Desde o jogo de luzes no teto acima do lustre de cristal com milhares de ramificações até à pista de dança em frente a mesa do DJ sei que a boate está fervendo. A noite está queimando, como diz meus amigos, queimando de vida e promessas que todos ali querem que se concretizem.
— O Nicolau quase triturou aquela vaca no tribunal! — Giulia solta uma risada sonora e deixa o resto de sua bebida cair sobre seu vestido caro.
— Não exagera, ela estava muito despreparada — ele diz tomando um gole de martini, seu sotaque francês e pesado — parecia que eu estava enfrentando uma caloura de direito.
Outra garçonete com uma minissaia e bandeja na mão aparece na nossa frente, Giulia não esperava muito e se levanta para pegar a próxima taça, já eu e Nicolau esperamos ser servidos por ela, a garçonete pisca para mim assim que coloca meu copo de vodca na mesa. Ela vai embora sem ganhar nenhuma atenção da minha parte.
— Jesus! Essa é a oitava garota que pisca pra você só essa noite — Giulia exclama — acho que tô velha mesmo pra essas festas.
— Ele não tem culpa de ser extremamente gato e gostoso — Nicolau diz sem vergonha alguma.
— Minha nossa — ela sorri comendo a azeitona do palito —, está quase se jogando nos braços dele maninho.
Nicolau e Giulia gargalham lembrando de algo e então começam a focar em uma fofoca que circula pelo tribunal. Não dou muita importância para isso, miro Nicolau dos pés a cabeça e não vejo nada de atrativo nele para mim.
Ele chegou do Congo há um mês e está ajudando Giulia no escritório enquanto ainda estou em luto — e mesmo assim me arrastaram para essa festa pois achavam que eu estava muito preso no meu apartamento. Nicolau e negro como a irmã e usa dreads no cabelo, seus olhos são pura avelã, sua pele é lisa como ébano e corpo é magro e preenchido com músculos. É um homem bonito mas não me chama atenção pois eu já tenho outro em mente.
— Acho que assuntos chatos devem ficar em lugares chatos — digo, chamando atenção deles que falavam do escritório.
— Ei, esse lema é meu! — Giulia protesta.
— Então siga ele.
— Gosto de você a cada dia Wesley, nunca vi homem nenhum repreender minha queridissima irmã — ele me lança olhares como a garçonete me lançou.
— Acontece que ele não é qualquer homem e já somos íntimos o bastante. Deixamos disso por que já tenho um carinha ali doidinho por mim — ela diz.
— Como você sabe? — levanto as sobrancelhas para onde ela está de olhos fixos, um cara barbudo na pista de dança estava mais parado do que dançando e de olhos postos em Giulia de um jeito quase vulgar demais.
— É quase palpável que ele está afim de mim — ela se levanta e ajeita seu vestido vermelho de mangas longas e colado ao corpo —, até garotos. Divirtam-se.
Ela vai rebolando para pista de dança e descaradamente começa a se esfregar nele. Sorrio ao lembrar de sua idade, muitas mulheres estariam com maridos ou cuidando de casa mas ela estava agindo feito uma garota de 23 anos, gosto disso em Giulia. Fito aquele estranho quase ritual de acasalamento e tomo minha vodca que desce feito água por tanto tempo acostumado a beber.
— Nenhuma presa em vista?
Nicolau se aproxima de mim quase esbarrando em meus braços. Estamos na área vip da boate e tomando tudo de graça pois o dono do bar foi nosso cliente uma vez e ganhamos sua causa na justiça. Nicolau, eu aí tinha percebido, é atrevido e não tem medo de receber um "não" então não exigo muito e apenas lhe ofereço um sorriso cândido.
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A Ponte do Amor
RomanceDuas histórias de amor conectadas pelo tempo. A rápida e conturbada relação de Cristóvão e Pedro parece semear algo que no futuro será duradouro e certo para Renan e Wesley. Épocas diferentes onde tudo parece ter mudado, porém, os casais enfrentarão...