Capítulo 26

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Minha queda foi rápida, mas o impacto com a água foi incrivelmente doloroso. Minhas pernas arderam, meu tronco travou, meus pés não chegaram a bater no fundo, por um momento eu só fiquei lá, parada sentindo a dor do mergulho, mas meus pulmões gritaram e imploraram por ar, dando impulso com minhas pernas doloridas eu submergi na água. Comecei a tossir descontrolavelmente, comecei a girar e procurar pela borda, a queda d'água era muito forte e me levava para a beirada onde a água descia pela cachoeira seguinte. Comecei a nadar para a lateral em que eu estava quando pulei, eram muitas pedras, era difícil me segurar, cortei minha mão direita, mas consegui subir em cima da primeira pedra, agora só precisava subir mais umas vinte até conseguir chegar em terra firme.

Após alguns arranhões e cortes que insistiam em sangrar, cheguei a um ponto onde consegui me segurar em uma árvore e subir nela. Desci da mesma e quando meus pés pousaram sobre terra firme, suspirei de alívio. A adrenalina que senti com o salto me deixou em êxtase. Eu queria mais daquele sentimento. Eu precisava de mais para parar a dor que me consumia por dentro. Levei a mão ao rosto para tirar o cabelo grudado nele e notei sangue e sujeira nela, precisava limpar o corte, ou melhor, precisava limpar os cortes.

Com mais um suspiro me levantei, ainda podia sentir dores nas minhas pernas, mas não podia passar a noite ali, precisava da segurança do meu carro e alguns curativos. Na trilha resolvi ir até a primeira piscina de água natural que vi quando estava subindo para me limpar. Aproveitei e entrei de corpo inteiro. Aqui a água era calma e obviamente o lugar ideal para banhos e mergulhos. Os cortes e arranhões arderam, mas a água gelada ajudou a relaxar minha musculatura. Rasguei minha camiseta com muita dificuldade e enrolei nos cortes mais profundos. Com os sapatos encharcados continuei descendo a trilha com dificuldade. Estava cansada e dolorida. Meu corpo estava gritando por um descanso.

Quando cheguei a base do parque próximo a cabana que me escondi quando cheguei, me lembrei que precisava pular a cerca para encontrar meu carro. Já estava escuro e haviam muitos pernilongos e outros bichinhos voando. As luzes do lado de fora estavam acesas, mas a cabana estava no escuro. Não tinha mais ninguém aqui. Essa observação fez meu corpo gelar, várias coisas passaram em minha mente, cada uma pior que a outra. Acelerei o passo, como estava escuro não tinha certeza exata de onde havia deixado meu carro. Meu corpo tremia, eu não sabia se era do frio por estar molhada e ter uma brisa gelada ou se era medo. Nesse momento eu desejava que fosse de frio.

Porque eu levantei da cama hoje de manhã mesmo? Porque tirei o dia para ter as melhores ideias? Porque o Jacob teve que ir me procurar? Porque meu pai teve que aparecer justo agora? Eram tantas perguntas que ocupavam a minha mente que estava ficando louca, a dor no meu coração estava voltando, eu precisava espantar para longe como havia feito mais cedo, eu precisava de algo que fizesse a dor desaparecer novamente, eu precisava da adrenalina.

Bloqueando tudo aquilo me concentrei na dor do meu corpo, minhas contusões, arranhões e cortes. Pulei a cerca para o outro lado, muito mais devagar e com muito mais dificuldade do que quando cheguei aqui mais cedo. Eu não tinha uma lanterna, eu não tinha meu celular comigo e por um minuto eu não tinha certeza se tinha a chave do carro também. Comecei a tatear os bolsos da minha calça jeans em busca delas e não encontrei, eu não sei o que vou fazer se não conseguir entrar no meu carro. Será que levei junto quando cheguei? Será que tranquei o carro? Eu precisava descobrir logo, eu não gostaria de saber que tipo de animal existia na mata ao redor do parque das cachoeiras.

