Prólogo

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“—Hei amor, sei que você deve ter ficado um pouco brava por eu ter saído sem me despedir de você, mas eu não podia ficar esperando, o assunto é urgente. Comprei passagem para o primeiro voo que achei para Londres e estou indo para o aeroporto agora mesmo. A Nathalie precisa de mim e eu sei que você vai rir e dizer que estou louco por ela, mas... – ele riu e eu tinha certeza que estava passando a mão no cabelo. – Depois de uma coisa que eu vi hoje, acho que eu realmente não tenho mais como fugir do que estou sentindo. Como você mesma disse, ela é minha garota e agora mais do que nunca sei que meu lugar é ao lado dela. Como será que você consegue me ajudar mesmo quando não tem intenção de fazer isso? – ele riu novamente. – E como eu sei que você vai ficar preocupada querendo saber qual o assunto urgente que me vez sair voando daí literalmente, apenas falo para ficar calma e relaxar, assim que eu chegar lá e souber direito o que está acontecendo, ligo pra você.

“Bem, tem uma coisa que eu gostaria de ter conversado com você pessoalmente, mas como eu não sei quando vou poder voltar pra cidade, vai ter que ser por aqui mesmo. Sei que você vai negar e talvez preferisse até mesmo levar alguns tiros ou uma surra ao invés de admitir, mas não tem como fugir para sempre, Ky, ainda mais de sentimentos. Eu fiquei observando você e o Carter em todo o tempo que eu estava lá. Eu vi as trocas de olhares e a forma como ele ficou furioso quando viu aqueles caras se aproximando de você na pista de dança, também notei o quanto você fica à vontade com ele, o que não é fácil de acontecer. Você confia nele, mesmo que jamais admita isso. Eu pude ver por apenas um sorriso seu que está apaixonada por ele, porque a forma como você o olhava, nunca olhou para mais ninguém e eu sei bem disso. Tenho certeza que você está reprimindo isso e que sempre inventa uma desculpa para se afastar, fugir, mais uma coisa. Amar não é crime, Kyle. Sei que eu não conheço o Carter e nem posso opinar muito, também não culpo você por ser cautelosa depois de tudo o que passou, mas não deixe que essa cautela te impeça de viver tudo o que a vida tem a oferecer.

“Uma das pessoas que mais merece ser feliz nesse mundo é você. Então não tem problema você se deixar levar, mesmo que seja por poucos momentos. Você também é humana, tem direito a todas as regalias que a juventude pode te oferecer. Assim como falei para o Derek, que também é um grande cabeça dura, não deixe que essa vingança consuma você, não deixa que ela seja o único motivo da sua vida. Nossas famílias podem não ter partido por vontade própria, mas também não se sacrificaram para zelar pela nossa proteção para que ficássemos no mesmo ponto de onde eles pararam. Por algumas coisas vale a pena arriscar, mesmo que não tenhamos total certeza do que estamos fazendo. Acho que o estou fazendo nesse exato momento é isso. Eu não sei o que esperar quando chegar lá, nem mesmo sei se ela sente algo por mim, mas eu sei o que sinto e o que quero. E eu nunca vou saber se não tentar. Eu nem sempre vou estar por perto para cuidar de você, princesa, mesmo que eu tente e prometa. Nunca fomos para ser mais do que o que somos agora e eu soube disso desde o começo, mesmo tentando. Mas como seu melhor amigo, eu vi pra você o que é para ser, e Carter é o que a vida estava guardando pra você. Eu não posso dizer exatamente o que você tem que fazer, e caso você tente e por alguma bobeira ele parta seu coração, eu vou partir a cara dele com todo prazer, mas mesmo assim vou ficar feliz porque você tentou.

“Eu gostaria de poder falar mais, mas estou quase chegando em casa e preciso arrumar minhas coisas. Espero que essas palavras confusas possam ajudar você, nem sempre sou muito bom com elas. Conte comigo sempre que precisar, estou a uma ligação e a um voo de distância de você. Eu te amo, princesa. Até depois.”

Acho que aquela era a centésima vez que eu escutava aquele recado. Eu só fui vê-lo no dia seguinte ao velório, mas desde então eu o ouvia várias vezes, como se a cada vez que eu ouvia a voz de Morgan, pudesse sentir um pouquinho mais da presença dele comigo. Mesmo já fazendo duas semanas, nada daquilo parecia real, era como se ele ainda estivesse viajando e a qualquer momento fosse aparecer de surpresa na minha casa ou no estúdio, com um sorriso enorme e com uma de suas ideias malucas de me arrastar para alguma boate. Se não fosse pela lapide na minha frente com uma foto sua que eu mesma tinha tirado, poderia continuar falando aquela mentira para mim mesma. Talvez fosse por isso que eu ia ali a cada dois dias e me sentava no mesmo lugar, como se a lapide fosse o tapa que eu precisava para me manter na realidade.

Legado de Sangue - Retaliação - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora