Aviso: Pode possuir conteúdo sensível, como violência e mutilação explícita, o leitor está avisado
Violet Gritess
Segurei o copo de chá fervendo, observando cada um dos movimentos de Anubis, ele parecia nervoso com o que estava por vir, bebericando rapidamente o líquido presente dentro do copo de madeira, suas mãos estavam trêmulas, e não parecia ser por causa do frio. Respirei fundo e olhei o Elfo nos olhos, o encarando sem nenhum receio.
– Quando eu afundei no gelo... Por que você me salvou?- Perguntei e ele riu nervoso. Acho que me expressei mal.
– Você é a resposta para o fim da guerra, e eu prezo pela paz, a resposta está na sua cara- Disse o Elfo com um sorriso – O que você realmente quer me perguntar? Seja direta- Merda! Ele notou que eu não sei me expressar direito e quero lhe perguntar algo completamente diferente!
– Aquela forma de... Me... Salvar... Aquilo foi um beijo?- Perguntei com muita dificuldade, enrolando meus cabelos nos dedos com minha mão livre, como um sinal de nervosismo. Anubis arregalou os olhos e seu sorriso desapareceu.
– Foi- O Elfo apenas me respondeu friamente, com aquele olhar penetrante, nunca dava para saber o que Anubis estava pensando – E daí?
– B-bom... Err...- Acabei tropeçando em minhas próprias palavras, tentando dizer algo que faria sentido naquele momento – É que... Ninguém n-nunca... Me beijou... Sabe?- Gaguejei, mas disse algo coerente no final. Logo senti meu rosto esquentar, desviei meu olhar para o chão, apertando o copo em minhas mãos, que me aquecia em meio à neve – Você foi o primeiro que quis me beijar... Sabe?- Senti os olhos de Anubis me observando, o que é este formigamento entre minhas pernas?
– Eu te dei ar, para você não morrer- Falou andando na direção oposta da minha, mas logo olhou para trás com um sorriso – Mas sendo sincero? Eu queria ter te beijado a tempos- Disse me deixando vermelha igual uma pimenta – Vamos começar! Dez voltas no campo, sem parar pra descansar e sem dissipar a nevasca! Larga esse chá! Nada de línguas antigas e trapaça, estou aqui para treinar o seu corpo! Entendeu?
– Am...- Fiquei meio sem reação, ele suspirou, logo ativando suas runas, fazendo todos os lugares de seu corpo brilharem com desenhos e símbolos, eu sentia sua energia percorrendo, sua presença estava cada vez mais forte.
– Se entendeu, diz que entendeu! Não quero manha, nem birra e muito menos corpo mole! Cadê toda aquela determinação da herdeira do trono de ossos?! Quero ouvir um "Sim, senhor!" Sair da sua boca!- Disse me rodeando, cuspindo as palavras como um verdadeiro líder, Anubis consegue me assustar às vezes, principalmente quando está com raiva – Você é surda por acaso? Cadê a força de vontade?
– Sim, senhor!- Gritei, começando a correr em volta do meu campo de treinamento, controlando minha respiração para não perder o fôlego rapidamente, e obviamente sem atolar meus pés na neve. Vi que os olhos de Anubis brilhavam, seus lábios estampavam um sorriso contagiante.
– Depois destas voltas, quero quinhentas flexões, apenas para aquecer!- QUINHENTAS?!
– Sim, senhor! Estou às suas ordens!- Gritei enquanto corria pelo campo, deixando o Elfo me observar com cuidado, lembrando que eu teria que fazer nada menos que QUINHENTAS flexões logo após as voltas sem tropeçar e cair. Acho que nunca vou me acostumar com essa neve.
Três anos depois...
Foram três anos de um treinamento intenso, no início, todos os meus ossos doíam, toda noite eu sentia que iria morrer. No final, a dor se tornou um contratempo, apenas outro obstáculo em meu caminho, eu cresci, sou uma mulher completa agora, com todo o treinamento intenso que recebi de meu pai e de Anubis, toda a cultura, tanto a cultura dos Murdock como a cultura Draconiana, eu as mastiguei e engoli, junto de meu passado terrível, deixando sobrar apenas o que me é importante: Habilidade, força, inteligência e poder.
Tenho vinte e um anos agora, comemoramos cada um de meus aniversários, todos presentes, um ficando cada vez mais próximo do outro. Bebemos muito rum, Middorn ou meu pai é uma pessoa maravilhosa e um ótimo anfitrião! Nunca me senti tão completa. Nada de chorar, e desta vez não é porque me proibiram, eu não tenho mais motivos para chorar, pois tenho em quem me apoiar, em quem confiar, a quem amar. Eu sou Gritess, a próxima rainha do trono de ossos, Boris não irá me parar tão facilmente.
