Capítulo IX | Projeto Luisa

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     Fui me esgueirando pelos cantos, apesar de no momento não haver ninguém ali. Enquanto ia olhando ao redor, vi umas máquinas sendo construídas. Elas aparentavam ser uma armadura robusta com garras. Elas eram prateadas e tinham detalhes azuis. Para que elas serviriam?

     Me aproximei de uma, e pude ver como ela era grande. Tinha um caderno de anotações na frente dela e comecei a ler:

     “Projeto Luisa 2.0 – Em fase de testes”

     “Projeto Luisa 2.0”? Do que se trata? Folheei as anotações, e vi alguns desenhos de antigos projetos. Parece que se tratam de armaduras de alta resistência, capazes de suportar bastante peso. Daí o nome “Projeto Luisa”.

     Folheei mais um pouco e vi o desenho de alguns membros da família Madrigal. Numa parte onde tinha a tia Pepa, estava escrito:

     “As armaduras serão a prova d’água para evitar que enferrujem. Tornando-as imune aos poderes de Pepa Madrigal.”

     Parecia que as únicas possíveis ameaças eram a tia Pepa e a Luisa, mas de repente eu vi algo que me fez tremer: eu estava nas anotações.

     Me aproximei mais para ler o que estava escrito sobre mim:

     “Alice Madrigal é a maior ameaça ao plano. Por isso cada um usará um dispositivo especial que permite que seus pensamentos sejam bloqueados. Assim ela não poderá ler nossa mente e antecipar nossos movimentos.”

     Estava em choque. Haviam máquinas sendo criadas para serem usadas contra os Madrigal, e eu sou a maior ameaça para o plano deles. Mas que plano? E o Hernando... Está metido nisso? Foi por isso que eu não consegui ler os pensamentos dele. Ele está usando o tal dispositivo!

     Eu queria continuar lendo as anotações, mas de repente eu ouvi vozes se aproximando, e tive que me esconder atrás de algumas máquinas.

     Assim que se aproximaram o suficiente, pude distinguir uma figura alta e forte. Hernando! Ele estava vindo com mais três homens misteriosos. Todos vestidos com mantos pretos com detalhes em vermelho e capuz escondendo seus rostos.

     Eram iguaizinhos aos que eu vi na visão do meu pai. Eu queria poder sair, mas o lugar estava tão vazio, que qualquer barulho pode chamar a atenção deles, e não tinha como chegar a porta do outro lado sem que ninguém visse.

     Decidi ficar para saber mais do plano, e assim que forem embora, eu saio daqui.

     — As máquinas já estão prontas, Tobey? — perguntou Hernando. Ele tinha uma postura muito mais ereta e intimidadora. Diferente da postura gentil que ele mostrava para os outros.

     — Todas as vinte, Sr. Guzmán! — respondeu Tobey, o cara que estava ao seu lado. Era o único com o manto diferente, que tinha as cores invertidas — Creio que serão o suficiente para o ataque de amanhã!

     — Ótimo! — ele esfregou as mãos — Preparem todas elas. Saímos em uma hora!

     — Sim, senhor! — Tobey mandou os outros dois capangas embora e ficamos apenas nós três.

     — Sabe, Tobey — começou Hernando — Nunca pensei que esse dia chegaria.

     — Nem eu, senhor. Confesso que às vezes eu acho que isso tudo é um sonho!

     — Pois então, meu amigo, saiba que esse é um sonho que se tornará realidade! — respondeu, determinado — Finalmente os Navajas vão assumir o poder de Encanto e destronar os Madrigal de uma vez por todas!

     — Eles se acham bastante com aqueles seus dons, mas vejamos se eles serão páreos para nossas armaduras imbatíveis!

     — Escreva o que eu digo: a partir de amanhã, os Madrigal estarão fora do nosso caminho, e Encanto estará sobre o nosso domínio!

     — Mal posso esperar!

     Os dois riram juntos. Eu tentava ler os pensamentos deles, mas não adiantava. O Tobey também estava usando o dispositivo.

     — E se os Madrigal quiserem lutar? — perguntou.

     — A proposta é simples: ou eles se rendem e desaparecem de Encanto, ou morrerão. Sem piedade!

