CAPÍTULO 6

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Cassie abriu os olhos e deu de cara com os olhos de Hush. Seu marido!
Ele fazia sinais com as mãos e parecia muito preocupado. Ela estava zonza, ele a tinha deitado na cama e estava ajoelhado a cabeceira, segurando a mão dela.
Ele soltou sua mão e lhe acariciou o rosto. Cassie fechou os olhos, o toque dele era leve, ele tinha olhos tão doces! Ela não entendia como aconteceu aquela trapalhada, mas não conseguia cogitar que ele a enganou. Não. Só se ele fosse a pessoa mais desprezível do mundo para enganá-la e ainda a olhar com aqueles olhos tão sinceros e puros. Era uma coisa estranha isso, o absurdo da situação era tal que ela estava sem ação. E ele era surdo. Como resolver isso?
Ela tinha falado e ele pareceu entender, então disse:
"Você lê lábios?"
Ele assentiu e sorriu. Um sorriso cheio de dentes e presas. Ela sorriu também, mas depois fechou a cara.
"Você sabia que eu estava pensando que estava me casando com Simple?" Ele pareceu levar uma bofetada. Se afastou, piscou, abriu e fechou a boca.
Ele sinalizou alguma coisa, mas vendo que ela não entendia, parou.
Hush, Cassie achou que era um nome adequado, se levantou e andou de um lado a outro. Ele a encarou, seus olhos tristes e saiu.
Cassie se recostou na cabeceira. O que Simple esperava com isso? Cassie se lembrou de cada palavra dele:
'Oi, Cassie! Se quer mudar a sua vida, se tiver coragem para isso, para ser feliz, sem se importar com mais nada, venha e me encontre.'
Não era um pedido de casamento, não era uma declaração de amor, só uma idiota acreditaria nisso. Cassie suspirou. Ele queria se certificar que Cassie ficaria definitivamente longe dele.
Mas um casamento, e ainda mais contra a vontade dela? E envolvendo aquele homem tão especial? Como ele podia ser tão insensível? Como podia brincar com ela, ela que o amava?
Cassie sentia tanta revolta, tanta tristeza!
Ela se levantou da cama e saiu do quarto. Desceu as escadas, sentiu cheiro de comida e seu estômago roncou. Já era de tarde, o sol estava próximo do horizonte.
Na cozinha, ele mexia no fogão, a mesa estava posta com dois pratos, haviam frutas frescas numa fruteira e ela pegou uma maçã.
Ele continuava alheio a Cassie ali, afinal, não podia ouví-la. Cassie aproveitou para examiná-lo.
Cabelos castanhos de um tom dourado, lisos e volumosos. Passavam dos ombros. O corpo era alto e musculoso como qualquer Nova Espécie. Ele era mais alto que Simple e mais forte.
Usava uma calça de moletom, como muitos dos Novas Espécies usavam, o tecido confortável abraçava sua bunda perfeita e as pernas grossas, e camiseta, as mangas tinham  sido cortadas. Ela se admirou da grossura dos braços dele.
Um pensamento tardio passou pela mente dela e suas pernas não sustentaram seu corpo, Cassie só teve tempo de soltar o corpo numa cadeira. Ele se virou, os olhos estavam alertas.
Cassie respirou fundo, o ar não veio. Ela arregalou os olhos, ele se ajoelhou  a frente dela e lhe tocou o rosto.
Cassie puxou o ar umas duas vezes bem devagar até estar respirando normalmente. Ele esperava  segurando a mão dela, acariciando o dorso.
"Hush..." Como perguntar isso? Só de pensar ela se avermelhava toda.
"Hush, nós dormimos juntos?" Era o mais fácil de perguntar, embora, se Simple tivesse passado a noite com ela, depois dela ter casado com Hush, seria uma maldade ainda maior.
Ele sorriu e ela percebeu um arzinho travesso no sorriso, ele era mesmo muito bonito.
