XIX

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A semana passou tão devagar que sinto que ela foi a verdadeira perpétua que me condenaram, parecia que o dia seguinte não iria chegar nunca, e se todos os dias fossem desse jeito, não sei se conseguiria sobreviver a essa eternidade do tempo. O trabalho já não me distraía mais, meu caderno já estava lotado de coisas escritas e alguns doodles que me tiravam do tédio.

A única coisa que estava me distraindo essa semana eram as marcas dos meus machucados pelo rosto e pelo corpo, já estava me acostumando com alguns roxos e cortes, já nem doíam tanto, mas hoje eu recebi um soco de Rachel, fala sério, ela era uma cretina que queria sair mandando em tudo e todo mundo, sempre temos que ter dinheiro pra sobreviver aqui dentro, um dia você descobre que tem uma dívida com alguém, só por ter olhado.

- Detenta Olivia Anderson, tem visita pra você -  uma policial  apareceu pra me chamar. Mike me visitou há uns dias, mas tirando ele da lista, faz muito tempo que não tenho uma visita, Frank e Gemma não estão tendo tempo de vir aqui me ver, mas sempre mandam dinheiro e uma carta.

- Isso aí tá bem feio - ela comentou no caminho, sentia minha boca latejando, ela já estava meio roxa, deve estar inchada agora.

- O preço que se paga por querer tomar um banho - sorri pra ela que franziu a testa - É nova aqui, não é?

- É, como sabe?

- Está surpresa com o que eu disse, mas acredite, essas coisas são normais por aqui - estávamos quase chegando na sala de visitas, eu ainda não era liberada para ir para um outro lugar onde eu podia estar com as pessoas sem ter esses vidros.

- Cabine cinco, a última, você tem meia hora hoje - dessa vez, eu quem a olhei confusa, todos tinham apenas dez minutos no máximo, e estou recebendo uma de meia hora, coisa boa não era, talvez meus advogados precisassem falar comigo alguma coisa de muito sério.

Sentei no banco em choque com quem estava vendo na minha frente, imaginei tantas possibilidades que poderiam acontecer com a visita longa de Gemma e Frank, mas não era nenhum dos dois na minha frente, jamais esperaria estar agora onde estou, nesse segundo de tempo em que meu cérebro precisou para absorver a informação, e eu poderia falar qualquer coisa, mas a curiosidade de saber o motivo foi maior.

- O que está fazendo aqui? - minha voz era baixa, quase inaudível, se não tivesse um vidro que permitisse que as pessoas lessem meus lábios, o telefone não iria dar muito certo.

- O que aconteceu com você? - perguntou no mesmo momento - A sua boca... Olivia, olha pra mim - pediu assim que desviei meu olhos para o chão. Emoção nova desativada, não sabia o que estava sentindo, não sabia nem como reagir - Por favor, olha pra mim - E fiz, olhei, mas ainda não sabia como reagir.

- Ainda não me disse o que estava fazendo aqui...

- Acredito em você - Por essa eu também não esperava, eu queria ter escutado isso há tanto tempo - Não sei como te pedir desculpas.

- Queria que tivesse me dito a todo momento que acreditava em mim, eu estou aqui deve ter um mês já, por quê? Por que agora?Disse que não queria mais te ver, eu disse naquele dia que não queria mais ter que olhar pra você, Harry, então o que está fazendo aqui? - alterei a minha voz.

- Entendo que qualquer coisa que eu te falar agora, qualquer motivo, vai parecer uma desculpa qualquer, sei que nada vai ser suficiente pra me perdoar por isso, Liv... Mas eu enfrentei demônios, fiquei confuso com tudo, e eu tentei acreditar em você, eu me esforcei pra isso, eu juro que eu tentei com todas as minhas forças, por isso nos dois dias em que estava na sala de interrogatório, não apareci - Harry estar em minha frente me dizendo todas essas coisas me fez lembrar de Stratford dizendo sobre o que poderia ter acontecido para que ele tivesse tido suas atitudes - Não tinha coragem de te ver naquela situação, fui um verdadeiro covarde de não ter ficado ao seu lado, eu te prometi que ficaria, mas eu não cumpri minha promessa.

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