Capítulo 19 - Como eu poderia viver sem você?

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Antes, porém, que seu corpo atingisse o piso, sentiu os braços de Yaman se firmando em sua cintura, amparando-a, o olhar denotando toda a surpresa dele em percebê-la ali. Embora Seher ainda estivesse consciente, seu corpo não responderia a qualquer comando, então deixou que ele a erguesse no colo e a levasse até o sofá, onde permaneceu de pálpebras cerradas, a garganta apertada. Aos poucos foi recobrando o controle sobre si, até que enfim conseguiu abrir os olhos, esperando que o mundo desabasse sobre ela, mas o que encontrou foi o rosto aflito dele pairando a milímetros do seu, o semblante carregado de preocupação.

- Você está bem? O que houve? Como se sente? - ele indagou, deslizando as mãos por seu rosto, cabelo e pescoço, tateando a esmo, como se nem bem soubesse o que procurava.

Seher olhou ao redor e percebeu o telefone dele largado sobre a mesa, folhas e estilhaços espalhados pelo recinto, uma amostra de que algo havia acontecido para que Yaman se enfurecesse. Apertou os olhos um instante, incapaz de continuar olhando para ele e tentando imaginar a razão para aquela desordem. Só então se deu conta de que Yaman parecia muitas coisas nesse momento, mas enfurecido não era uma delas. Talvez nada daquilo fosse sobre ela... 

- Estou bem... - murmurou, abrindo os olhos lentamente outra vez. 

A mão dele continuava pousada em seu rosto, agora numa carícia lenta enquanto os olhos tentavam decifrar por trás das palavras dela. Não queria que Yaman questionasse seu estado de saúde nem as razões para o que havia acontecido, então estendeu a mão até o rosto dele e, com afeto, percorreu a pele de sua face, externando sua preocupação em forma de uma pergunta que escondia o que ela realmente queria saber.

- O que houve? - olhou ao redor.

- Não se preocupe, não é nada. Precisamos falar sobre seu estado. Talvez com a visita de mãe Nadire você não tenha se alimentado o suficiente, então vou pedir a Neslihan que prepare algo para que você restabeleça suas forças antes de irmos para casa... - ele disse, fazendo menção de sair, mas Seher o manteve ali.

- Não é necessário. Estou bem... 

Sentou-se no sofá e observou que ele acompanhava cada gesto seu com o cenho franzido, como se ainda não acreditasse que ela realmente estava bem. Viu então quando ele se ergueu outra vez para sair, mas, mesmo que sua força fosse ínfima comparada à dele, também se pôs de pé numa tentativa de mantê-lo ali a seu lado, sem entender completamente a própria reação e a necessidade que sentia dele. Como poderia explicar a ele que nesse momento, o que precisava para estar bem era tê-lo ali perto? Como poderia dizer que depois do medo de instantes antes, precisava, mais do que nunca, do calor dele? 

- Não vá, por favor... - pediu.

- Não se preocupe, volto logo. Preciso providenciar...

- Tenho tudo o que preciso para estar bem... - ela insistiu.

Yaman hesitou brevemente, então se aproximou um pouco mais, dessa vez tomando-a em um abraço apertado, encaixando o corpo esguio no seu. Sabia que havia algo errado, embora Seher se recusasse a dizer. Por mais que tenha tentado evitar pensar nisso, há dias pressentia que ela escondia algo. Imaginava que fosse a surpresa, mas, mesmo depois da noite anterior, o comportamento dela mostrava que havia algo além disso. Quando sentiu que Seher relaxava em seu abraço, descansou o queixo em sua cabeça e suspirou.

- Você sabe que podemos conversar sobre qualquer coisa, certo? - disse, afastando-se um pouco para olhar para ela, mas Seher escondeu-se ainda mais em seu peito. Pegou o queixo dela entre as mãos e percebeu os olhos brilhando, mas desta vez pela umidade das lágrimas que haviam corrido pelo rosto dela.

- Diga, Seher... você confia em mim? 

Os olhos dela marejaram outra vez, então Yaman decidiu não insistir no assunto. Fosse o que fosse, ela ainda estava ali em seus braços e isso bastava por enquanto, pois enquanto estivessem juntos, superariam qualquer coisa. Talvez estivesse interpretando errado e a reação dela fosse fruto do conjunto de todos os eventos do dia... de qualquer modo, sabia que pressioná-la não era a resposta para conseguir que ela falasse do que a angustiava. Abraçou-a outra vez enquanto sussurrava:

- Não há nada nesse mundo que eu não faça por você.