"E foi você que... Me tocou?" Ele parou de sorrir, mas acenou. Cassie não conseguiu evitar se lembrar de quando ele a penetrou com a língua. Foi um choque, ela não imaginava que fosse possível.
Ele sinalizou, Cassie tentou entender. Parecia que ele estava perguntando alguma coisa.
"O quê?" Ela perguntou.
Hush beliscou seu braço com força e mostrou o hematoma que se formou. Ele devia estar perguntando se ele a machucou.
Cassie sorriu e balançou a cabeça.
Ele se levantou, serviu a comida, uma grande quantidade de carne picada em pedaços misturada com legumes e temperos, se sentou e começou a comer.
Cassie olhou para a montanha que ele colocou no prato dela, pegou um garfo, ele comia usando uma colher, e provou. Estava muito bom, ela fechou os olhos enquanto mastigava. Quando abriu, ele tinha o olhar fixo na boca dela, Cassie desviou os olhos. Continuou comendo em silêncio e notou que o nervosismo de descobrir que Simple a enganou estava se esvanecendo. Foi um casamento numa capela de Vegas, pelo amor de Deus! Eles anulariam isso facilmente.
Ela voltaria para sua  casa, para a faculdade e para a sua vida e esqueceria esse dia estranho. E a noite? Ela esqueceria também? Ela olhou para Hush comendo, ele rapidamente comeu uma enorme quantidade de comida. Cassie comeu um pouco, mas ele tinha colocado muito, então deslizou o prato na mesa em direção a ele. Ele ergueu as sobrancelhas.
"Você quer?" Ele sorriu e puxou o prato para perto e comeu. Havia suco de caixinha, ela tomou um grande gole. Se preparando para o assunto desagradável que tinham de tratar.
Ele a entendia. E podia balançar a cabeça dizendo sim, ou não. Cassie tentaria entender a situação, ela precisava saber em que tinha se metido.
Ele terminou de comer, se levantou, recolheu os pratos e os lavou. Cassie achava que devia ajudar, mas precisava ordenar as idéias, então ficou sentada o observando, era uma linda visão ele se movendo pela cozinha, arrumando tudo. As mãos dele eram grandes, ele era eficiente.
Ele limpou o fogão, secou a louça e a encarou.
"Precisamos conversar." Ele indicou a sala, era uma boa idéia, ela acenou. Ele continuou na porta. Ela entendeu que era para ir à frente. Era uma gentileza, Cassie se admirou, mas segurou a expressão dura.
A sala era linda, sofás imensos e macios, cadeiras, mesinhas, um tapete luxuoso e uma enorme lareira ao centro de tudo. Ele começou a fazer fogo, ainda que a casa tinha um ótimo aquecimento, nem parecia que estavam num alto de montanha no início do inverno.
Dezembro. Natal e aniversário de Simple. Doze anos. Ele era alto, forte, bonito e inteligente. Não era totalmente humano, teve um desenvolvimento diferente, qual o problema em ficar com ela?
Hush não saberia responder a isso, ela teria de perguntar ao próprio Simple. Depois. Agora ela tinha de fazer perguntas cuja resposta fosse sim, ou não. Não era tão fácil formular isso, ela percebeu.
Ele se sentou no mesmo sofá que ela e segurou sua mão. Ela olhou para as mãos deles unidas, a dele grande e bronzeada, a dela pequena e pálida. Ela olhou para a aliança em seu dedo e se lembrou dele lhe colocando o anel  sua mão.
"Você queria se casar comigo?" Ele sorriu, seus olhos se iluminaram e balançou a cabeça, dizendo sim.
Como ela foi parar numa embrulhada dessas?
"Você já tinha me visto antes?" Ele confirmou.
"Na Reserva?" Ela não o viu, mas talvez ele a tenha visto. Todavia, ele disse que não. Onde então?
Ele pareceu entender a dúvida de Cassie, foi até a cozinha e voltou com o celular dela. Totalmente inútil ali, já que não havia sinal. Uma das poucas coisas que Simple tinha dito quando chegaram ali. Ele estendeu o celular.
