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É curioso como a vida pode mudar em um instante. Um momento você está vivendo sua rotina, e no outro, tudo se transforma. Alguém pode ganhar na loteria, enquanto outra pessoa pode perder um ente querido. Em um canto do mundo, pessoas se casam e, em outro, um bebê chega, e a cada segundo, as vidas de todos ao nosso redor se alteram. Em um piscar de olhos, você pode não estar mais aqui.

A verdade é que minha vida em Amarillo, Texas, não era tão perfeita quanto parecia. Eu morava com minha família em uma casa pequena de dois andares, típica de uma cidade que parece ter saído de um filme do Velho Oeste. Amarillo sempre teve esse charme peculiar, com suas ruas tranquilas e a poeira levantando-se ao passar dos carros. A cidade tinha uma certa beleza, mesmo que fosse simples.

Depois de terminar o ensino médio, decidi trabalhar em uma lanchonete no bairro vizinho. O salário era baixo, mas era o suficiente para me ajudar a economizar para a faculdade. Minha mãe era professora de uma escola de ensino fundamental, e meu irmão estava se esforçando em uma loja de conveniência enquanto estudava para o vestibular de Direito. Sempre fora o sonho dele. Meu padrasto, contador, tinha uma filha chamada Alex que morava conosco. Ela havia perdido a mãe há dois anos, e nossa casa, embora pequena, sempre foi um lar acolhedor.

Não havia muito mais que contar sobre mim até então. Eu era apenas uma garçonete em um lugar pequeno, parte de uma família unida e amorosa, e sem namorado. O único que tive foi Mike, um garoto que conheci na infância. Mike Smith era um cara legal, um quase nerd da escola. Lembro-me de nossas brincadeiras na rua e no jardim da casa da família Müller. Nossa amizade se intensificou durante o ensino médio, culminando em nosso primeiro beijo durante uma festa de primavera. Desde então, não nos separamos.

Ele foi meu primeiro amor, mas acabei terminando quando ele foi aceito em uma faculdade em Nova York. Não queria ser um obstáculo em sua vida. Essa não foi a única razão pela qual decidi me afastar de um relacionamento. Eu queria experimentar a liberdade de ser uma quase adulta solteira. Ir a festas, sair com amigos para beber até o amanhecer—essas eram as coisas que eu queria vivenciar. Infelizmente, Mike não aceitou bem a ideia. Ele me amava e sonhava com um futuro juntos, mas eu sabia que nossas famílias também esperavam por isso.

Assim, além de tudo que já mencionei, tenho um ex-namorado ressentido em algum lugar de Nova York. Sinto muito, Mike, mas não sou tão conservadora a ponto de me casar e ter filhos tão jovem. Mesmo que nossa relação tivesse potencial, foi algo maravilhoso enquanto durou, e guardo boas lembranças dele. Mas esse amor é um verbo que deixo no passado, onde já está há meses.

— Bom dia, vocês gostariam de fazer o pedido? — perguntei, aproximando-me de uma mesa ocupada por dois homens que costumavam almoçar no nosso pequeno restaurante.

— Olha, senhorita Anderson, acho que você está tão apaixonada por mim que todos os dias vem me atender — Harry, sempre brincalhão, fez sua habitual cantada. Ao longo do tempo, já havia me acostumado com isso, e eu sempre respondia à altura, dando-lhe um fora diferente a cada vez.

— Ou talvez eu seja a única garçonete disponível para atendê-los — sorri, pegando meu caderninho e a caneta do bolso do meu uniforme. — O mesmo de sempre?

— Por favor, e me vê uma água com gás e limão — pediu o mais velho.

Fui até Florence, a garota da minha idade que trabalhava comigo, e fiz os pedidos. Enquanto isso, peguei meu celular e vi mensagens da minha mãe. Decidi responder antes que ela me chamasse a atenção.

O dia parecia tranquilo, como todos os outros. Era a mesma rotina: acordar, tomar banho, vestir meu uniforme, ir trabalhar, voltar para casa, tomar outro banho, colocar uma roupa confortável, ajudar mamãe na cozinha e, então, dormir para recomeçar tudo no dia seguinte.

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