Capítulo 7 - Qualquer lugar com você bastaria para mim

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Yaman parou de súbito ao ouvi-la murmurar. Sentiu-se um invasor, principalmente porque Seher parecia estar sonhando, mas uma parte dele se deliciava com aquela espécie de confissão. Olhou outra vez para o rosto dela, encantado com a serenidade que ela transmitia, bem diferente da aflição e daquela reticência que ele ultimamente via em seu olhar. Como senti sua falta! Se eu pudesse voltar atrás e desfazer as coisas que disse e fiz..., pensou aproveitando para saborear um pouco mais a sensação de tê-la ali tão próxima, amaldiçoando-se ao pensar que a situação poderia ser completamente diferente se não tivesse dito aquelas coisas.

Se pudesse, voltaria ao dia em que ela havia preparado a surpresa no iate e faria tudo diferente. Quem sabe assim em dias como este poderia acordá-la com um beijo... Com certeza deslizaria as mãos por suas costas, passaria o olhar por seu corpo vendo-a enrubescer naquela timidez que ele tanto amava. Depois, deixaria que seus toques percorressem o mesmo caminho que os olhos e a amaria com todo o seu corpo! Mas por enquanto teria que lidar com a punição de tê-la ali tão perto e não poder tocá-la. Quando se preparava para sair da cama, notou que ela se mexia. Antes que Seher abrisse os olhos, voltou a fechar as pálpebras, fingindo dormir.

Seher não saberia precisar quando, mas lentamente seu sonho foi invadido por um calor e uma solidez que lhe eram familiares. Allah... murmurou enquanto esfregava a bochecha naquele apoio firme. Que bom que ainda posso sonhar com ele, com seus toques, com a batida descompassada de seu coração... Batida descompassada de seu coração?!, Seher abriu os olhos sobressaltada. Não estava sonhando! Estava ali completamente enredada no corpo dele. Sentiu as bochechas queimarem ao olhar para o local onde a própria perna repousava e olhou para o rosto dele. Para seu alívio, ele dormia. Ou parecia dormir. Mas como explicar o coração dele aos saltos? Não, não, ele estava dormindo, com certeza ela tinha imaginado o detalhe das batidas.

Talvez fosse melhor conferir, pensou, erguendo a mão lentamente em direção ao peito dele, mas no meio do caminho desistiu. Era melhor não saber. Levando a mão ao colar como era de hábito, mordeu o próprio lábio enquanto agradecia pelo aparente sono pesado de Yaman, embora um fio de desconfiança teimasse em se infiltrar em sua mente. Felizmente Yusuf não os vira nesse estado, pensou enquanto saía da cama o mais silenciosamente que podia. Yusuf! Onde estava ele?

Saiu apressada procurando o menino e suspirou aliviada ao se deparar com ele na cozinha ao redor de um caos de ingredientes espalhados.

- Querido, o que houve? Por que está acordado tão cedo? Hoje você não tem aula...

- Tia! Queria fazer uma surpresa! Ia preparar o café da manhã para a senhora e o tio... - o pequeno disse animado.

Seher sorriu encantada com a doçura e a inocência de Yusuf enquanto explicava a ele os riscos de utilizar determinados utensílios da cozinha sem a supervisão de um adulto. Às vezes, queria que ele jamais perdesse essa inocência, essa brandura. Voltou a pensar em Yaman. Ao mesmo tempo que o marido ainda era arredio em certos aspectos, na maior parte dos últimos tempos havia sido um homem muito dedicado a desvendar-lhe os mínimos desejos num esforço constante para agradá-la. Seher sabia que às vezes ele colocava o próprio interesse em segundo plano para atendê-la. Mas isso não era era o suficiente para que um casamento se sustentasse.

***

Durante boa parte do dia, Seher evitou a presença de Yaman, desta vez porque sentia o rosto queimar ao lembrar do sonho que tivera e da forma como acordara. Ainda estavam bem vívidas em sua memória as cenas que na ocasião lhe pareceram tão reais. Era como se houvesse duas dela conflitando nesse momento: uma ainda se indignava e se assustava com as fragilidades de seu casamento; a outra desejava jogar tudo para o alto e terminar o que haviam começado em tantas vezes que foram interrompidos. Ah, se ele imaginasse...

Por trás do seu olharOnde histórias criam vida. Descubra agora