Capítulo 03

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O vapor da ducha embaça o vidro do banheiro, passo os dedos escrevendo bobagens que me vem a mente. A água quente surra minha costa ao ponto de deixá-la vermelha, enfio novamente o rosto embaixo do chuveiro e ergo a cabeça para sentir a temperatura entre meus olhos e bochechas.

Desligo o interruptor e a água quente cessa assim como o vapor. Pego uma toalha presa no cabide e começo a me enxugar até não sobrar nenhuma gota no meu corpo. Me encaro no espelho e tento limpar a mente dos lampejos que tenho do dia terrível.

Uma sucessão de acontecimentos desde que cumprimentei meus amigos na porta da Vibe 50. Os ladrões dando voz de assalto, Rose e Will desesperados, Caroline me chamando de babaca e não posso discordar dela, Analice chorando nos braços de Ricardo, Cristóvão se tremendo, respirando fundo até encontrar uma paz interior no meio do caos exterior, Mia tentando acalmá-lo para ele não se desesperar no meio do ataque de pânico.

E tudo isso vai rimbombando na minha mente em ordem cronológica e as vezes em pedaços que não posso destinguir. Quando me fizeram de refém e pediram para eu ser o escudo do assalto e uma arma foi parar na minha cabeça, isso foi antes ou depois de Caroline me lançar olhares de desprezo? Antes ou depois de Will ser derrubado no chão e ter levado um soco no rosto?

Balanço a cabeça em frente ao espelho me livrando das lembranças ruins e focando apenas nas boas. Da sensação eletrizante que foi segurar a mão de Cristóvão e ter acalmado ele nem que por dois minutos, seu olhar para mim com ternura, ele pedindo para eu chamá-lo de Cris pois só as pessoas que ele gostava o chamavam assim.

Um inevitável sorriso se expande em meus lábios quando lembro do toque de sua mão apertando a minha em agradecimento por eu ter ido em seu lugar com o ladrão.

Pego meu gel e dou um jeito no meu cabelo com um pente de cerdas finas e duras, deixo meio desleixado por estar em casa provavelmente eu não sairia hoje depois do acontecido durante a tarde. Recusaria qualquer convite para uma discoteca nem que me custasse uma noite sem beijos na boca para relaxar.

Passo uma loção pós barba apenas pelo aroma bom pois sei que as meninas ficam loucas quando me cheiram. Sigo para meu quarto e pego um calção verde de tactel, sem me preocupar em colocar uma cueca, visto ele e vou direto para o sofá na sala.

Ligo o rádio e deixo em uma estação de música rock com o volume no mínimo devido a minha dor de cabeça. Aprumo o travesseiro e me jogo no estofado da mamãe com a esperança de não ser incomodado pelo resto da noite.

Até poderia ligar para uma menina vir aqui em casa para gente beber uma coisa ou fumar outra e relaxar já que meus pais só chegam daqui dois dias da viagem de negócios do papai que a mamãe insiste em afirmar que são férias curtas de verão. Mas não vou ligar pra ninguém e ser interrogado como foi ser refém em um assalto como aquele.

Sem dúvidas a notícia já tinha se espalhado aos quatro ventos e profissionalmente estava em todas as estações de rádio e todo mundo queria saber mais um pouco para aumentar e inventar ao ponto de se tornar o maior assalto de São Paulo.

Deixo a mente limpa de qualquer assunto chato que possa me perturbar e fecho os olhos deixando minha mãos obre meu peitoral desnudo. No breu proposital na sala da minha casa eu durmo feito uma pedra.

°°°

Prendo a respiração por longo minutos enquanto bato os pés contra a água gelada da piscina. Finalmente chego na outra borda e volto a respirar passando a mão no rosto para afastar o cloro. Olho em volta e fito as adolescentes do prédio em seus maiôs cavados e outros mais comportados, algumas senhoras com vestidos e chapéus enormes para se protegerem do sol e alguns marmanjos de sunga e shorts curtos como modelos na passarela indo para lá e para cá.

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