Capítulo 05

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Ele desencosta do tronco ainda de braços cruzados e caminha pela ponte, seus passos lentos fazendo a madeira tanger sob os pés. Consigo admirar sua beleza por dentro e pro fora, sua sensibilidade ao ouvir e entender uma das minhas muitas histórias rebeldes, seu jeito calmo e incrivelmente não consigo tirar meus olhos daquele corpo.

Sinto-me envergonhado por isso, pois meu instinto sexual é forte demais e já tem um bom tempo que não fico com ninguém. Fito sua bunda redonda e robusta e me atento em suas pernas torneadas, algo pulsa na minha virilha ee remexo onde estou para Cristóvão não perceber minha leve ereção contra a calça.

- Minha vez -sua voz invade meus ouvidos.

- Hã? - indago um tanto confuso olhando em seus olhos azuis.

- Você me contou um pequeno pedaço da sua história, agora me sinto na obrigação de retribuir - ele diz e fica do meu lado olhando para a cidade enquanto eu olho para o outro lado escuro da mata do parque.

- Então fale, também estou interessado na sua vida quando estava na Espanha.

- Quem te contou que sou espanhol?

- Além do seu sotaque? - ele sorri e fica vermelho - Minha amiga Analice meio que fuxicou com as meninas da faculdade e descobriu.

- Eu sou metade de cada.

- Como assim?

- Meu pai é espanhol e veio pro Brasil ilegalmente no porão de um navio cargueiro em busca de trabalho pesado mas não encontrou nada e os pequenos trabalhos que fazia era como pedreiro. Acontece que uma noite ele conheceu minha mãe durante um baile, ele a engravidou mas ela nunca quis o bebê mas ele insistiu para ela continuar.

"Ela me teve mas foi embora com outro homem mais rico quando eu era bebê. Meu pai cuidou de mim aos trancos e barrancos, foi graças à um cortiço onde tinha uma gente boa que o ajudou comigo. Quando eu já tinha dois anos, ele inventou uma viagem - mesmo eu não tendo ideia de que ele estava sendo ameaçado de ser deportado - nós fugimos para a Espanha e foi lá que eu aprendi a falar, ler e escrever."

"Lá eu conheci a Mia e viramos amigos de sangue, quase irmãos e vivemos tranquilos até os dez anos onde nossos sonhos estavam aflorando e nós queríamos mais da vida, mais do que aquela vila onde morávamos podia oferecer. A madre de Mia anunciou que elas iriam embora tentar a vida no Brasil assim como meu pai fez anos antes, ela conseguiu lugares em um navio e meu pai clamou para ela me levar."

"Ele conversou comigo e disse que não tinha nada para né oferecer, que eue devia seguir sozinho de agora em diante. Ele já estava viciado em bebidas nessa altura e eu meio que não tinha esperança na vila então decidi vir com as duas. Me despedi dele e nós três viemos pra cá e desembarcamos no Raio de Janeiro.'

"Como um milagre a madre de Mia conseguiu um emprego como professora, ela nos matriculou na escola onde fez amizade consolidada com a boa diretora de lá. Ela nos deu abrigo e o que comer até a madre de Mia ganhar bem, foi nessa escola que aprendemos e estudamos com muito esforço"

"Mia já estava falando português meio enrolado mas falava, nós dois éramos excelentes em dança e nos empenhamos mais ainda nisso até que um dia no ensino médio um olheiro nos viu e ofereceu uma bolsa nessa universidade, então viemos pra cá e estamos morando naquela rua como você viu.

Ele suspira saudoso.

- Me contou mais do que um pequeno pedaço seu - falo me virando para encará-lo.

- É eu sei, desculpe. Quando eu falo é estou nervoso não consigo mais parar - ele fica vermelho.

- Adorei saber da sua vida mas é quanto ao seu pai?

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