Capítulo 10

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Tento desringuir o que está acontecendo de fato ou o que é apenas um sonho. Minha barriga enfaixada e dolorida é um fato, uma agulha inserida no meu antebraço é um fato, dois catéteres enfiados no meu rariz inflando oxigênio para meu corpo é um fato. Já as sombras desfiguradas e marchando na minha direção é apenas um sonho ruim.

Mordo o lábios gemendo tentando não gritar, eles estão com as mãos estendidas e sei que vão me pegar, meus atos imaturos e cruéis do passado. Meus ceifadores prontos para me levar à escuridão sem fim.

Quero ficar aqui, agachado, escondido, protegido e acolhido no escuiro onde sei que eles não me acharão. Não quero voltar para realidade e enfrentar a vida, uma vida como a minha não recomendo para ninguém.

Então tenho picos de tentar acordar e dormir para sempre, um dia quero voltar e outro não. Só sei que o tempo deve estar passando como um correnteza furiosa e sem se importar em esperar pelos retardatários.

O desfoque é um fato. As luzes acima de mim é um fato. O som de passo lerdos é um fato e só assim eu sei que estou acordando de umaconfortável e protetor lugar que se fosse por opção, eu não sairia.

Gemo um nome, normalmente o único que me importa. Quero vê-lo, quero falar com ele, quero tocá-lo, amá-lo.

— Cris...

— O que ele disse? — uma voz familiar diz seguida por um bip.

A máquina ao meu lado registra meus batimentos cardíacos, a figura mostra um elevado e constante traço subindo e descendo, formando uma cadeia de montanhas verdes. Meus olhos piscam pesados por causa de algum medicamento para me manter dormindo por o que? Dias? Horas? Meses?

— O nome de uma garota. Não toma jeito nem no leito de morte — essa deve ser minha irmã.

— Carla, pelo amor de Deus, veja como fala! — minha mãe reprova sua atitude.

— Cris...

— Viu só, eu não disse? Analice, Mia e agora essa tal de Cris — Mia sorri e parece cruzar os braços.

Minhas pernas estão encolhida embaixo do lençol e sinto um formigamento quando estico elas pelo colchão da cama hospitalar. Sinto uma pontada na barriga e então me lembro de tudo como um acidente inesperado.

— Quem deve ser essa Cris?

— Mãe.

— Oi querido, como está se sentindo? Carla vá chamar o médico para seu irmão.

Minha irmã revira os olhos mas sala do quarto. Mamãe segura minhas mãos pálidas e alisa meu cabelo, ela beija minha testa e me pergunto onde está meu pai? Se bem que a resposta me vem imediatamente e sinto vontade de rir mas se eu fizer isso, minha barriga vai doer.

— Me explica o que houve — peço num fraco resmungo.

— Seu amigo Ricardo ligou para Analice no dia em que ela contou a você, precisamente depois que ela foi lá em casa e então ele soube sobre sua gravidez e ela contou quem era o pai — mamãe engole em seco com a lembrança — lembro que na segunda de manhã ele foi lá em casa te procurar mas você já tinha ido pra faculdade então eu... eu disse a ele onde você foi pois sabia que nada aconteceria pela longa amizade de vocês.

— Ele me esfaqueou — digo ainda não acreditando — Amava a Analice

— Sim, foram oito golpes mas não chegou a fazer um estrago grande, ele só feriu seu fígado e seu estômago. Foram duas cirurgias fáceis mas te manteriam cedado para aguentar a dor — seus olhos marejam.

— E o papai?

— Ele ficou furioso quando soube e ficou por perto nos primeiros dias mas agora está de volta ao trabalho.

A Ponte do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora