Capítulo 01

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Julho de 1956

Os garotos já me esperavam em frente a Vibe 50, todos ao redor de suas lambretas, exibindo as novas marcas que saíram no mercado ultimamente. Sorrio e acendo meu cigarro que pende em minha boca, guardo o isqueiro e pego um pente fino na minha jaqueta de couro para pentear meu volumoso cabelo preto cheio de gel mas estiloso de uma forma que meus amigos não conseguem deixar.

Por trás dos óculos escuros, meus olhos semicerram admirando as meninas sorridentes em volta dos garotos, elas abraçam os fichários da faculdade, tem lenços em volta da cabeça como tiaras e seus penteados variam de presos para soltos, seus vestidos são apertados até a cintura e bufantes até o joelhos com estampas de joaninhas, listras e bolinhas, usam sapatilhas e se não fossem todas de beleza diferentes, diria que elas eram irmãs de roupa e estilo, basicamente uma copiando a outra.

Caminho em direção a eles, apertando o cigarro nos lábios e tragado o fumo. Tiro o canudo com meu polegar e indicador e solto a fumaça com o canto da boca em um sorriso torto. É minha anunciação pois os garotos logo param de conversar com as meninas e me saldam de longe, já elas ficam tímidas e outras parecem se assanha com a minha presença.

- Olha só quem está de volta ao solo brasileiro - Ricardo fala com seu sorriso largo e com um punhado de cabelo loiro caído na testa, esse é meu melhor amigo em anos e meu cúmplice nas noites paulistas.

- Sabe como é, né? Passar um tempo fora foi bom mas nada se compara ao lar e aos amigos - digo me aproximando de Félix que passa um braço em volta do meu pescoço amigavelmente.

- Tá de brincadeira? Só esse riquinho metido a besta pra falar uma asneira dessas - Félix diz tomando uma Coca de garrafa com canudo azul e listrado - Se eu tivesse a oportunidade de viajar pros Estados Unidos igual a nosso amigo aqui, nunca mais voltaria pra essa Terra de Índio.

- Cara qual seu problema com os índios? - Analice, nossa amiga mais proxima diz. Ela é loira e usa bastante maquiagem.

- Ora o de sempre, eles estão ocupando uma floresta enorme que pode muito bem servir pra construções de mais prédio e shoppings - Félix diz sorrindo e faço questão de afastar seu braço de mim - Qual foi? Não concordam comigo? Sem floresta, sem índios e mais shoppings pra gente.

- Que idiota - Guto fala balançando a cabeça e tirando o chapéu para arrumar o penteado.

Chego perto de Analice e beijo seu rosto, sussurro que sentir sua falta e não percebe ela corando por causa da maquiagem pesada.

- Não liga pro que esse idiota fala, Ana - pego a Coca da mão de Félix e tomo em gute-gute.

- Ei, a minha bebida - ele reclama.

- Compra outra seu otário.

- Vai se ferrar Bravalone - ele fecha a cara e entra na Vibe 50 para comprar mais lanche.

- Nossa - uma das amigas de Analice solta com um sorriso nos lábios e uma fofoca pronta para espalhar.

Mesmo que se espalhe a minha amizade com os garotos é muito forte para uma fofoca ou qualquer desentendimento quebrar. Sempre brigamos e sempre voltamos a nos falar normalmente, assim como sei que Félix vai dá um tempo na Vibe 50 e depois vamos ao cinema.

Guto me fala sobre tudo o que aconteceu nas férias de verão por aqui. Fiquei sabendo do novo envolvimento romântico entre Sabrina e Antônio, o que me surpreendeu muito já que eles se odiavam desde o primeiro semestre na faculdade e viviam se bicando e agora viviam entre beijinhos, por exemplo eles não estavam na roda pois provavelmente estariam namorando em algum lugar.

- Por que voltou mais cedo que sua família? - Ricardo me pergunta se olhando no espelho da sua lambreta nova de onde ele ainda não desencostou.

Nós dois e Analice conversamos a sós um do lado do outro pois o grupo se afastou para falar de outros assuntos. Guto, Osvaldo xavecavam as meninas até aparecer um Félix sorridente para se juntar a trupe.

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