Belinda olhou pelo que parecia a milésima vez para a carta que recebera de Draco aquela manhã, especificamente para a que ele enviara junto com a que escreveu. Ela tinha a plena certeza que em algum momento, após o Castelo se reerguer, Hogwarts retornaria as aulas, só não estava esperando ser acordada em um lindo e quente dia de verão com o convite de retornar para concluir seus estudos, apenas a ideia a fez suspirar mais uma vez, atraindo atenção dos homens Lestrange, que entravam na cozinha naquele exato instante.
-Notícia ruim, Ferinha? –Rabastan quis saber, sentando-se e se servindo de chá com total tranquilidade, mas atento ao que ela iria responder.
-Ainda estou na dúvida. –Ela estendeu a carta para o homem, que fez careta após ler e passou a Rodolphus.
Belinda permaneceu em silêncio enquanto eles analisavam o conteúdo do papel, sendo evidente que nenhum deles sabia o que dizer após perceber o que dizia ali. A realidade é que Belinda pensou, após todas as desgraças que passara, que Hogwarts iria lhe permitir se formar sem frequentar o último ano na Escola.
-O que você pretende fazer? –Para sua surpresa foi Rodolphus a questionar.
-Ir pra praia, talvez? –Ela sorriu falsamente e o homem rolou os olhos, devolvendo a carta com o brasão tão conhecido. –Eu não sei. –Suspirou e apoiou a testa na mesa fria. –Tô confusa.
-A pergunta verdadeira não é o que estás pretendendo, sim o que tu quer fazer, Ferinha.
Belinda fechou os olhos e se imaginou retornando ao Castelo, passeando por seus corredores longos, lendo na incrível biblioteca, comendo no Grande Salão com seus amigos que aceitariam retornar, jogando Quadribol e retomando sua vida e rotina de estudante. Recordando que por muitos anos Hogwarts fora seu local de paz, no entanto, só de lembrar que sofrera tantas perdas no lugar, seu estômago embrulhava e seu coração doía.
-Eu não sei ainda, realmente não sei. –Suspirou. –Não estava pronta para receber o convite de retorno. –Admitiu em voz baixa, como se falasse com si mesma. –Só de pensar que ao voltar pra lá algumas das pessoas que mais amei não vão estar, que eles... –Se interrompeu.
Os dois compreenderam o que ela quis dizer, ainda era difícil para a garota falar sobre suas perdas, principalmente as que ocorreram durante a Guerra, então fora quase que forjado um contrato silencioso que o assunto não seria tocado. E Rabastan sabia que deveria ser mais difícil ainda falar com eles, que estiveram do lado oposto aqueles que estavam mortos.
Rodolphus sabia que o relacionamento com a Belinda estava cada dia mais amigável, conseguiam conviver com tranquilidade, mesmo quando estavam sozinhos; também encontraram gosto similares para música, as quais costumavam ouvir enquanto bebiam algo no fim do dia; as vezes jogavam xadrez-bruxo e até mesmo falavam amenidades, mas ele entendia também que seu relacionamento era frágil, não eram tão próximos como ela e Rabastan, por isso se anulava de falar muitas coisas, contudo ele entendia a dor do luto.
-Pensa nisso com calma e cuidado. –Ele aconselhou, fazendo-a virar o rosto em sua direção, deixando a bochecha apoiada na mesa. –É a sua vida e agora não é mais obrigada a nada, você pode seguir o caminho que preferir e como quiser. –Ele sorriu levemente, vendo a semelhança que aquele olhar tinha com o de Tori. –Se precisar, estaremos aqui, mas é uma escolha sua. –O sorriso que ele deu foi calmo, no entanto Belinda notou certo pesar nos olhos escuros. –E sei que escolherá algo bom.
Belinda não disse nada, apenas o encarou longamente, como se o que ouvira fosse um quebra-cabeça e ela estivesse tentando decifrar cada peça para colocar no lugar. Rodolphus era um enigma na maior parte do tempo, mas parecia cada dia mais gentil, como se tentasse lhe compensar de alguma forma por toda a ausência e dor causada, mesmo que não se tratassem como nada mais que pessoas que dividiam o mesmo espaço e tinham um relacionamento afável.
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A Filha das Trevas - Pacto de Sangue (Livro 3)
FanficQuando o mundo está prestes a desmoronar, as conexões com seu próprio eu e aqueles que lhe são preciosos é essencial. Mas nem sempre as pessoas que mais lhe dão forças são necessariamente quem você imagina, muitas vezes os que irão lhe proteger com...