Capítulo 25

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Eu não fui para casa, continuei dirigindo meu carro sem rumo, sem destino. Eu não tinha certeza se eu tinha documentos ou dinheiro comigo, mas nada disso importava, eu estava oca, vazia e não conseguia me importar o suficiente com isso.

Algum tempo depois observei uma placa sobre a rodovia que havia pego, que indicava a próxima saída, na placa havia a indicação de uma cachoeira, um paraíso natural isolado. Segui naquela direção, um lugar isolado onde ninguém conseguisse me achar era tudo que eu queria agora.

O parque era ecologicamente correto com horário de visitação e agendamento antecipado. Eu não tinha um agendamento, então precisei improvisar. Anos e anos de aprendizado em subir em árvores e muros na infância me deram algumas habilidades. Eu estava meio fora de forma, mas a cerca que cercava o parque era simples e consegui escalar e pular para dentro com facilidade. Me escondi atrás de uma construção quando um guarda do parque passou nas proximidades. Esperei que ele estivesse longe para sair do meu esconderijo e começar a seguir as placas que levavam para a cachoeira. Observei vários espaços para camping, o lugar era bonito e muito bem cuidado. Pássaros cantavam felizes em suas árvores voando de galho em galho, pelo menos ali alguém estava feliz, estavam livres para viver a vida como bem queriam.

A subida para a cachoeira foi dolorosa, eu estava muito fora de forma e não havia levado água comigo, eu estava com muita sede. Resolvi me sentar no chão na trilha mesmo e descansar um pouco. O ar estava úmido e frio, era sinistro estar aqui sozinha, o barulho era tranquilizante e assustador ao mesmo tempo. Olhei para o chão várias vezes em busca de algum réptil nas proximidades mas não encontrei nenhum para meu total alívio. A adrenalina de estar fazendo algo errado, de estar invadindo uma propriedade, estar sozinha no meio do mato sem ninguém ter conhecimento da minha presença ali era diferente, nunca havia sentido algo assim, era libertador.

Recomecei a andar devagar, ainda estava com sede, minha boca estava seca. Quanto mais eu subia, maior era o barulho de água caindo. Em certo momento da trilha havia uma fenda em meio às árvores, uma placa indicava uma lagoa com água natural. Fui naquela direção e quando sai para a clareira meu coração se aqueceu. Era simplesmente maravilhosa a vista. Água escorria por cima de pedras, quanto mais alta as pedras maior a queda d'água. Formavam mini cachoeiras, era lindo demais, incrível mesmo. Eu nunca tinha visto algo tão perfeito tão de perto. Me ajoelhei na beira da lagoa, a água era cristalina, limpa, pura e totalmente natural. Arrisquei tomar um pouco usando minhas mãos como concha para pegar a água. Era gelada e refrescou minha garganta sedenta, joguei um pouco no meu rosto e refrescou meu corpo febril. Meu celular havia ficado no carro e eu não tinha nada aqui comigo além da minha cabeça, para guardar essa imagem. Fiquei ali por um tempo observando a natureza.

Eu queria chegar ao topo, queria ver a cachoeira em toda a sua glória e se esse ponto era tão bonito, não via a hora de ver a queda principal. Estar aqui nesse parque, rodeada de mata, verde, canto dos pássaros, grilos e outros animais que eu não queria saber e nem encontrar pelo caminho, era muito emocionante e me faziam esquecer dos meus próprios problemas. Andei por quase meia hora, ou assim me pareceu, subindo cada vez mais alto, cada vez mais íngreme e difícil a subida. Em certos pontos, meio escorregadio devido a umidade do solo. A clareira apareceu, continuei subindo, estava suando por todos os lados, o ar frio e úmido sumiu, dando lugar ao calor do sol, mais dez metros e cheguei ao topo. Aqui de cima conseguia ver tudo e nada ao mesmo tempo. Haviam muitas árvores e ao longe, eu conseguia ver a cidade. Eu não tinha certeza olhando aqui de cima se foi uma boa ideia sair sem rumo. Eu não sabia nem se estava na minha própria cidade nesse momento. Não importava, eu queria ficar longe e consegui. Aposto que ninguém iria me achar ali naquele lugar.

Abri meus braços e girei contemplando minha vitória de ter chegado ali em cima, fechei meus olhos e inclinei minha cabeça em direção ao céu. Quando os abri estava tonta, parei e observei o céu azul girar e brilhar. Uma emoção de acolhimento e aconchego tomou conta do meu corpo, foi tão intenso, era como se estivesse sendo abraçada, amada, sufoquei um soluço e gritei. Gritei alto, os pássaros se assustaram e começaram a voar ao redor, gritando também.

A queda d'água me chamou a atenção, estava tão perdida em mim mesma que não havia ouvido a cachoeira barulhenta. Era incrível. Sua queda começava um pouco mais acima do ponto onde eu estava e seu fim era uma piscina de água natural a alguns metros abaixo. O barulho da água caindo era tranquilizante. Era uma dança de poder. Haviam várias placas indicando a profundidade da água, alertas para não pular e não subir até a ponta da cachoeira. Olhar aquela queda d'água me fazia pensar em cura, era quase como que ali tudo acabasse e recomeçasse. Eu queria aquela tranquilidade, eu queria que a dor acabasse e minha vida recomeçasse sem tudo o que estava acontecendo.

Minha cabeça girou, um pensamento fez com que uma alegria intensa brotasse dentro de mim. A adrenalina veio em seguida. Como seria pular ali de cima? Já tinha ouvido falar de alguns casos de morte por quedas em cachoeiras, mas isso não mudou minha mente. Eu queria parar a dor, eu queria sentir outra coisa, eu queria ser eu de novo. Jacob me veio no pensamento, com certeza ele não me deixaria pular. Me chamaria de louca, me impediria, não deixaria que eu tomasse as rédeas da minha vida, das minhas ações. Bom, ele não estava aqui agora, mas eu estava. Me aproximei mais da borda, olhei novamente para baixo, olhei a queda d'água, eu não queria morrer, eu só queria sentir outra coisa, queria me sentir viva, com esse pensamento eu fechei meus olhos, abri meus braços, fiz uma oração silenciosa a Deus e a minha mãe.

- Eu te amo Mãe.

E com isso eu pulei para o desconhecido. As vezes um segundo tem o poder de mudar tudo.

Nas cordas do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora