CAPÍTULO 21

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Florest cambaleou e se apoiou numa árvore. Ele cuspiu sangue e fechou os olhos de dor. Candid o tinha esmagado. Havia algo errado com seu rim e provavelmente uma costela estava numa posição errada, respirar doía.
Seu coração também doía. O grito de Violet, a repreensão que ela lhe passou, o fazia se sentir um idiota. Afinal, ele estava dirigindo, ele tombou o jipe.
Ele deu passo para longe da árvore, mas se desequilibrou, quase caiu, braços fortes o ampararam. Ele ergueu a cabeça, deu de cara com olhos dourados e cabelos ruivos soltos, Candid tinha ido matá-lo.
"Candid, eu..." Ele mais cuspiu sangue que falou, então parou de falar.
"Taí, uma coisa nostálgica. Sou Honest." Honest? Isso ajudava em alguma coisa? Pelo que Florest sabia Honest seria muito mais provável de matá-lo do que Candid. Ele e Honest nunca se deram bem.
"Cale a boca, ou vou me arrepender. Sua mãe te curaria e depois chutaria seu traseiro, isso seria lindo de se ver."
"Mamãe..." Sua mãe teria um ataque isso sim. Honest não podia levá-lo para ela.
Honest se abaixou e o encaixou de cabeça para baixo em seu ombro, a dor o apagou.
Quando acordou, estava num quarto escuro, vestido com um grosso casaco, gorro e luvas. A cama onde estava deitado tinha um cheiro pungente de medicação, a droga de regeneração, mas com um toque de outra coisa que ele não soube discernir. Não era a cama, era ele. Seu tórax estava enfaixado, ele se moveu e uma fincada tão dolorida quanto uma facada cortou seu peito, a dor foi tão forte que seus olhos lacrimejaram. Ele ficou imóvel.
"Dói, não é? Eu não sei, só ouvi falar, meus irmãos nunca ferraram comigo como Candid fez com você." Florest  moveu minimamente a cabeça apenas o suficiente para ver Simple sentado num canto. Ele se levantou, aproximou a cadeira e se sentou de novo. Encheu um copo com alguma coisa e estendeu para Florest.
"Fique feliz de saber que estou desperdiçando essa coisa boa com você. Não tem muito disso por aqui." Florest pegou o copo devagar, doeu, mas ele precisava de um analgésico, então, tomou um grande gole.
Não era um analgésico, era a pior merda que ele já provou e Florest cuspiu tudo sobre a coberta, A dor quase o fez se mijar.
Simple se dobrou de rir.
"Você acredita nesse cara?" Ele ria olhando para o outro lado. Florest já estava em agonia mesmo, então se virou. Honest o tocou, olhou o fundo de seus olhos e inspirou.
"Está fazendo efeito, logo, você estará bom."
Florest estendeu a mão enluvada, Simple e Honest também estavam bem agasalhados, e pediu mais um gole. Simple o olhou com dúvida, mas depois deu de ombros, encheu o copo, engoliu tudo com uma careta, encheu de novo e estendeu para Florest.
"Tem de deixar queimar a garganta. Fica bom depois." Simple instruiu.
"Mamãe e papai vão ficar orgulhosos de saber que o que está fazendo da sua vida se resume a ensinar os outros a beber, Sim." Honest disse cruzando os braços.
"O que eu posso dizer? É um dom." Florest fez uma careta, o líquido queimou sua garganta, mas o aqueceu depois. Simple repetiu o processo de encher seu copo, beber, fazer careta, encher o copo e estender para Florest. Florest por sua vez, bebeu e fez uma careta também.
"Viu? Eu mereço um diploma." Ele riu, Honest não conseguiu manter a cara séria e riu também.
"Me dá isso aqui." Ele tomou o copo e a garrafa das mãos de Simple e tomou um grande gole também.
"Cara! Vamos tomar um porre e depois mudar de lugar, pelos velhos tempos. Eu adoraria operar alguém." Simple se empolgou.
"Não é para tanto." Honest replicou.
"Eu odeio hospitais de qualquer forma. Mas tem uma coisa que eu amo, Florest, sabe o que é?" Florest olhou para ele, para Honest, ele via quatro trigêmeos. Foi engraçado, ele riu.
"Está rindo? Não foi uma piada. Eu amo minhas irmãs. E não gostei de como você falou com Daisy." Ele lhe estendeu o copo, seus olhos de repente estavam frios, Florest achou melhor beber.
"Candid já me fez me arrepender pro resto de minha vida, o que você quer mais?" Ele voltou a rir, Honest o acompanhou. Florest se lembrou de que já tinha ouvido dizerem que eles eram sanguinários.
"Não vou te bater, mas quero respostas." Florest se sentiu encolher. Sua mente estava embotada, Daisy tinha caído, mas ele podia ter parado o jipe e a socorrido, se não estivesse com os olhos em Violet saltando de galho em galho, seu corpo leve e gracioso como uma pluma pairando no vento, ao mesmo tempo que ele podia ver todos os músculos do corpo forte e delicioso dela trabalhando, queimando energia e...
"Queimando energia? Pluma pairando? Que porra é essa? Você já está bêbado?" Florest tinha dito tudo aquilo em voz alta? Ou Simple tinha lido sua mente? Romulus podia fazer isso. Simple lhe estendeu o copo cheio de novo,Florest bebeu.
"Me preocupa mais ele dizer que o corpo de Violet é forte e delicioso." Honest disse com os olhos apertados.
"Isso é só a constatação de um fato, Hon. Violet é mesmo gostosa, não é, Florest?" Ele olhou para Florest e Florest pensou se não queria que ele concordasse pra depois lhe quebrar a cara. Mas Florest se viu dizendo:
"Ela é... Eu nem sei dizer, ela é incrível, linda, inteligente, generosa, prestativa... Sua irmã é..."
"Minha irmã, não se esqueça disso. Ou Candid vai te lembrar." Florest se encolheu, eles riram.
"Durma, cara, o álcool vai ajudar." Ele fechou os olhos, o rosto lindo de Violet lhe estampou a mente.
"Violet... Tão linda, tão gostosa..." Ele disse, um dos dois rosnou, ou os dois, mas eles não eram Candid, não teve medo.
Quando acordou pela segunda vez, toda a dor tinha ido embora, mas sua cabeça parecia pesar três vezes mais que o normal. Não estava no mesmo quarto, aquele ali tinha cheiro de casa, de limpeza, a cama em que estava era uma cama baixa dessas auxiliares, os lençóis tinham um delicioso cheirinho de amaciante. Florest se levantou, o quarto estava escuro, claro, mas ele enxergava no escuro, como qualquer Nova Espécie. Um ronco suave chamou sua atenção e Florest arregalou olhos quando olhou para a outra cama, essa normal, e um dos irmãos dos trigêmeos estava deitado de costas totalmente nu, segurando seu pênis de leve, e com a boca aberta dormindo pesadamente.
Florest não conseguiu evitar  olhar para aquele pau que mais parecia um poste. A janela ficava acima da cama dele, ainda era noite fechada. Florest vestia apenas um short de dormir, que não era dele, e as faixas em seu tronco tinham sido retirados. Ele apalpou o lado, seu rim parecia um pouco inchado ainda e uma marquinha de incisão ainda não tinha cicatrizado. Honest fez um trabalho perfeito, o desgraçado.
Um barulho de uma vassoura varrendo o distraiu, vinha do quarto ao lado. Se o dono daquele poste fosse Honor, o quarto ao lado era o de Joe. Ele dividiu o quarto com James durante muito tempo até que começou a namorar Mary e ganhou um quarto para si.
Florest inspirou e não sentiu muita coisa, seu faro parecia confuso, e ele se lembrou que era normal, as drogas debilitavam os sentidos. Não havia mal algum em sair e conversar com Joe. Era melhor que ficar olhando para o pau gigante de Honor.