Seher torceu para que ele não dissesse mais nada. Só queria estar ali com ele, então quando Yaman voltou a ficar em silêncio, suspirou de alívio. Estava enganada, ele não sabia ainda, o que significava que talvez pudesse desistir ainda. No fim das contas, confiava nele. Ficaram assim por algum tempo, até que ela foi aos poucos se tornando consciente do movimento das mãos dele em suas costas, percorrendo seu corpo em movimentos constantes e aparentemente inconscientes que quase alcançavam seu bumbum. 

Ergueu levemente a cabeça, ainda de pálpebras fechadas, permitindo que parte de seu rosto alcançasse o queixo dele, coberto pela barba espessa que ela tanto amava, então roçou a pele contra ele, saboreando o contato e sentindo a respiração dele pesar à medida que se tornava consciente do corpo dela colado ao seu. Uma das mãos foi em direção ao lugar em que o coração dele batia, agora descompassado, enquanto a outra o trazia um pouco mais para perto, os dedos explorando a pele alva do pescoço logo acima da gola da camisa dele.

- Seher... - ele disse em um gemido rouco, segurando-a numa tentativa de interromper o gesto.

- Perdão, eu... - Seher gaguejou, corando violentamente ao se dar conta de como parecia nesse momento. - Eu não quis...

- Não se desculpe, por favor. Mas se você continuar, posso esquecer que há pouco você estava mal e perder o controle... - ele explicou ao ver o constrangimento estampado na face dela.

- Eu... - ela começou, o rosto ainda mais vermelho entendendo precisamente o que ele queria dizer. Podia se afastar, então iriam para casa e esqueceriam aquilo, mas não era o que ela queria no momento. - Eu quero que perca - disse, por fim.

Surpreso, Yaman então baixou o rosto até o da esposa e, sem demora, deslizou os lábios sobre os dela em movimentos suaves, testando a receptividade e, em seguida, invadindo sua boca em um beijo faminto, possessivo e saudoso. Não fazia nem 24 horas desde que haviam se entregado um ao outro, mas para ele era quase a eternidade. Ao sentir que ela retribuía, se afastou apenas para trancar a porta do escritório e depois retornou até onde a esposa o aguardava com as bochechas e o colo em chamas, mas, além da timidez, a face dela estampava o desejo que a consumia também. 

Tomou-a em seus braços outra vez, forçando-se a manter o mínimo de lucidez. No entanto, ao sentir que ela o puxava pelo pescoço, perdeu o controle e segurou-a com mais firmeza, permitindo que ela sentisse o quanto era desejada nesse momento. Com um gemido baixo, Seher se apertou ainda mais contra ele, completamente entregue, e levou as mãos ao peito amplo, deslizando até encontrar os botões da camisa dele. Com mãos trêmulas, abriu os primeiros botões.

Ao que parecia, comunicação não seria problema para eles nesse momento, pois Yaman, ao ver que ela esperava que ele abrisse a camisa, afastou-se apenas o suficiente para abrir o restante da peça e desnudou o peito ante o olhar atento de Seher, que queimava a cada centímetro de pele descoberta. Soube naquele momento que morreria por aquele olhar deslizando sobre seu corpo...

Aproximou-se outra vez e ergueu-a nos braços, levando-a para o quarto. Ao chegar lá, colocou-a em pé outra vez e tomou-a novamente nos braços, os beijos agora muito mais vorazes do que antes. Em resposta, sentia os dedos dela percorrendo seu peito e depois suas costas, como se quisesse memorizar cada traço de sua pele. Colocou a mão entre os corpos para remover a blusa e o sutiã dela, maravilhando-se com a visão dos seios pequenos e firmes e, num ímpeto, levou o rosto até aquela parte do corpo, ansioso pelo cheiro e pelo gosto da pele dela e pelo sabor do sons que ela emitiria com o contato. 

Nenhum dos dois se sustentaria em pé por muito mais tempo, então Yaman levou-a até a cama que ainda guardava memórias do desejo por tanto tempo contido entre eles. Num ato simbólico, depositou-a com ternura sobre a colcha cinza e removeu o restante das roupas de ambos. Em pouco tempo, eram novamente um, embalados por promessas que só os corpos decifrariam. Quando enfim se acalmaram outra vez, saciados, permaneceram nos braços um do outro, totalmente alheios ao que se passava do lado de fora daquele paraíso particular. As pálpebras pesavam quando ele ouviu o sussurro: 

- Como eu poderia viver sem você?

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