Capítulo Cinquenta e Um - Pausa

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     Belinda se acalmou ao longo do que pareciam horas de silêncio abraçada a George, a mão direita acariciando distraidamente as madeixas ruivas enquanto sua mente vagava por lembranças outrora tão felizes naquele quarto, de uma explosão enquanto tentavam criar a Amortentia ou mesmo os tão adorados fogos de artificio de bolso. Todo aquele espaço era recheado de boas memórias, o que Bell imaginava que, se era terrivelmente doloroso pra si, deveria ser desolador para George.

-Eu sinto falta do meu irmão, Bell. –George quebrou o silêncio. –Tanta falta que as vezes mal consigo respirar. –Admitiu, ainda abraçado a cintura da amiga. –Eu não sei mais o que fazer, parece que eu só tô enlouquecendo ou me perdendo cada dia mais, seja porque o vejo em qualquer reflexo ou porque tudo me faz lembrar dele. –Belinda o ouviu. –Eu sei que todo mundo espera algo. Esperam que milagrosamente eu saia festejando desse quarto e brincando como antes, que eu retorne a vida que eu levava e que seja feliz como sempre, mas eu só... Eu não consigo mais, Bell.

     Belinda respirou fundo e beijou o topo da cabeça dele, se afastando em seguida e sentando-se de frente pra o ruivo, encarando-o com seriedade e escolhendo cuidadosamente as próximas palavras que iria proferir, porque ela sabia que seria levado em consideração tudo o que diria ali e isso a fazia temer em dizer algo errado.

-Você não precisa fazer o que os outros esperam. –Ela informou, tentando passar toda a verdade possível através de seus olhos. –Você não precisa viver de acordo com os desejos dos outros, só precisa achar seu próprio caminho e tempo, só tem que seguir o que você mesmo deseja. –Acariciou o rosto do amigo. –A vontade das demais pessoas, mesmo que com boas intenções, nem sempre se encaixam pra gente ou são o melhor. –Assegurou. –Às vezes elas são apenas... Sufocantes.

-Você diz isso por ter passado pela mesma situação?

-Essa foi uma das razões que me levaram a ficar longe.

-Como assim? –Ele tentou secar as lágrimas e Belinda suspirou, esticando a mão e secando as bochechas cheias de sardas.

-Quem não estava esperando que eu melhorasse milagrosamente de todas as perdas que tivemos e todo o sofrimento que ganhamos, esperava algo ruim da minha parte. –Admitiu.

-Ruim? –A encarou preocupado quando ela removeu a mão do seu rosto.

-Sim. Ou que eu me matasse ou que eu iniciasse uma nova Guerra. –Ela foi clara e ele fez careta.

-Você não faria a primeira mesmo que tenha vontade, porque acabamos de perder muita gente e você sabe que a maioria iria surtar se você se matasse. –Ele comentou de leve e ela assentiu, percebendo que talvez George já houvesse pensado tanto na possibilidade quanto ela. –E a segunda não tem nem sentido.

     Belinda assentiu e encarou o teto por um momento, pensando em todos os olhares que recebera de Narcisa durante o tempo pós Guerra ou mesmo dos Aurores que insistiam em ir vez ou outra verificar se as Punições dos Malfoy estavam sendo cumpridas e se Lestrange não estava à beira de um colapso mental ao ponto de se tornar a próxima Bruxa das Trevas.

-Pois é, mas haviam tantas expectativas que eu fiquei sufocada, o que acabou me fazendo perder de vista quem eu era ou queria, então o Draco... –Belinda mordeu o lábio inferior, percebendo de quem iria falar e para quem seria dito.

-Está tudo bem, eu não o odeio também. –Esclareceu e sorriu de leve ao notar a cara de surpresa dela. –Ele me disse que, mesmo que eu não acredite nele, sente muito e que teve suas razões para fazer tudo o que fez, além do medo. –Ela assentiu ainda se sentindo confusa e se questionando quando exatamente Draco falou com George. –Você é uma dessas razões, não é? –Belinda mordiscou o lábio inferior e assentiu outra vez. –Eu já imaginava isso, nós tínhamos conversado antes da Guerra... –Belinda tinha certeza que ele falava de Freddie. –Ele disse que a única coisa que faria o Draco se preocupar mais do que com o próprio rabo seria se você estivesse envolvida.

A Filha das Trevas - Pacto de Sangue (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora