Capítulo 16

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"Diga agora
Encontre uma maneira de dizer agora
Não tenha medo de dizer isso agora
Tudo o que nós estamos guardando por dentro

Não espere, apenas deixe seu coração falar
Não perca mais um batimento cardíaco
Porque nós nunca saberemos até que nós
Deixemos sair, deixemos sair..."

Say It Now – The Afters

Carter Montgomery

Kylie ficou olhando para mim em silêncio por um longo momento no qual pude ver perfeitamente quando ela juntou todas as peças, mergulhando nas lembranças nebulosas de anos atrás.

—Baile de máscaras de inverno na sede da Irmandade em 2013. – murmurou com o olhar perdido. – Eu lembro de estar muito irritada com meu pai por ele querer me obrigar a dançar com um garoto que eu odiava e que sai para tomar um ar. Meu vestido ficou enroscado em uma cerca e... – ela parou de falar, finalmente se dando conta da verdade, e me olhou com os olhos arregalados. – Você era o garoto que me ajudou?! – ela riu. – Meu Deus! É por isso que quando vi você naquele dia no meu estúdio, alguma coisa me incomodou, cutucou minha memória. As aparências mudam, mas os olhos não.

Sorri. Eu tinha demorado para me lembrar, mas ao conversar e conviver, ao pesquisar mais a fundo sobre ela, as memórias começaram a se tornar cada vez mais claras, como se tivessem acontecido a poucos dias. Naquele tempo, mesmo que eu não pudesse ver o seu rosto por causa da máscara, ela já era uma linda mulher. Não tinha a insegurança que uma garota de treze anos geralmente possuía, havia um fogo em seus olhos cinzentos que me chamou a atenção logo que os vi, fazendo com que eu parasse para ajudá-la mesmo sem saber porque. Ela já era impressionante naquele tempo, tanto que, mesmo sem saber que era ela, eu nunca tinha me esquecido daquela garota, passei até mesmo umas boas semanas após aquele baile tentando achá-la. O destino as vezes podia ser uma coisa bem curiosa.

—Ir embora de lá sem nem mesmo me dizer seu nome foi algo bem cruel, bonequinha. – falei sorrindo com diversão.

Ela fez uma expressão assustada tão engraçada que não me aguentei e ri. Não era fácil surpreende-la e apenas nessa meia hora de histórias trocadas ela já tinha arregalado os olhos um número impressionante de vezes. Desconcertada e ainda surpresa, ela deu um empurrão em meu peito, tomando cuidado com meu ombro machucado, fazendo com que eu afundasse de vez nas almofadas e risse ainda mais.

—Eu não acredito nisso! – falou alterada. – Agora me lembro do idiota que me deu esse apelido.

—Esse foi o gatilho para eu me lembrar. – expliquei ainda rindo. – Quando você ficou irritada por eu te chamar assim.

—Ainda não acredito que era você.

—Não acredita também que eu te dei o melhor primeiro beijo que uma garota poderia querer? – perguntei de maneira provocativa, não perdendo a oportunidade de brincar com ela. – E eu ainda acho que esse apelido combina muito com você.

—Primeiro, você é muito convencido. – falou revirando os olhos para mim, voltando a assumir uma postura que eu conhecia muito bem. – Segundo, não foi o meu primeiro beijo.

Sorri adorando ver o seu desconforto.

—Mas foi bom o suficiente para apagar o fracasso do primeiro, não foi? – retruquei. – Foi em um jogo da garrafa se não me engano. Nunca é uma boa experiência. Era meu dever mostrar a você a forma certa de fazer as coisas.

Kylie me lançou um olhar cético.

—Até parece. – falou chacoalhando a cabeça. – Erámos dois adolescentes irritados e cheios de hormônios com uma garrafa de vodka. Nem parece uma fórmula para um desastre.

Legado de Sangue - Retaliação - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora