Capítulo 15 - Eu quero... eu preciso de você

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Imediatamente após entrar no carro, Nedim pegou o celular e enviou a mensagem: Está feito! Aguardou a confirmação de recebimento e de leitura, que se seguiu a um breve Ok digitado pela pessoa do outro lado. Sabia que aquilo era uma loucura e que provavelmente não havia retorno possível para o que estava prestes a acontecer. Depois de tantos anos de convivência, conhecia Yaman bem o bastante para antever grande parte de seus passos e nenhuma das prováveis reações dele pareciam animadoras ou pacíficas. Ainda assim tentou se tranquilizar com a decisão tomada, convencendo-se de que, apesar de tudo, era o melhor a fazer nessa situação.

***

No dia seguinte, Seher sabia o que precisava fazer para concretizar a etapa inicial de seu plano. Na madrugada em que havia decidido organizar uma surpresa para o marido ainda estava bastante indecisa sobre o que fazer exatamente e até que ponto estava de fato disposta a ir. Era estranho pensar que depois de tanto tempo de casados ainda houvesse espaço para esse tipo de dúvida, mas o fato é que ainda travava uma batalha contra as próprias inseguranças. No entanto, depois de conversar com mãe Nadire se convenceu de que se já haviam experimentado o que havia de pior um no outro, então nada mais justo que aproveitar o quão bom também podiam ser juntos.

O primeiro passo era tirar Yaman de casa, então naquele dia ao acordar, enquanto ajudava o sobrinho a se vestir convenceu o marido de que eles é quem deveriam levar Yusuf à escola e depois aproveitariam para fazer compras para a casa. Ele pareceu surpreso, pois em todos esses dias em que estavam naquela residência Seher jamais havia manifestado o mínimo interesse em retornar à cidade, mas concordou sem titubear. Além disso, também teria que ir à empresa aquele dia, então aproveitaria a ocasião na companhia da esposa.

Yusuf, naturalmente, estava empolgado pela ideia de que os tios outra vez o levariam juntos para a escola e não parava de falar sobre isso no caminho, os olhinhos brilhando de expectativa e contentamento. 

- Veja, tia... – dizia o menino encantado apontando cada detalhe pelo caminho, como se o trilhasse pela primeira vez, animado pelo fato de que estava com os tios no carro e que agora podia compartilhar com eles as inúmeras descobertas que fazia todos os dias no percurso até a escola, o que para ele representava aos poucos a volta à normalidade da relação entre os tios.

Seher também estava animada, muito mais pela percepção de que havia algo pelo qual valia a pena lutar, mas também porque sabia que aquele seria mais um dia decisivo para eles. Durante o percurso, era inevitável pensar em tudo o que havia acontecido nos últimos tempos. De momentos em momentos trocava olhares com Yaman, ambos envolvidos naquela interação tão familiar entre os três e que quase havia se perdido. Não fazia tanto tempo assim desde que saíram da cidade, mas havia uma grande diferença entre a maneira que deixaram Istambul e a que retornavam agora. Seher, por exemplo, ao sair da mansão, estava convicta de que jamais confiaria naquele homem outra vez, mas eis que ali estava ela outra vez torcendo para que aquela fosse uma noite inesquecível.

***

- Foi incrível, teyze! – disse Yusuf, puxando a tia pela mão, enquanto saboreava um sorvete. – Eu estava com tanta saudade de passear com vocês! Quando poderemos voltar outra vez?

Naquele momento, o trio caminhava pelo parque depois de uma tarde em família, Yusuf entre Seher e Yaman, segurando as mãos de ambos.

- Em breve, querido – Seher disse apertando de leve a mão do sobrinho e olhando para o marido, recebendo um leve aceno em retribuição.

Mais cedo, enquanto Yusuf estava na escola, Yaman havia ido ao escritório resolver assuntos da empresa e Seher decidiu comprar alguns itens pessoais que preferia que ele não visse, ao menos não agora. Depois que pegaram o sobrinho, decidiram almoçar com ele e, mais tarde, passear no parque, como faziam nos velhos tempos. 

Por trás do seu olharOnde histórias criam vida. Descubra agora