Capítulo 18 - Será que...?

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Ainda estavam sentados à mesa quando Seher ouviu o barulho da chegada de um carro. Provavelmente era Nedim, ela pensou enquanto se colocava de pé e fazia menção de ir até a porta para recebê-lo, mas Yaman a reteve pelo braço. Em seguida, sem dizer nada, vendou seus olhos com as próprias mãos e guiou-a até a porta da frente, enquanto Yusuf a levava pela mão.

- Como eu disse antes, temos nossos próprios planos para hoje – Yaman sussurrou em seu ouvido segundos antes de tirar as mãos de seus olhos, permitindo que ela enfim enxergasse o que a aguardava diante dela.

- Seher... – uma voz branda e suave elevou-se, chamando-a para si.

Diante de seus olhos, sua mãe Nadire a aguardava com os braços estendidos e os olhos marejados, sua imagem ainda mais aconchegante do que Seher podia se lembrar. Sem entender muita coisa, correu até ela e deixou que os braços de Nadire a envolvessem: 

- Nadire anne... – murmurou beijando as adoráveis bochechas daquela senhora.

Agarrou-se a ela, ainda temendo que fosse uma visão que logo se desvaneceria. Nesse momento, era como se houvesse se passado uma eternidade desde a última vez que havia visto mãe Nadire, e só então se deu conta de que suas lembranças sobre ela agora pareciam pálidas. Ou talvez essa impressão fosse causada pela saudade.

Em seus dias de angústia, muitas vezes desejou a presença daquela que sempre fora maior referência materna, especialmente por causa da morte de sua mãe biológica, mas estava acostumada com a própria solidão. Sim, sabia que por muito tempo fora, apesar de tudo, uma mulher solitária. Além disso, por mais amada que se sentisse hoje, ainda lhe faltava o aconchego de uma amiga, uma confidente, e, no momento, talvez sua mãe fosse o que mais se aproximasse de uma junção de todas essas figuras.

Ainda estava perdida no abraço materno quando sentiu Yusuf se aproximando, então as duas se separaram e mãe Nadire abraçou o menino também, encantada por vê-lo muito mais crescido do que esperava.

- Nadire anne, eu não entendo... como isso é possível? 

- Yaman... - mãe Nadire, apenas sorriu, acenando para ele, o que por si só respondia parte da pergunta de Seher. 

Yaman, por sua vez, apenas observava a cena, maravilhado com o amor que transbordava dos olhos da esposa quando esta o encarou, em um questionamento mudo. Como sentira falta do brilho daquelas esmeraldas que agora o fitavam como se, com a presença de mãe Nadire ali, ele tivesse lhe dado o mundo! Era o mesmo olhar que ela havia lhe dedicado quando, ainda antes que se casassem, ele havia reparado a fotografia da mãe biológica de Seher. Esse olhar, agora ele sabia, era não apenas o amor, mas de reconhecimento de se sentir amada através de um gesto tão repleto de significado para ela.

Após os cumprimentos iniciais, voltaram para dentro da casa enquanto compartilhavam notícias sobre o período em que as duas haviam se separado. Depois de algum tempo conversando, Yaman chamou Yusuf a pretexto de verificar uma suposta lição de casa do garoto e, acompanhado pelo sobrinho, se afastou para dar espaço para que elas conversassem entre si. 

- Temos tanto para conversar, minha filha... - disse mãe Nadire quando viu Yaman se distanciar. - Em todo esse tempo, tenho acompanhado notícias suas através de Firat, mas sei que há muito mais do que ele me diz. Vejo que muita coisa mudou entre você e Yaman...

- Estou bem, não se preocupe... 

- Seher, sei que você sempre tentou lidar sozinha com seus problemas, mas estou aqui porque quero que você entenda que não é necessário enfrentar tudo sozinha, seja o que for...

Por alguns instantes, Seher apenas assentiu, incapaz de dizer qualquer coisa. Era uma benção ter a mãe ali, mas, de fato, desde muito cedo estava acostumada a enfrentar a vida praticamente sozinha, principalmente após a partida de seu pai. Havia sido assim desde o princípio: enfrentara calada a fúria de Yaman logo que o conheceu. É verdade que sentia falta de alguém com quem pudesse falar sobre tudo isso, mas, ao mesmo tempo, não era simples abrir seu coração e despejar tudo o que vinha guardando há tanto tempo.

Por trás do seu olharOnde histórias criam vida. Descubra agora