Ela o pegou e ligou, mas era o seu próprio celular, Cassie não entendeu. Hush bateu o dedo na tela do celular.
"Você me viu na tela! Uma foto minha?" Ele assentiu. Ela então perguntou:
"Foi Simple que te mostrou?" Outro aceno.
Cassie entendeu. Simple mostrou a ele uma foto dela e ele aceitou se casar. Simples assim? Como perguntar isso?
"A ideia do casamento foi sua?" Ele balançou a cabeça. Idéia de Simple.
"Ele disse que eu sou apaixonada por ele?" Hush se levantou. Ele respirou fundo a olhou com desconfiança. Cassie entendeu a confusão dele. Se ela estava apaixonada por Simple, como podia ter deixado ele fazer tudo o que fez com ela? Será que acreditaria que ela não viu que não era Simple?
Ele suspirou e voltou a se sentar. Começou a sinalizar devagar, mas parou. Ele não sabia o que dizer, cortou o coração dela, a vontade de saber mais ficou esquecida. Como Simple pôde fazer uma coisa daquelas? Ele não tinha coração? Hush tocou no braço dela, Cassie o encarou e viu que a fisionomia sempre afável estava mais dura.
Ele a pegou pela mão e subiram as escadas. O coração de Cassie disparou, ele a estava conduzindo ao quarto deles. Deles? Cassie parou na porta, ele soltou sua mão.
Hush pegou uma mala, a mesma que ele tinha aberto para tirar o livro, juntou umas roupas que estavam numa cadeira, passou por ela e abriu uma porta no quarto em frente ao dela.
Ele estava mostrando que dormiria em outro quarto. Cassie mais uma vez recordou a noite que dormiram juntos, os beijos e tudo o mais. Ele foi carinhoso, a tratou com carinho.
"Hush, eu sinto muito. Simple não devia ter feito isso, eu quero matá-lo!"
Ele fez que sim com a cabeça, sua expressão sombria. Ele realmente achava que ela  queria se casar com ele. O que Simple teria dito?
Ela se aproximou dele e pegou sua mão.
"Você é um bom homem, Hush. Eu sei que esta história é pior para você, pois você não tinha de se envolver nisso." Ele era o inocente da história, ele tinha sido enganado como ela, mas ela era culpada por acreditar  em Simple, por chegar correndo naquela capela como uma idiota sem amor próprio. Simple a tinha desprezado e quando ele ligou, ela correu para ele.
Hush, porém, fez que não com a cabeça, Cassie não entendeu.
Ele bateu no peito, várias vezes.
"Você?" Cassie deduziu que ele queria dizer algo relacionado ao papel dele no acontecido. Ele acenou. Cassie prestou atenção.
Ele tocou no rosto dela, com carinho, seus olhos ficaram mais escuros, ele deslizou a ponta de um dedo pelo contorno dos lábios dela. Cassie prendeu a respiração.
O dedo dele desceu pela garganta e pousou no meio dos seios dela, ela precisou abrir a boca e sorver ar, os olhos dele queimavam, uma corrente elétrica corria do dedo dele para a fenda entre os seios dela e terminava no meio de suas pernas, ele inspirou fundo.
Cassie estava em chamas, como podia estar tão excitada assim, esquecendo até da situação bizarra em que estavam? Ela balançou a cabeça e deu um passo para trás. Ele engoliu em seco, acenou e entrou no quarto fechando a porta.
Cassie ficou parada no corredor, o coração batendo tão forte que soava em seus ouvidos.
Ele tinha dito que quis se casar quando viu a foto dela? Por que a desejava? Ele a desejava? Cassie entrou no quarto e olhou para a cama. O livro dele ainda estava sobre a cama, ela o folheou. Era um livro para crianças, estava muito surrado. Ela se ajeitou para ler, talvez aprendesse alguma coisa.

HUSHOnde histórias criam vida. Descubra agora