Encontrei meu carro e para meu total alívio estava aberto e as chaves estavam na ignição. Para minha sorte eu o havia deixado meio escondido, se alguém o visse ali com certeza essas horas ele não estaria mais aqui. Entrei e sentei no banco do motorista, tranquei as portas, liguei a luz interna e olhei todo o carro por dentro em busca de assassinos ou bichos peçonhentos, não vendo nenhum dos dois relaxei. Virei a chave e ele ligou, dei a ré e sai dali em busca da rodovia.

Estava totalmente escuro agora e eu precisava me localizar. Peguei meu telefone para tentar o GPS, mas estava sem sinal. Droga, como vou fazer para chegar em casa? Continuei indo pela estrada de terra, meu carro derrapava a cada curva devido a minha velocidade, a estrada estava deserta, não haviam casas ao redor. O parque era afastado de tudo e de todos, por isso era tão preservado.

No início senti medo de derrapar e meu carro capotar e eu cair pelo desfiladeiro. Mas a cada curva a adrenalina me fazia me sentir muito melhor. Era libertador sentir aquilo. Meu corpo ainda tremia, com certeza estava com febre, mas não diminui a velocidade. Eu queria que a dor do meu coração parasse e a adrenalina fazia eu me sentir melhor.

Foi fácil saber quando voltou a ter sinal no meu telefone, ele não parou de tocar, por 5 minutos inteiros apareceram notificações de textos e avisos de ligações. Eram muitas, resolvi esperar até parar totalmente as notificações para colocar o endereço de casa. Quando ele ficou em silêncio, parei o carro na rua de terra deserta e peguei o celular em minhas mãos. Estava com pouca bateria, mas daria para chegar até a rodovia, pelo menos eu esperava que sim.

Haviam muitas ligações de casa, da tia Susan, do tio Robert, do James, dos gêmeos, do Jacob, da Emily e até mesmo da Nick. Ela devia estar preocupada, tia Susan deve ter entrado em contato com ela me procurando. Havia também algumas ligações de um número desconhecido com código de área diferente.

Ignorei a todos e digitei o endereço da casa da tia Susan no GPS, no mesmo instante meu telefone começou a tocar, eu estava com pouca bateria e precisava sair do meio do nada. Ignorei a ligação e assim eu fiz com as demais que se seguiram. Passaram quase quarenta minutos até chegar à rodovia, foram os melhores quarenta minutos da minha vida. A adrenalina de correr por essa estrada de terra foi tão intensa, que bloqueei tudo que me atormentava.

Meu celular não parou de tocar, com certeza estaria muito encrencada por ter sumido. Eu precisava desse tempo para mim, eu precisava pensar, mesmo não tendo chegado a lugar nenhum com meus pensamentos. Minha mente estava caótica, eu precisava focar e pensar, porque que mais uma vez o destino tinha planos diferentes para a minha vida.

Meu corpo estava febril e eu ainda estava bem longe de casa. Estava tremendo muito, minhas roupas ainda estavam úmidas e frias. Liguei o ar condicionado no quente para me esquentar, mas mesmo assim eu não parei de tremer em momento algum. Minha cabeça estava pesada e doendo, meus ombros e pescoço estavam travados e meus cortes latejavam. Meus olhos não queriam mais permanecer abertos, eu estava muito cansada e queria dormir, mas eu precisava chegar em casa, precisava de um banho quente, de um remédio para dor e alguns curativos.

Mãezinha me ajuda a entender tudo o que está acontecendo, me ajuda a chegar em casa em segurança, não deixa o papai me levar, eu não quero mais sentir dor, eu não quero mais viver assim, perdendo as pessoas que eu amo. Eu não quero ir embora agora. Eu preciso tanto de você mamãe, porque você morreu tão cedo? Tínhamos tantas coisas para viver juntas ainda. Eu estou com saudades, eu queria que você estivesse aqui, tira essa dor de dentro de mim, por favor mamãe.

Uma luz branca muito forte me assustou, seguida de um estrondo muito alto, a dor do meu corpo desapareceu, tudo desapareceu, a escuridão tomou conta de mim. Era tão bom, eu me senti segura, eu já não sentia mais dor. Obrigada mamãe por sempre me ouvir, eu te amo.

Nas cordas do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora