6. Carinho na plataforma 9¾

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Harry estava desesperado.

Ele e Sirius, por algum acaso, se esqueceram que não teriam Remus para o despertarem no dia de ingressar no Expresso de Hogwarts. Então, as pressas, eles se arrumaram de forma desajeitada enquanto corriam pela mansão.

— Malão? — Sirius gritou do segundo andar.

— Confere! — Harry gritou do primeiro piso, após olhar ao redor e verificar a mala.

— Uniforme?

— Hm... — Murmurou e abriu uma bolsa, achando seu uniforme. — Confere!

— Ótimo!

Passos do mais velho foi contra o piso de assoalho das escadas, logo surgindo no hall antes da sala. Sirius parou por poucos segundos, observando seu afilhado com carinho.

— Você está pronto para voltar, Harry? — Perguntou dando passos para perto do mais novo, apoiando sua mão no ombro dele. — Pronto para enfrentar tudo?

Harry sorriu pequeno, admirando o seu herói.

— Já enfrentei tanta coisa padrinho, pode ter certeza que vou tirar essa de letra. — Zombou, arrancando gargalhadas de Sirius.

— Você não tem um bom histórico de resolver os próprio problemas pessoais, Harry. — Zombou de volta, pegando a mala de Harry e caminhando em direção da lareira de Rede de Flú.

— De onde você tirou isso? — Perguntou abrindo os lábios em choque, fingindo indignação, pousando sua mão direita sobre seu peito. — Eu sou o melhor, O melhor em resolver problemas pessoais. — Respondeu esnobe, erguendo o queixo e virando seu rosto para o lado contrário do padrinho, este rindo mais ainda.

— Claro claro, agora vamos, senhor o melhor em resolver problemas, vamos para a estação de trem.

Harry concordou, apoiando sua bolsa com força contra seu corpo.

Um de cada vez entrou na lareira e jogou o pó de flú, dizendo para onde iria. Aparatar seria muito melhor, porém Remus não aprovaria, principalmente em sua ausência. Para Moony, Sirius e Harry eram duas crianças em corpos de adultos, e isso o deixava de cabelos branco.

— Harry, estude muito e aproveite, seja jovem e curta festas, mas não esqueça de curtir as aulas, viu mocinho? — Suspirou. — Me perdoe por não ter estado com você antes, mas agora estou aqui, tá? Não esqueça de me mandar cartas todas semanas, falando qualquer coisa, porque eu vou sentir saudades. Moony vai sentir saudades também e se você não quer que ele tenha um infarto, se mantenha longe de encrencas. — Aconselhou apontando o dedo indicador e cruzando o cenho, fingindo uma expressão autoritária. — Você consegue, Prongs.

Harry escutou tudo atento, sentindo vontade de chorar. Seus olhos marejados e nariz vermelho entregava, mas ele segurava firmemente. Sorriu pela preocupação, sorriu pelo aconselhamento e sorriu maior ainda pelo apelido, quase desabando alí mesmo. Harry não conseguiu responder, jogando seus braços ao redor dos ombros do mais velho, o apertando em seu abraço. Foi prontamente respondido, um abraço tão forte e tão carinhoso quanto. O amor de família que Harry sempre sonhou em receber, agora era mais real como nunca. É, literalmente, palpável.

— Obrigado... — Disse sôfrego em um sussurro, batalhando fortemente para manter as lágrimas em seus olhos, não conseguindo segurar o soluço em sua garganta. — Pai.

O apito da locomotiva fez os dois se separarem. Os olhos de Sirius também estavam marejados, este que segurava orgulhosamente. Os dois se olharam mais uma vez até que Sirius o empurrou pelo ombro levemente, o pedindo sem dizer nada para que vá, para não se atrasar.

Harry sorriu, mais feliz do que nunca, e segurando sua mala, embarcou no trem Expresso de Hogwarts, procurando o vagão de seus amigos.

Seu receio de estar atrasado foi totalmente apaziguado com os eventos na plataforma. Hermione não brigaria por tanto tempo se soubesse o motivo de ter se atrasado mais ainda.

