Capítulo XIII | Exilados

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     Caminhamos por bastante tempo, até que finalmente avistamos a nossa antiga cabana. Quando entramos, ela estava do mesmo jeitinho que a gente deixou. Nunca pensei que voltaria, e apesar de ter sentido falta… Eu não queria ter voltado. Já havia me acostumado com a animação de Encanto, e voltar aqui fez eu me sentir estranha. Preciso me acostumar com o silêncio de novo.

     “A cabana é muito pequena para todos…”, pensou meu pai. Todo mundo pensava a mesma coisa, mas minha mãe tomou a frente e disse:

     — Bem, se nós nos esforçarmos, todos caberão. Ninguém pode ficar de fora!

     — É… Podemos ficar aqui até acharmos um lugar melhor para morar — disse a Abuela.

     As primeiras noites foram um sufoco. Ninguém havia se acostumado com a falta de espaço na cabana, mas se viraram como puderam. Os casais ficaram no quarto dos meus pais, e os solteiros ficaram no meu quarto. Abri mão da minha cama para que Antônio pudesse ficar nela, e fiquei num saco de dormir como todo mundo.

     Só podia dizer que não era nada confortável dormir ao lado do Camilo. Ele fala enquanto dorme, e uma vez estava sonhando com uma tal de “Esmeralda”, uma garota que ele conheceu na festa do Hernando, e que agora estava apaixonado por ela.

     Não era fácil dormir ao lado da Dolores também. Ela queria ficar conversando até altas horas, e boa parte disso é apenas para se distrair da saudade que tinha do Mariano. Mirabel e Isabela também eram umas matracas, e quando as três se juntavam, ninguém dormia.

     Já a Luisa ocupava quase todo espaço do quarto, e em alguns momentos eu não sei como, mas ela acordava quase encima de mim. Foi aí que descobri que ela se mexe enquanto dorme e nem repara. Sem falar que ela ronca igual a um trator.

     O engraçado é que o meu pai fez o Hector dormir no quarto dos casais, porque pensa que ele pode tentar algo “Inapropriado”. Minha mãe pensou a mesma coisa. Já o Julio dormia tranquilarmente num poleiro no canto do meu quarto. Tem horas que eu queria trocar de lugar com ele.

     Em algumas manhãs, os adultos saíam do quarto reclamando que a tia Pepa quando não chovia, nevava enquanto dormia, fazendo todo mundo ficar encharcado. Deve ser complicado ter um dom assim...

                       ***

     Depois de alguns dias frustrantes, o tio Augustín e o tio Félix chegaram com boas notícias:

     — Conseguimos alugar uma casa grande no vilarejo aqui perto!

     — Oh, isso é maravilhoso! — exclamou a tia Pepa.

     — Arrumem as malas, pois hoje todos iremos para lá!

                       ***

     O vilarejo ficava há meia hora de distância. Eu e meus pais já conhecíamos o lugar, mas eu nunca tive interesse de visitá-lo pessoalmente. Minha mãe fazia artesanato e os vendia nesse vilarejo.

     Teve momentos que ela queria que eu fosse junto para eu conhecer pessoas novas, mas na época eu não estava querendo contato com ninguém, então ela parou de insistir.

     Quando chegamos lá, todo mundo se sentiu aliviado. O lugar não era tão grande, assim como Encanto, e até tinha sua beleza, mas ainda sim eu sentia que não pertencia àquele lugar.

     As pessoas nos olhavam em todo canto. Parece que pessoas novas chamam bastante atenção. Eu não estava nada confortável com aquilo. Hector percebeu e segurou minha mão. “Vai ficar tudo bem.”, pensou.

Alice Madrigal [+10]Onde histórias criam vida. Descubra agora