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- Um dia eu vou querer saber o que escreve tanto aí - Sammie se sentou na minha cama, sorri e abaixei o caderno pra poder olhá-la melhor - Deve ter muitos segredos aí.

- Nada além da minha confissão - ela me olhou surpresa e eu ri - É mentira, mas também não vou te contar o que é.

- Sabe que eu estou presa por roubo, né? Daqueles bem grandes!

- Fui condenada por homicídio triplo qualificado e você não sabe se o que eu falo da minha inocência é real ou não, mas acho que não vai querer saber...

- Você é perigosa, garota! - rimos - O que rolou esses dias? Está mais... Feliz? Está numa prisão, não era pra você estar sorrindo de vez em quando, era pra ser uma vadia depressiva e drogada.

- Que nem você? - Arqueei minhas sobrancelhas para ela com uma cara divertida em meu rosto.

- Está me chamando de vadia?

- Na verdade, de depressiva e drogada, não te acho uma vadia - Sammie me bateu com um travesseiro da cama de cima, o que me fez gargalhar alto, não ria assim faz um tempo, mas morar com as minhas colegas de quarto não era assim tão ruim - É por ele que você está assim, não é? - parei de rir e me sentei melhor na cama ficando mais séria - Tá na sua cara que sim.

- É loucura eu estar feliz que uma pessoa que só me machucou disse que me ama e acredita em mim? Eu me sinto tão louca.

- Não é loucura amar alguém e ser recíproco, é difícil na verdade, estar aqui enquanto as pessoas estão lá fora... Às vezes eu sinto que morri e esse aqui é o inferno... É muito parecido com a morte - Sammie se deitou ao meu lado e continuou a falar - As pessoas morrem, a família sofre, fazem visitas ao túmulo como fazem aqui com a gente, e depois de um tempo... Elas te esquecem, seguem a sua vida, elas não te esperam voltar porque precisam continuar vivendo... Mas talvez você nunca saia daqui também. Eu fiz coisas erradas, eu sei que fiz, então entendo o porquê de eu estar aqui e de precisar, sou um perigo pra sociedade, mas também sei que se um dia eu sair, eu vou voltar a ser a Sammie de antes, porque isso não vai mudar, essa sou eu. A prisão só fortalece o que nós somos, aqui não é legal, não é como se realmente conseguissem nos reabilitar tratando do jeito que nos tratam, a gente volta pior. A pior coisa no mundo pra uma presa, é a liberdade.

- Tenho medo que algum dia eles se esqueçam de mim - sussurrei - Tenho raiva do Harry, tenho raiva de quem fez isso com a gente, mas ao mesmo tempo eu não quero que nada mude. Eu quero continuar minha vida do jeito que ela estava, eu era feliz... Sei que estou aqui há pouco tempo em comparação ao tempo de vocês, mas eu nem lembro como é sentir a felicidade.

- Mas te vi sorrindo esses dias - seus olhos pretos me encararam, parecia que Sammie poderia ler todos os meus pensamentos - Ele ainda te faz feliz, mesmo depois de tudo, a raiva um dia passa, sentimentos assim são sempre passageiros. Ainda sente aquilo né? - apontou para seu estômago, demorou um pouco pra eu entender e eu ri.

- Tá querendo dizer sobre as borboletas no estômago?

- É, isso aí. Se você gostasse de mulheres, eu namoraria você - rimos.

- Então acha que devo perdoá-lo?

- Já disse que não sou eu quem vai decidir se deve perdoar alguém ou não, Anderson - Amanda sempre me atendia de forma calma e atenciosa, às vezes isso me irritava. Como pode ter tanta paciência para atender cada pessoa com vários problemas e principalmente dentro de uma prisão.

- E o que devo fazer então? Sempre que eu venho aqui é um tal de "eu quem decido", mas se eu soubesse o que fazer, qual decisão tomar, talvez eu não precisasse estar aqui! - disse um pouco mais alto que o normal.

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