O barulho das rodas da locomotiva se arrastando pelos trilhos era o único som presente no vagão. O silêncio não era incômodo, é até mesmo bem-vindo pelos três adolescentes.

Hermione roncava baixo no ombro de Ronald, seu sono é incrivelmente leve, logo qualquer barulho ou movimentação brusca era capaz de lhe acordar.

Após seu breve discurso sobre pontualidade, Hermione escutou o que seu amigo tinha a dizer; sua enorme animação foi o suficiente para aquietar a garota, esta que estava muito feliz pelo amigo.

Não é novidade para ela que Sirius é a representação paterna mais próxima que Harry tem, então vê-los exercer formalmente o "papel" de pai e filho era gratificante; principalmente para Hermione, que sempre foi sua oficial conselheira sobre tudo.

-- Não pretende namorar então? — Rony retomou o assunto que estava tendo com Harry, antes de fazerem muito barulho e receberem olhares cortantes da cacheada.

-- Não. — Respondeu simples e suspirou, deixando seus olhos se perderem na paisagem que passava em borrões. -- É estranho porque eu não consigo me ver com alguma menina.

Rony concordou, porém repensou o que o amigo disse e ergueu uma sobrancelha em questionamento. Harry corou ao entender o que seu amigo quis dizer, logo reformulando sua frase.

— Não consigo me ver com uma menina e nem com um menino.

Talvez falar isso um pouco mais alto que o resto da conversa não tenha contribuído muito, também, porém agora as duas sobrancelhas de Ron estavam erguidas, e Harry sabia que não era pelo barulho que fizera.

— Então você é tipo, bi? — Ron perguntou direto, talvez não percebendo que o amigo estava desconfortável com a situação.

— Ron! — Suplicou choroso, não queria falar sobre isso.

Na verdade não tinha muito o que falar. Ele sempre se atraiu por garotas, o mesmo para garotos, ele só nunca teve tempo para pensar em nenhum relacionamento com nenhum dos dois. Os únicos relacionamentos que teve foram as garotas que tiveram iniciativa, porque se dependesse dele, ele ainda nem ao menos teria encostado seus lábios nos de outra pessoa.

— Isso é um sim? — Ron insistiu.

As vezes Harry entendia a vontade de Hermione de esganar Ron o tempo todo. Harry as vezes queria se auto esganar em compaixão para sua amiga.

— Sim! Ronald, é um sim. — Admitiu impaciente, sentindo suas bochechas arderem.

Seus olhos ainda fixos no vidro, ele evitava a todo custo o olhar de Ron. Este que ainda permanecia em silêncio. Harry pagaria galeões pelos pensamentos do maior.

— E você já gostou de algum menino? — A pergunta veio de repente, Ron estava entretido em comer seus sapos de chocolate sem se mover muito, para não despertar a namorada.

O estalo que se seguiu foi o som do pescoço de Harry girando rapidamente em direção do ruivo.

— Ahn?

— Você já, gostou de, um garoto? — Perguntou pausadamente, lamentando a miopia do Harry ser tão alta que interferia em sua audição.

— Ah, já... — Harry respondeu envergonhado, mas ficando aliviado ao perceber que Ron parecia super tranquilo quanto a isso. — Eu só nunca fiquei com um. — Admitiu ainda envergonhado.

Não importa quão envergonhado esteja, Ron faz tudo parecer tão comum que Harry não consegue prosseguir tímido.

— Sério? Tem um monte de gente que adoraria ficar com você, me admira você não ter encontrado um garoto no meio desses. — Explicou movendo o nariz e sobrancelhas, tentando se concentrar no que falava e no sapo em suas mãos. — A não ser que você não fique com fãs. — Deu de ombros.

Harry riu e fez som de porco no meio, fazendo Ron rir. Uma Hermione muito enfurecida por ter sido acordada pela tremedeira de Ron. Esta apenas explicou o namorado do banco e se deitou, se cobrindo com sua jaqueta leve.

Harry e Ronald continuaram rindo, porém contidos. Eles nem mesmo se lembravam o porquê de estarem rindo.

Not A Little VeelaOnde histórias criam vida. Descubra agora