Eu nunca entendi muito bem o que todos queriam dizer quando falavam no depois. Depois eu faço, depois eu vou, depois eu vejo. Ah é sempre o depois! O que eu entendo por depois? Depois fica a saudade. Depois é sempre tarde demais.
Minha vida deu uma guinada alucinante e até agora estou completamente perdida, no tempo, em pensamentos, em memórias.
Minha mãe sempre batalhou pra sustentar nossa pequena família. Quando meu pai nos deixou do nada anos atrás sem qualquer aviso ou motivo aparente, ficamos somente eu e ela, todos os dias ela acordava muito cedo para me deixar na escola e ir para o trabalho. Não tirava férias, nem folgas, trabalhava doente se isso fosse render horas extras no final do mês.
Mamãe passou por muitas dificuldades ao longo da vida, mas nunca tirou o sorriso do rosto. Brincava com todos os clientes no pequeno café em que trabalhava. E quando alguém aparecia triste ou cabisbaixo, ela desenhava um emoji no copo de café e escrevia alguma frase motivacional que só ela conhecia, normalmente era alguma besteira que ela inventava para que a pessoa sorrisse pelo menos um pouco.
Ela era luz por onde passava. Todos a amavam. E como não amar? Com seus cabelos loiros, olhos verdes amorosos, boca carnuda e covinhas? Ela era linda, carinhosa, amorosa e muito incrível. Todos falam que sou a copia dela, mas só se for à aparência, nossas personalidades são completamente diferentes. Ela toda extrovertida e brilhante, eu já sou quieta, tímida, esquentada e totalmente fechada.
Enquanto ela gostava de socializar com as pessoas, eu gosto de ficar sozinha em um canto, com um bom livro me perdendo em histórias e mais histórias, tanto faz que tema fosse fantasia, romance e até mesmo alguma história mais caliente, não que eu tenha alguma experiência nesse assunto, mas gosto de ler sobre como as pessoas se sentem quando são tocadas e amadas com tanta intimidade.
Acho que sou assim, porque ela era todo o resto que falta em mim. Sim era. Minha mãe morreu á três dias. Não a palavras que me descrevam agora, talvez nenhum adjetivo consiga explicar o que sinto nesse momento. Os dias amanhecem mais tristes, nublados, nem o sol tem forças para brilhar. Ela se foi e com ela todo brilho, toda a vida, todo esplendor que nos rodeava.
Ainda consigo sentir sua pele gelada, ver seu rosto sereno ali deitada naquele caixão frio. Seus olhos fechados que nunca mais iam olhar pra mim transmitindo todo aquele amor e compaixão que só ela podia demostrar. Seus lábios pressionados firmes, que nunca mais iam me dizer eu te amo ou conversar sobre qualquer assunto sério, bobo ou sorrir, aquele lindo sorriso dela. As pessoas iam e vinham me desejando condolências, dizendo que com o tempo ia restar somente a saudade. Mas a saudade dói, destroça, desfaz.
Minha mãe morreu de câncer. Câncer esse que nunca fui informada. Ou talvez não quisesse enxergar ela doente, já que me lembro das noites em que ela dizia que estava indisposta por ter trabalhado muito naquele dia e queria só deitar e dormir. Das vezes que ela me deixava com a vizinha porque teria que fazer um turno extra até mais tarde, mas ao invés disso, ia ao hospital fazer quimioterapia. Minha vizinha Lothi sentou comigo depois que me encontrou gritando em casa pedindo ajuda e detectaram que ela já tinha partido. Contou-me tudo e se já doía antes, depois disso não da para descrever a sensação que sinto.
Conhecemos Lothi e a família assim que nos mudamos para a cidade de São Francisco na Califórnia. Dizer que ficamos encantadas com toda a recepção que tivemos é eufemismo. Lothi foi super gentil em nos mostrar como bons vizinhos devem ser. Ajudou-nos na mudança sem ao menos nos conhecer, nos fez refeições e chorou com a minha mãe pela desilusão amorosa com meu pai. Lothi sempre disse que quem perdeu foi ele, pois éramos uma dupla incrível e que ele deveria lamentar todos os dias nossa perda.
Lothi e Adam seu esposo tem dois filhos, uma menina da minha idade, a Nick e um garotinho de um ano e meio coisa mais fofa do mundo o Pool.
Todos os dias depois que nós nos conhecemos brincávamos no quintal de nossas casas. Adam fez uma casa na árvore no quintal deles e era lá que passávamos a maioria do nosso tempo enquanto crescíamos, brincando, estudando e contando nossos segredos. Nick é toda doida e eu sou a tímida, então formamos uma boa dupla.
Com o passar dos dias nossa amizade se fortaleceu, íamos à mesma escola, na mesma sala de aula e como Nick fazia artes marciais, minha mãe me matriculou no mesmo horário e na mesma unidade que Nick frequentava. Somos carne e unha e combinamos de permanecermos assim pra sempre.
Assim pensávamos, até hoje, o dia em que minha tia Susan veio me buscar para morar com ela e sua família que não conheço em Miami na Flórida. Ficando assim a 4 mil km de distancia de Nick minha única e verdadeira amiga.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Nas cordas do Destino
RomanceNão saber o que nos espera, nem o que devemos seguir, faz qualquer um ficar louco! E se no meio de tantos talvez e serás que a vida coloca no nosso caminho, não tivermos a opção de escolha e sermos obrigados a viver conforme as cordas do nosso desti...