No final da aula me dirigi ao estacionamento, esqueci-me de perguntar á tia Susan se teria carona com ela para casa, já que foi ela quem me trouxe. Mas depois de passar uns minutos aqui esperando, percebi que talvez ela ache que vou voltar com um dos gêmeos. O que aparentemente também não vai ser possível, já que não os vejo em parte alguma.
- Ei Hanna, está esperando alguém? - Emily perguntou ao passar por mim.
- Minha carona, mas acho que me esqueci de combinar com a tia Susan como isso ia acontecer - respondi sem graça.
- Vem comigo, eu te levo. Moro próximo à mansão dos Willians.
- Perto de quem?
- Seus tios, bobinha. – disse ela rindo da minha expressão. - Vejo que realmente não mentiu quando disse que não os conhecia. Como você viveu tanto tempo sem nem ao menos saber o sobrenome deles?
- Longa história, longa história - respondi rindo.
Emily dirigia um carro vermelho todo esportivo que não identifiquei a marca. Era lindo e confortável. Deslizava pela pista sem fazer barulho algum. E a nossa volta pra casa foi feita conversando sobre o que achei do meu primeiro dia, da escola e das pessoas que ali estudavam. Dizer que meu frio na barriga, medo e desespero sumiram não condizia com a minha personalidade de falar o que passava na minha cabeça então fui logo dizendo tudo a ela.
- Calma, mulher foi só seu primeiro dia. Logo você se acostuma com toda essa mudança. - Quisera eu que ela estivesse certa.
Emily morava no início da rua arborizada dos meus tios, em uma mansão linda e imponente. Quando comentei sobre isso, ela ficou sem graça.
- O dinheiro da minha família não muda quem eu sou ou o que penso. Nada vai me fazer superior a ninguém - respondeu ela com uma voz mais séria. - Aprendi muitas coisas frequentando nossa escola e com o passar dos dias você vai entender melhor o que eu digo. – Continuou ela.
E com isso toda enxurrada de emoções que senti de manhã voltaram com carga total. O que será que ela quis dizer com isso?
Chegar em casa não me trouxe qualquer alívio. Queria tanto um abraço da minha mãe, seu carinho, sua voz me dizendo que tudo ficaria bem. Mas sabia que não seria possível, soltei um suspiro e entrei pela porta da frente, fui direto para o meu quarto sem fazer qualquer barulho ou chamar atenção de nenhum empregado. Meu quarto era meu porto seguro, ninguém entraria aqui sem que eu autorizasse, ia me certificar disso, nem que precisasse trancar a porta todos os dias. Precisava desse refúgio para me esconder e me proteger.
Todo esse rosa me dava dor de cabeça. Mas como mudar isso sem ferir os sentimentos da tia Susan? Tirei meu uniforme e fui tomar um banho. Ainda precisava sair e comprar um chip novo para o meu velho celular, funcionava bem, então teria que servir por mais tempo. Porque não perguntei á Emily se não me levava a uma loja qualquer nas proximidades. Não conheço nada aqui. Amanhã verei isso com ela logo que chegar à escola. Um tremor desceu pelo meu corpo todo só de lembrar da escola e que tenho que voltar para lá. Deitei em minha cama extra macia e apaguei de tão cansada que estava. Acordei num salto com a batida na minha porta.
- Quem é? - Perguntei me sentindo fora do ar.
- Sou eu Hanna. O Jantar já vai ser servido, não sabia se estava em casa ou não. Não a vi chegar em casa mais cedo - respondeu Martha do corredor. Corri abrir a porta pra ela. Ainda estava com meu roupão rosa felpudo e toalha nos cabelos.
- Desculpe Martha, dia longo. Cheguei, tomei banho e cochilei de tão cansada. - Ela sorriu assentindo.
- Quer que eu guarde um pratinho pra você no forno? Assim você tem tempo de se arrumar com calma, sem correria.
- Você é um anjo Martha. Agradeço se fizer isso por mim. Mais tarde eu desço para comer. Obrigada.
- Sempre que quiser menina, sempre que quiser - respondeu ela carinhosamente se afastando da porta.
