A fumaça subia a centímetros do meu rosto, semicerro os olhos para focar na luz fraca que me rodeia. Ouço o barulho corrente da água que passa por baixo da ponte com rapidez.
O rio está cheio e passando como décadas atrás, não mais uma lama cheia de arbustos e flores como meu avô descrevia nas cartas. O rio está belo e quase tentador demais para tomar um banho, não fosse o clima gelado da cidade.
Atrás de mim a floresta assombra em sua escuridão, um matagal de lama e árvores finas que se emaranhavam uma nas outras, vaga-lumes iluminavam aqui e ali em pontos estratégicos. Encaro os prédios imensos com admiração, são condomínios e edifícios comerciais ligados no 220 volts com luzes e som abafados por causa da distância.
As avenidas também ressoavam ao longe assim como algumas pessoas passeando pelo parque que cerca o rio. Ele fica escondido entre algumas árvores e devido a mal iluminação ninguém vem muito aqui, então tenho total liberdade para fazer o que quiser.
Limpo uma poeira inexistente no meu ombro coberto por minha jaqueta preta de couro, ela tem a mesma cor da minha calça jeans e meus sapatos maneiros, apenas minha camisa regata é branca. Meu cabelo sempre liso e um tanto desleixado estava muito bem penteado com um gel importado, minha barba estava aparada e arrumada para ele.
Trago mais um pouco o cigarro preso em meus dedos e solto a fumaça em bolotas, mais um trago e dessa vez solto ela em círculos que vão entrando e subindo um no outro para cima. Aprendi esses truques com meu parceiro Guto, ele é ruivo e vive na cola do meu outro amigo Félix, um moreno bombado que só pensa em academia e em pegar mulher.
Um farfalhar chama minha atenção e desencosto do tronco e tiro uma mão da corda. Uma figura humana e escura vem na minha direção, ele caminha com graça e leveza até parece dançar balé na minha frente. Renan surge na bruma leve que nos rodea e cobre a ponte até tocar no rio, ele sorri e eu adoro isso.
— Está lindo como sempre meu amor.
— Voce também, Wes.
— Demorou um tantinho assim mas está lindo — aproximo o indicador do polegar piscando um olho e me aproximo dele.
— A Mia tava me enchendo a paciência mas eu dei um chega pra lá nela — ele sorri mostrando todos os dentes.
— Tenho que conquistar logo a confiança da sua amiga senão daqui a pouco ela corta meu saco fora.
— Eu não posso deixar que isso aconteça.
Não percebo mas ele chegou perto demais do meu corpo, seus braços me enroscam, ele está me abraçando com força e tocando em meus lábios com os seus. Seu cheiro é fantástico, seu gosto quase proibido me inebriante a mente.
— Está desinibido.
— Estou com saudades, isso sim — ele me segura pela jaqueta — Você só anda com aquela gangue agora.
— Coisas de amigos, não se preocupe com nada que a Analice tá sempre por perto.
— Posso imaginar as coisas de sempre que vocês fazem.
— Diversão, invadimos a loja do Figueiredo ontem e quebramos algumas coisinhas — digo com um sorriso ladino
— Não quero saber dessas suas besteiras — ele se afasta e meu sorriso morre na hora — Vão acabar sendo presos e sabe que não quero a policia no meu encalço.
— Renan, ninguém vai saber que está ilegalmente no Brasil — seguro em sua mão.
— Promete?
— Prometo.
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A Ponte do Amor
RomanceDuas histórias de amor conectadas pelo tempo. A rápida e conturbada relação de Cristóvão e Pedro parece semear algo que no futuro será duradouro e certo para Renan e Wesley. Épocas diferentes onde tudo parece ter mudado, porém, os casais enfrentarão...