Capítulo 8 - Não voltarei a romper seu coração

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Ficaram assim por alguns instantes: Yaman, surpreso, saboreando a carícia inesperada; Seher ansiosa com o coração aos saltos e os dedos trêmulos desejando que ele abrisse os olhos e vencesse a distância entre ambos. Mesmo sabendo que ficaria mortificada depois, Seher, temendo que ele não tomasse nenhuma iniciativa nesse momento, se aproximou e depositou um beijo suave no canto de seus lábios, deleitando-se com o contato, sentindo o corpo inteiro formigar. Estou enlouquecendo, pensou enquanto tentava se afastar, mas Yaman pegou-a pela cintura e achegou-se a ela outra vez, encostando a testa à dela. Sequer haviam se beijado e estavam naquele estado, trêmulos e ofegantes como dois adolescentes, ele constatou.

- Eu... - ouviu-a dizer, a voz dela denunciando o constrangimento após a iniciativa tímida. 

Abriu os olhos quando sentiu que ela se afastaria, segurou-a pela cintura e aproximou-se, encostando as testas uma a outra. Agora ela é quem estava de olhos fechados, as bochechas em chamas. Como era linda sua Seher...

Ficou muito surpreso quando instantes antes Seher tocou suas mãos e depois sua face, e mais ainda quando sentiu o beijo casto, mas que incendiou cada célula de seu corpo. Sabia o quanto ela estava confusa e só por isso não a beijaria ali com toda a vontade que estava sentindo. Além disso, percebeu que a menção a sua infância difícil havia tocado o coração dela, mas não queria que ela tomasse nenhuma atitude com base nesse sentimento. Seria muito baixo se aproveitar desse momento de fragilidade e não queria que ela se arrependesse depois... Mas não era nobre o suficiente para não tentar abraça-la, pensou, enquanto envolvia o corpo dela em seus braços.

Seher aos poucos relaxou naquele abraço, permitindo-se desfrutar do abrigo que ele era. Ali estava seu Yaman. Seu coração estava a mil enquanto pensava nas palavras dele. De fato, ouvir uma vez mais sobre as dificuldades pelas quais ele passara na infância havia tocado seu coração, mas não foi isso o que mais a afetou na conversa. A admissão do medo dele, o fato de ele abrir o coração e pedir que tentassem viver no tempo combinado o que não viveram antes haviam sido sua perdição, porque ela também desejava isso. Mas assim como ele tinha medo, embora não das mesmas coisas. 

 Antes que pudessem continuar com a conversa, foram surpreendidos pela presença de Yusuf, que entrou no quarto, ainda sonolento:

- Tia, eu estava te procurando...

***

Já era noite, tinham feito a última refeição e se preparavam para dormir. Depois que foram interrompidos por Yusuf não tiveram oportunidade de terminar a conversa, então Yaman tinha decidido dar espaço para que ela pensasse e aguardava uma resposta. Como ela não havia dito nada ainda, se encaminhou para o quarto para pegar um pijama, travesseiro e cobertor para dormir na sala. Estava no meio do corredor quando Yusuf veio ao seu encontro:

- Tio, estamos esperando por você...

- Pasha, esta noite...

- Minha tia disse para te chamar para nos contar uma história. - o pequeno já o puxava pela mão em direção ao quarto.

Ao chegar lá, deparou-se com a esposa andando de um lado para o outro como costumava fazer quando estava ansiosa, as mãos retorcidas uma na outra denunciando o nervosismo. 

- Eh... Yusuf ainda estava um pouco assustado com o que aconteceu ontem e queria ouvir uma história antes de dormir, então achei que sua presença aqui seria reconfortante para ele. - ela sussurrou, embora o rubor de sua face denunciasse que não era isso o que havia acontecido.

- Ah, sim... - fingiu acreditar, tentando processar o que estava acontecendo. O que isso significava? Era um sim? Resolveu testar um pouco a própria sorte: - Mas você não vai ficar desconfortável? - sussurrou de volta.

Por trás do seu olharOnde histórias criam vida. Descubra agora