Fechei minha porta e fui ao banheiro para ver o estado do meu cabelo que secou enrolado na toalha. Catastrófico devo dizer. Ri para mim mesma da bola emaranhada de nós que ficou. Peguei um dos cremes de pentear que tia Susan comprou pra mim e com as mãos molhadas com água e creme comecei a desembaraçar os fios a ponto de passar a escova neles sem quebrá-los por inteiro. Depois de escová-lo, fui até meu closet atrás de uma roupa confortável para usar. Achei uma calça legging preta que tenho há muito tempo que adoro e um blusão que muitas vezes uso para dormir.
Depois de pronta, prendi meu cabelo em um coque solto no topo da cabeça e me sentei em frente à minha escrivaninha para fazer alguma tarefa de casa. As matérias são difíceis por si só, deixar as tarefas por fazer não vai me ajudar em nada. Abri meu notebook para fazer algumas pesquisas e também abrir minhas redes sociais para ver se a Nick me respondeu. Ela estava online em frangalhos esperando que eu entrasse para contar tudo a ela.
Nick: Menina conta tudo. Quero saber tudo sobre à casa nova, seus tios e primos, sua escola e se tem muitos gatinhos. Louca pra ir te visitar. Morrendo de saudades amiga.
Hanna: Também estou morrendo de saudades, amiga. Não vejo a hora de ver vocês novamente pessoalmente, toda essa distância não está ajudando.
Nick: Calma amiga, tudo vai dar certo no final. Agora me conta tudo.
E assim ficamos pelas próximas duas horas, conversando e fofocando, contei tudo sobre tudo que vivi até agora, dos meus medos e inseguranças. Da hostilidade do Tyler e do carinho dos meus tios. Falei sobre Mia e sobre a Emily e suas amigas. Rimos muito do meu quarto vômito de unicórnio e choramos de saudades. Combinamos de conversar todos os dias sempre que possível. E ela me mandou comprar um chip logo porque é muito chato passar um dia inteiro sem falar comigo nem que seja por mensagem de texto. No final nos despedimos dizendo eu te amo e meu coração aqueceu um pouquinho com essa normalidade que a conversa com Nick me trouxe.
Meu estômago roncou enquanto estava aqui sentada olhando para as paredes depois de desconectar a conversa com a Nick. Fiquei tão entretida que me esqueci de que ainda não havia comido nada desde o almoço na escola. Abri a porta do meu quarto e todo corredor estava escuro e vazio. A luz que vinha do andar de baixo iluminava o suficiente para andar sem esbarrar em nada. Desci as escadas no mais profundo silêncio. Não queria acordar ninguém caso já estivessem dormindo. O que duvido, pois não é tão tarde. Quando cheguei á cozinha uma luz na despensa estava ligada e assim foi fácil achar o interruptor de energia da cozinha. E quando acendeu até cega fiquei. Porque luzes tão fortes por aqui?
Como prometido por Martha, no forno estava um pato de comida feito embalado com meu nome em cima. Um amor essa Martha. Aqueci meu jantar no micro-ondas e me sentei na banqueta da ilha da cozinha para comer. A comida como da primeira vez estava deliciosa e acabei com tudo rapidamente. Enquanto lavava meu prato escutei um barulho de porta de carro batendo e fiquei tensa de estar fora do meu casulo de segurança, o meu quarto. Não queria socializar com ninguém, então rapidamente sequei minhas mãos e corri escada à cima. Fechando a porta atrás de mim encostei-me a ela pra tentar ouvir alguma coisa, não precisei esperar tanto tempo, ouvi passos pesados chegando próximos á minha porta e logo um som de porta abrindo e fechando. Não sei o porque de ter corrido, não sei porque me sentia fazendo algo errado. Essa casa não era minha e nesse momento me sentia um peixe fora d'água como se tivesse feito algo errado. Saindo dos meus devaneios, fui fazer minha higiene pessoal para dormir. Um novo dia me esperava e isso ainda me apavorava.
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Nas cordas do Destino
RomanceNão saber o que nos espera, nem o que devemos seguir, faz qualquer um ficar louco! E se no meio de tantos talvez e serás que a vida coloca no nosso caminho, não tivermos a opção de escolha e sermos obrigados a viver conforme as cordas do nosso desti...