Prólogo

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     Era quase meio-dia. Os pássaros cantavam alegres na clareira iluminada. Como sempre faço nesse horário, eu estava tocando violão, sentindo cada som, cada dedilhado. Era ótimo ficar na clareira. Eu aprendi a conviver com os animais daqui, que ocasionalmente vem fazer uma visitinha em casa pra eu dar comida.

    Moro aqui com meus pais há 10 anos. Mas o meu pai, Bruno, sai quase toda noite. Ele sempre volta pra Encanto para reparar as paredes da casita, ou para de alguma forma achar um jeito de restaurar a magia, que parecia estar acabando aos poucos de acordo com sua visão. Ele também tem saudades de lá e deseja poder ser aceito pela família de novo.

    Ele convidava eu e a mamãe pra ficarmos escondidos nas paredes da casita, mas ela tem pavor dos ratos, sem falar que eu não gosto de espaços apertados. Eu não sinto a menor falta de lá. Aquelas pessoas não gostavam de nós. Meu pai passou a ser malvisto pelas pessoas devido as suas profecias, mas não foi só ele que sofreu por causa disso.

    Eu tenho o dom de ouvir os pensamentos das pessoas até uma certa distância, e desde que eu ganhei esse dom, ninguém quis ficar perto de mim. Cresci sem muitos amigos, mas ao menos eu tinha os Madrigal. Dolores era uma grande amiga, mas depois que saímos de Encanto, não nos vimos mais.      O que aconteceu pra gente sair, foi quando o papai teve uma visão sobre a magia de Encanto estar acabando, e algo com isso ter a ver com a Mirabel, minha prima que na época tinha apenas 5 anos. Depois disso, nós três saímos de Encanto para proteger todo mundo. Confesso que fiquei feliz quando saí. Ninguém merece viver num lugar onde as pessoas te olham torto!

     Às vezes eu me pego pensando na Dolores. Sinto muita falta dela, mas será que ela sente o mesmo? Enfim... Escolhemos essa clareira por ser um lugar tranquilo onde eu não conseguiria ler a mente de ninguém, além dos meus pais. Acabei me acostumando com a falta de amigos. Acredite, quando você tem um dom como o meu, é ótimo ficar longe de tudo de vez em quando.

     Já a minha mãe, Ângela, ela sente saudades de Encanto. Ainda vem nas memórias dela várias lembranças felizes, como os almoços e os jantares em família. Ela era bem próxima da tia Julieta.

     Se as pessoas aceitassem a mim e ao meu pai como somos de verdade, nossa família até poderia se reunir de novo, mas não vejo como isso poderia ser possível.

     — Alice! — chamou minha mãe.

     — Já vou! — respondi, correndo até nossa cabana aconchegante.

     Entrei na cabana, e vi minha mãe segurando uma carta, e nosso papagaio, Julio, estava no ombro dela. "Ele mandou uma carta, Alice! Seu pai mandou uma carta", pensou ela.

     — O papai?! O que diz a carta?

     — Vamos ver! — respondeu, abrindo o envelope e tirando a carta de dentro dele.

     Me aproximei mais para ver o que estava escrito.

     "Queridas Ângela e Alice, finalmente a magia de Encanto foi restaurada, e adivinhem só: fui aceito de volta na família. Não só eu, como a Mirabel também!"
     "Tenho uma notícia maravilhosa pra contar: depois que fui aceito, minha mãe falou pra eu chamar vocês pra morar na casita com toda a família. Isso não é incrível? Finalmente meu sonho de ver a família reunida vai se realizar!"
     "Daqui a pouco eu estou chegando aí pra ajudar vocês com as malas e levá-las pra Encanto. Mal posso esperar pra todos estarmos juntos de novo."

                Ass: Bruno

     Estávamos abismadas. Minha mãe não acreditava que finalmente voltaria, e dava pra ver em seus pensamentos que ela estava explodindo de alegria. "Vamos voltar! Vamos voltar!", ela pensou.

Alice Madrigal [+10]Onde histórias criam vida. Descubra agora