Olhei o ambiente à minha volta, segurando meu arco feito de álamo branco, vi Anubis em cima de uma árvore com suas adagas em mãos, ele fez sinais com as mãos, me mostrando em qual direção estava a nossa presa. Com todo o cuidado do mundo, retirei uma flecha de dentro de uma mochila aberta, a ponta da flecha era de metal, o resto era apenas feito de madeira bruta e escura. Posicionei minha flecha no arco, identificando a presa: Um cervo.
Mirei cuidadosamente, lembrando dos meus treinos de arco e flecha com Anubis, respirei fundo, logo soltando a flecha, a acertando bem no pescoço do cervo. Fui correndo até o animal, que demorou um pouco para morrer, pois lhe acertei em um ponto não muito agradável, queria matá-lo com rapidez, para o bichinho não sentir nenhuma dor.
– Não fique olhando demais, você vai acabar se sentindo culpada- Disse Anubis, que vestia sua armadura junto da máscara – Carregue o cervo até lá, teremos um jantar completo hoje!
– É alguma comemoração? Normalmente comemos coelhos- Falei enquanto pegava o cervo e o jogava por cima do ombro, começando a seguir Anubis pela trilha que havíamos feito. Ficamos lado a lado, caminhando em direção à casa.
– Partiremos para a nossa próxima etapa hoje: O mercado Negro. Serão outras terras para explorar.
– Então quer dizer que... Eu concluí meu treinamento?- Perguntei empolgada, Anubis tirou a máscara para mostrar o seu sorriso alegre e orgulhoso.
– Parabéns, herdeira! Tudo que você precisa fazer agora é seguir em frente!- Dei pulos de alegria até chegarmos em casa. Entramos pela porta da frente e meu pai estava sentado segurando o pergaminho que havia começado a escrever à três anos atrás.
– Trouxe o jantar, pai!- Falei e ele sorriu em resposta, enrolando o pergaminho com uma fita vermelha. Larguei o cervo no chão em frente à lareira e me ajoelhei na frente de Middorn.
– Eu terminei a escrita- Disse me entregando o pergaminho – Use com sabedoria, Gritess... Aí Contém todas as formas de usar o grito, espero que se acostume.
– Sou muito grata a tudo que você fez! Obrigada!- Falei e ele apenas acariciou meu rosto com uma expressão serena.
– Nós nos veremos novamente, pois quando a guerra piorar, você estará na linha de frente. Ainda quero poder lhe ver como rainha, usando a coroa que um dia eu usei em minha própria cabeça- Suas palavras me emocionaram, levantei e dei um longo abraço em Middorn, que logo retribuiu meu abraço.
– Você lutará ao meu lado, pai?- Perguntei no meio do abraço enquanto o mesmo afagava meus cabelos.
– Se escutar o bater de asas de um dragão, reze para que seja eu... Provavelmente será- Brincou, me separei do abraço e olhei para Anubis encostado na porta de braços cruzados.
– Você vem, Herdeira?- Perguntou o Elfo, me deixando um tanto confusa.
– Ir? Pra onde?- Perguntei olhando para Anubis e para o cervo jogado no chão.
– Nossa carona está nos esperando, venha- Disse fazendo um gesto para eu pegar o cervo novamente.
(...)
Foi uma longa caminhada, mas finalmente chegamos a uma parte do mar. Não acreditei no que vi, havia um barco flutuando na minha frente, era enorme, parecia um pouco velho, mas não tinha um arranhão que pudesse nos fazer afundar. Olhei para Anubis de olhos arregalados.
– M-mas...
– Eu já peguei suas coisas, tá tudo lá dentro. Vamos?- Perguntou o Elfo me estendendo uma de suas mãos, Eu sorri e segurei sua mão sem pensar duas vezes. Logo vi Cain na frente do barco acenando para mim.
– Bem vinda à tripulação, Herdeira! Só avisando, aqui quem manda sou eu! Ah! E... Deu uma canseira pra evocar isso daqui, ufa! Vamos beber rum! Traz esse bicho pra cá pra eu assar!
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Coroa de Ossos
FantasySéculos se passaram, o inverno estava chegando e o trono de ossos permanece intacto sem nenhum herdeiro, a ausência do dragão ancião e a falta de um herdeiro interferiu no mundo apenas com negatividades e destruição. Mas ainda há esperança, com o na...