Capítulo I | Reunião familiar

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     Passamos pela entrada da montanha e chegamos na cidade. Era linda, colorida, e o sol batia forte no telhado das casas. Borboletas amarelas voavam e belas flores cresciam.

     Eu havia me esquecido de como esse lugar é lindo. Me sinto até meio constrangida por estar usando preto no meio de tanta cor.

     Havia um monte de gente nas ruas, e assim que viram nossa família, pararam para nos ver. Seus pensamentos eram curiosos. "Quem são elas?", "Aquele é o Bruno?", "Quem é aquela jovem encapuzada?".

     Meu nervosismo aumentou com toda aquela multidão curiosa. Encanto não é um lugar tão grande, então todos se conhecem. Por isso, toda vez que alguém novo aparece é uma comoção dessas. Meu pai também está nervoso. "Ai, eles estão nos olhando... Será que eu devia tê-las trazido de noite?", pensou.

     Minha mãe, por outro lado, não pareceu ter se incomodado com a multidão olhando pra ela. Talvez estivesse acostumada, já que quando se mudou pra Encanto, antes de se casar com meu pai, já recebia muitos olhares admirados. Ela é uma mulher muito bonita de fato. É europeia, se eu não estiver enganada.

     Depois de alguns minutos de nervosismo, apareceu um grupo vindo na nossa direção, com uma senhora vindo na frente deles. Podia reconhecer todos em qualquer lugar: a família Madrigal!

                        ***

     Silenciando todos os cochichos, ficamos de frente com os Madrigal. Reconheci todos: Isabela, parecendo uma princesa, mas algo parecia ter mudado nela. Seus cabelos agora têm mechas coloridas; Luisa, com seus grandes músculos; Aquela é a Mirabel? Minha nossa, como ela cresceu! Ela sorria pra mim. "Mal posso esperar pra ver a minha prima!", pensou.

     Meus olhos vagaram todos os membros da família. Meus tios e tias estavam todos aqui. A tia Pepa estava com uma nuvem na cabeça, como eu lembrava; Camilo, com cara de sapeca, um menininho que eu não cheguei a conhecer, e... Dolores... com uma expressão surpresa, como se estivesse se contendo.

     Nossos olhares se cruzaram e por um momentos meus olhos quase se encheram de lágrimas. Eu vi seus pensamentos. Ela estava mais feliz do que nunca, e sorriu pra mim.

     Retribuí o sorriso, contendo a vontade de correr e abraçá-la. Me virei para a Abuela, que abraçou meu pai e disse, muito feliz:

     — Meu filho, são elas?

     — Sim, mãe — ele se virou e apresentou cada uma — Minha mulher, Ângela!

     — Olá, senhora Madrigal! — disse ela, animada e nervosa ao mesmo tempo — Lembra de mim?

     — Como eu poderia me esquecer da nora maravilhosa que você é, Ângela? — respondeu, abraçando minha mãe e se virando pra mim — E essa deve ser a Alice!

     — É ela sim! — respondeu meu pai — Tira o capuz, Alice!

     Sem opção, eu fiz o que ele me pediu e tirei o capuz. Imediatamente os pensamentos de todos se embaralharam.

     "Minha nossa, que cabelo é esse?", pensou alguém que deveria ter sido a Isabela. "Ela é a cara do pai", pensou o tio Félix. "Essa menina parece um fantasma!", pensou a tia Pepa, com um tom meio assustado (Sim, eu não só ouço pensamentos, como também ouço o tom que eles têm. Por exemplo, posso saber se alguém está enojado).

     De certa forma eu estou meio fantasmagórica mesmo. Após tanto tempo sem sair da clareira, eu estava pálida, com olheiras e os cabelos bagunçados.

     As pessoas costumam me dizer que eu sou igualzinha ao meu pai, e é verdade. Tenho os mesmos cabelos que ele, e boa parte da minha personalidade era parecida com a dele. Só as sardas, a pele pálida e os olhos verdes são da minha mãe, que é loira.

Alice Madrigal [+10]Onde histórias criam vida. Descubra agora