eu não comemorasse mais o Natal com o mesmo entusiasmo de antes, ainda havia algumas coisas nele que eu jamais iria deixar de admirar. As decorações eram um bom exemplo. Eu era simplesmente apaixonada por elas desde que era criança, tanto que, mesmo que todo ano decorássemos nossa casa do jeito mais natalino que pudéssemos, eu adorava andar pela cidade e ver as decorações que as pessoas tinham feito em suas casas, em suas lojas e até mesmo as que faziam todos os anos no centro da cidade. Eu gostava delas não pela comemoração em si, mas pela beleza, pela animação e a vida que pareciam proporcionar a todos os lugares onde estivessem. Era uma tradição da qual eu nunca abriria mão. Parada na soleira da porta do terraço e vendo a decoração que meus amigos tinham feito até mesmo ali, não pude conter um sorriso. Era como se com apenas um passo eu tivesse entrado em uma mistura de paraíso de inverno com um sonho de natal.

Cascatas de flores brancas estavam presas ao teto da pequena varanda de madeira, formando um túnel que levava da porta do terraço até uns três metros à frente onde começava o minijardim que tínhamos construído alguns anos atrás. Em meio a elas, como pequenos pontos luminosos, haviam diversas pequenas lanternas que forneciam uma luz dourada e suave para todo o ambiente. Os bancos de madeira, longe o suficiente da varanda para não terem cobertura, estavam ficando brancos pela neve que tinha começado a cair e os canteiros de flores, que agora mal tinham algumas folhas, pouco podiam ser vistos. Os sofás que ficavam sob a varanda estavam arrumados com almofadas vermelhas e douradas e havia pisca-piscas coloridos nas pilastras que estavam atrás deles, refletindo cores como um caleidoscópio pelo chão. Não era nada exagerado, mas naquele ambiente noturno, com as luzes e a neve que caia, aquele lugar parecia mágico.

E em meio a tudo aquilo estava Carter. Ele estava parado a não mais do que uns quatro metros de mim recostado no parapeito do terraço, os flocos de neve se derretendo em seu casaco e se enroscando em seu cabelo escuro enquanto seu olhar parecia estar perdido a milhares de quilômetros de distância dali. Estava tão distraído que mesmo o rangido da porta não pareceu alcança-lo. Encolhida contra o meu casaco para aplacar o vento gelado, comecei a me aproximar dele devagar, tomando todo o cuidado do mundo para não derrubar nenhuma das canecas que eu segurava.

—É uma visão linda, não é? – perguntei enquanto me aproximava.

Carter olhou por cima do ombro parecendo assustado, indicando que realmente não tinha ouvido a minha aproximação. Quando me reconheceu em meio as luzes da decoração, sorriu, um sorriso que era um misto de constrangimento e curiosidade.

—É sim. – respondeu e se virou novamente para a vista. – Eu sempre vejo essa cidade pela janela da minha sala, mas olhando daqui e com todas essas decorações, até parece que a cidade é mágica.

Eu sorri e me encostei ao seu lado estendendo uma das canecas em sua direção.

—Vai ver ela é mesmo. – falei dando de ombros. – Pode ser que nós é que nunca tenhamos notado.

Ele olhou desconfiado para a caneca que eu estendia e a pegou de maneira hesitante.

—Veio mesmo até aqui só para trazer chocolate quente para mim?

Revirei os olhos me sentindo um pouco constrangida.

—Você estava demorando e Samira e Jason não iam deixar nada para você. – justifiquei. – Além disso, eu faço um ótimo chocolate quente.

Me apoiei no parapeito e assoprei a fumaça que subia da minha caneca, desviando o olhar para a cidade em uma tentativa fraca de fugir de seu olhar. No entanto, ainda assim eu podia ver pela visão periférica o seu sorriso se ampliando enquanto notava meu desconforto.

Legado de Sangue - Retaliação - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora