Capítulo 15

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O lugar estava abandonado assim como o restante da rua, era uma casa no estilo  anos dourados com alguns tapumes em volta, pichados e mamchados de uma forma inteligível. Havia uma placa triangular apontando para oeste no alto, a logotipo já estava desagatado ao ponto de ter apenas manchas da chuva.

Na calçada que outrora meu avô e seus amigos se exibiam com carros e lambretas de marca naquela época estava com a pavimentação esburacadas, com poças e muito mato crescendo. Era aqui que Rose e will trabalharam tanto para manter aquele edifício de tijolos vermelhos em pé e em segurança.

— Foi aqui que tudo começou — Renan sussurra para si mesmo olhando para a faixada da antiga lanchonete.

— Meu avô me contava histórias que viveu nesse lugar e por onde passava pela cidade e deixava sua marca — sorrio com as lembranças dos dias bons.

Viro meu rosto em direção a pracinha capenga que foi abandonada pelo poder público, crianças corriam e faziam brincadeiras de pega-pega, jogar bola e polícia e ladrão, fechei os olhos concentrando apenas na risadaria desenfreada.

Renan coloca uma mão em cima da minha coxa e eu coloco a minha por cima da sua e entrelaça nossos dedos, os meus maiores que os dele cobriam metade de sua mão delicada e macia.

— Deve ser difícil encarar isso todos os dias, eu nunca tinha perdido ninguém assim.

— E a sua avó? — olho para ele que fita nossas mãos unidas.

— Ela foi morar no interior depois de engravidar da mamãe e nunca mais voltou pra cidade grande. Quando minha mãe completou dezoito veio tentar a vida aqui — ele sorri — mas pelo menos meu pai me assumiu e cuidou de mim até hoje, nós somos melhores amigos é uma pena que ele esteja sempre viajando pelas estradas.

— Sinto muito.

— O fato é que eu não era próximo da vovó Caroline, mamãe me levava pra visitar ela de vez em quando mas sempre achei ela rabugenta demais.

Eu ri de sua forma de falar, voltamos a fixar os olhos no que décadas atrás fora a famosa lanchonete do casal gringo mais bonito de São Paulo, meu avô dizia que eles eram excêntricos e quando os conheceu melhor depois da partida de Cris e Mia soube que tinham bons corações e que se amavam perdidamente.

— O Félix era rabugento, eu o conheci — digo para anunciar as lembranças.

— Sério? Que legal é como conhecer algum personagem de história famosa.

— Eu sei — ele me faz rir novamente — ele e meu avô eram amigos de longa data e o Félix visitava muito a gente lá em casa. Ele se tornou um banqueiro de sucesso mas mora nos Estados Unidos hoje me dia.

Um casal passa numa moto e foi impossível de não visualizar meu avô em sua lambreta com Cris na garupa. Aquele era um bairro de classe nobre antigamente porém foi abandonada e se tornou perigoso com o decorrer dos anos e agora só sobrou algumas casa com pessoas humildes morando.

— E os outros?

— Analice se casou com um cara de Curitiba, ela ainda mora lá com ele. Ia gostar de ver a família que tem, três filhos, oito netos e uma ramificação bem grande de pessoas na família.

— Legal, acho justo ela ter conseguido pelo menos isso depois de sofrer aquela depressão pós-parto — ele encosta a cabeça no banco do carro e faz carinho com seu polegar no meu —, sabe o que aconteceu com Ricardo?

— Meu avô me contou que ele saiu da cadeia mas os dois nunca mais voltaram a se falar, a última coisa que Pedro sabia era que Ricardo estava trabalhando numa fábrica de automóveis — respiro fundo e tento lembrar de mais alguma coisa mas meu avô era um tanto reservado com assuntos do passado — a maioria das coisas que soube foi por meio da minha avó Tereza — concluo.

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