     Isso era mais do que eu podia suportar. Eu preciso ir embora logo e avisar todo mundo!

     Fui me esgueirando por trás das máquinas em direção a porta. Não importa se atrás dela tem um escorregador. Eu posso escalar ele sem problemas. Afinal, no desespero a gente faz qualquer coisa!

     Estava quase lá, mas antes de chegar, eu fiz algo imperdoável: tropecei nos meus próprios pés. Antes de tombar eu agarrei uma caixa de ferramentas, o que foi uma péssima decisão, e caí no chão, derrubando ela junto e fazendo um barulho que ecoou no laboratório inteiro.

     — O que foi isso?! — gritou Hernando.

     — INTRUSA!!! — gritou Tobey, apontando para mim, que ainda estava caída no chão — GUARDAS, PRENDAM-NA!!!

     Antes que eu me levantasse completamente, os dois capangas que estavam aqui antes tentaram me puxar, mas eu empurrei eles e peguei uma chave hidráulica para me defender.

     Enquanto eles se aproximavam, eu os ameaçava com a chave hidráulica, até que um capanga tentou me agarrar. Acertei a chave na cabeça dele, que desmaiou. Aproveitei e acertei o outro também, que caiu assim como o outro.

     — NÃO A DEIXEM ESCAPAR!!! — gritou Tobey.

     Não tinha como eu abrir a porta e passar por aquele caminho de novo. Teria que encontrar outra saída. Por sorte eu era rápida, e todos ficaram pra trás. Comecei a correr por todo lugar, sem saber ao certo pra onde eu tava indo.

     Hernando... Como pôde fazer isso? Será que o Mariano sabe? E a Sra. Guzmán? E se eles estiverem envolvidos nisso também?! Preciso de respostas. Preciso encontrar a saída!

     Ainda escutava passos atrás de mim. Arrisquei-me a olhar pra trás e vi outros capangas me perseguindo. Não sabia o que fazer além de correr.

     Para o meu desespero, eu tomei o caminho errado e dei de cara com uma parede. Estava encurralada!

     Me virei e vi os homens encapuzados me cercarem. Seria esse o meu fim? Bem, se for, eu não irei sem lutar.

     Me posicionei com a chave hidráulica na mão, e fui golpeando todos os que se aproximavam. Eles estavam desarmados, mas eram muitos, e me agarraram. Subitamente, senti como se meus reflexos tivessem melhorado, e comecei a ficar mais ágil.

     Me desvencilhei dos capangas, mas fui agarrada por outros. Achei que havia sido derrotada, mas de uma forma surpreendente, consegui emitir uma áurea arroxeada, que lançou todos longe.

     — O que é isso?! — perguntou um.

     — Os olhos dela, vejam! — apontou outro — Estão brilhando!

     Não sabia do que eles estavam falando, mas de alguma forma a minha visão estava bem mais clara do que antes, e tudo ao meu redor estava silencioso.

     Tobey apareceu na porta e gritou:

     — ANDEM, IDIOTAS, NÃO A DEIXEM ESCAPAR!

     Num reflexo involuntário, estiquei a mão para a chave hidráulica que deixara cair, e de alguma forma, ela veio flutuando pra minha mão, envolta pela áurea arroxeada. Incrível! O que pode ter acontecido?

     Não tive tempo pra pensar. Novamente os homens vieram pra cima de mim, mas eu, mais rápida que antes, comecei a golpeá-los novamente, até que um por um, todos estavam no chão.

     A áurea arroxeada que estava vindo de mim parou. Estava ofegante, como se tivesse levantado os pesos da Luisa. Estavam todos desmaiados, e nem sinal de mais capangas, então pude relaxar.

     — Pela apresentação, Alice — disse uma voz fria e monótona.

     Antes que eu pudesse me virar pra ver o que havia acontecido, algo bateu forte na minha cabeça, e eu caí, desacordada.
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     Eita, agora as coisas pioraram pra Alice. E o que teria sido esse seu novo poder? 😮

     O que acharam do "Projeto Luisa"? Comentem pra eu saber se gostaram :3

Alice Madrigal [+10]Onde histórias criam vida. Descubra agora