A Filha das Trevas - Pacto de Sangue (Livro 3)

Capitulo Cinquenta e Quatro - Única

     Belinda acordou bem antes de o sol nascer, tremendo e sufocando um grito de pânico. Mais um de seus diversos pesadelos vieram despertá-la para um novo dia, o sonho foi tão vivido que a marca em sua cintura ardia como se Bellatrix houvesse acabado de abri-la com o Garfo dos Hereges. Levou a mão a cicatriz e respirou fundo, enquanto repetia em sua mente que era apenas mais um sonho, reforçando isso ao encarar Dorian dormindo pacificamente ao seu lado. A parte consciente de sua mente sabia que tudo não passava de lembranças doloridas, mas ainda assim era sempre doloroso recordar.

     Ergueu-se cuidadosamente e caminhou para o banheiro, pretendendo seguir seu ritual matinal e assim o fez. Belinda franziu o cenho enquanto se secava, gostava do odor de lavanda, no entanto não era seu cheiro de fato, precisava recuperar seus produtos de sândalo, eles sim a representavam corretamente. Foi esse pensamento que a fez sair do banheiro, buscar uma caneta e papel, partindo assim que deixou um curto recado para que Dorian não se desesperasse com seu desaparecimento repentino.

     Lestrange desaparatou em Mallorca, caminhando tranquilamente pela praia, aproveitando o silêncio e quietude do começo de noite, fazendo com que não houvesse quase ninguém ali, exceto alguns poucos surfistas caçando ondas, sentou-se na areia e os observou deslizarem na água, no entanto acabou por se perder em pensamentos, ainda tentando esquecer o sonho e se apegando no dia anterior, nas brincadeiras com os Bonecos de Voodoo, nos braços calorosos e lábios macios de Dorian. Cada mínima recordação a ajudava a manter a sanidade.

-Deixa eu adivinhar, estava com o namoradinho. –A voz de Rabastan surgiu as suas costas, despertando-a dos pensamentos e a fazendo rolar os olhos enquanto encarava o homem.

-Quem disse? -Foi a vez de Rabastan rolar os olhos e sorrir, enquanto sentava ao seu lado.

-Tô errado? –Desafiou e ela bufou.

-Não.

     Rabastan sorriu, observando-a por alguns segundos e notando que apesar da aparência tranquila, a mão acariciava o local a qual Bellatrix lhe machucou, como se tentando amenizar alguma dor e ele percebeu que a garota tivera mais um de seus diversos pesadelos, mas decidiu não comentar nada e encarou os surfistas também, sempre se questionara o que os Trouxas viam naquele esporte.

-Será que eles se sentem como peixes enquanto deslizavam pela água? –Questionou como quem não quer nada, atraindo a atenção de Belinda. –Será que também se sentem da mesma maneira quando são devorados por algum tubarão em busca de comida?

     Belinda absorveu a questão por cerca de dez segundos, antes de explodir em uma gostosa gargalhada devido a surpresa da tola questão que o outro levantou. Foram questões tão inesperadas que a menina até mesmo esqueceu seus pensamentos e se perdeu na diversão da bobagem dita por Rabastan, que sorria divertido.

-Por Merlin, Bast. –Riu novamente. –Tu tem cada ideia ridícula. –Rabastan riu também, percebendo que conseguiu o que desejava, distraí-la.

-É uma dúvida válida, Ferinha.

-Claro que sim. –Debochou, ainda rindo. –Porra, agora toda vez que eu olhar pra um surfista, essa merda vai surgir na minha cabeça. –Bufou.

-Problema é teu.

     Belinda rolou os olhos. Cada dia que passava parecia mais natural conviver e conversar com Rabastan, até mesmo com Rodolphus, o que seria impensável há pouco mais de um ano. E apesar de tudo o que sabia dos dois homens Lestrange, não tinha como negar que se sentia confortável na presença deles como ocorria com poucas pessoas naquele momento de sua vida.