Ele saiu do quarto, sem se preocupar com as Florzinhas, ali era a área dos filhotes machos, elas não iam ali. Florest parou no corredor, seu coração disparou. Violet dormia num quarto, acima de sua cabeça.
Ele abriu a porta do quarto de Joe, mas não era ele que estava lá, mas sim  a razão de todos os seus sonhos eróticos. Ela colocava alguma coisa num saco preto, o quarto estava todo bagunçado.
"Está melhor?" Ela tirou o lençol da cama e colocou em um cesto.
"Estou bem. O que está fazendo?" Ela sorriu, recolheu um monte de coisas e as colocou do lado de fora do quarto.
"Dando um jeito nesse quarto, apagando quantas lembranças de Mary eu puder." Ela tirou outro jogo de lençóis e estendeu na cama. Ela era eficiente. Ela era maravilhosa.
"A essa hora?" Ele perguntou.
"Não é tão tarde, passa pouco da meia noite. Eu sou notívaga, gosto de arrumar coisas quando todos estão dormindo. Joe saiu de novo com os trigêmeos, por que não consegue dormir aqui, então, estou tentando deixar esse quarto o mais neutro que conseguir." Ela terminou de arrumar a cama e Florest viu que o quarto estava limpo e organizado. Violet arrastou um saco cheio de bichos de pelúcia e ia o colocando para fora, mas o saco era grande, ele teve de se afastar para ela passar.
"O que é tudo isto?" Ela parou antes de sair do quarto e tirou um bichinho, um gato.
"Joe, não sei por quê, achava que Mary gostava de bichinhos de pelúcia, então sempre comprava para ela. Ela não disse que não gostava, o quarto ficou abarrotado deles. Até eu caí nessa mentira." Ela retirou um ursinho panda, que vestia um macacão azul, do saco. Diferente dos outros bichinhos, este estava embalado, em plástico transparente, com um grande laço fechando o embrulho.
"Foi o último que ela ganhou?" Florest perguntou. Ela estreitou os olhos, parecia zangada.
"Não.  Esse eu dei para Mary de aniversário. Eu juntei dinheiro, dando aulas para Harmony e cuidando de Sheer. De Sheer, você acredita? E ela nem abriu!" Violet jogou o presente de volta no saco. Florest se aproximou e o pegou.
"O que vai fazer com isso?" Ele perguntou.
"Vou fazer uma imensa fogueira, tirar minhas roupas e dançar para a lua, num ritual de magia, onde vou pedir aos deuses celtas para colocarem um mau agouro em Mary. Ela morrerá feia e sozinha." Florest e ela riram.
"Você não é tão boazinha como dizem." Ela aumentou o sorriso, os olhos dela brilharam.
"Não. Ainda mais quando magoam meus irmãos." Ela parou de sorrir, ele baixou os olhos para o ursinho em sua mão.
"Eu vou pedir desculpas. Eu não devia ter falado daquele jeito com ela, eu fiquei irado comigo mesmo, eu podia tê-la socorrido, em vez disso, eu tombei o jipe." Não havia mais nada a dizer. Ele só podia esperar que Daisy o desculpasse.
"Será que ela vai me desculpar?" Florest fez cara de coitadinho, como via seu pai fazer com sua mãe. Ele queria ver o sorriso dela de novo.
"Não se fizer essa cara. Ela vai rir, não sentir pena." Ela sorriu.
"A intenção é fazer você sorrir, estou satisfeito." Florest se aproximou, ela deu um passo para trás. O saco com os bichinhos ficou entre eles, Florest o jogou sobre a cama.
"Florest." Ela sussurrou. Seu nome na boca dela o excitou, Florest fechou os olhos e inspirou, mas seu olfato só captou o cheiro dos lençóis limpos.
"Violet." Ele disse o nome dela, o mesmo da flor que era exatamente da cor dos olhos dela, azuis, intensos, misteriosos. Ela parou, a parede a impediu.
"Pare." Ela ordenou, ele obedeceu, ainda que bem próximo. Havia uma autoridade natural nela, outra coisa que ele tinha notado, durante o longo tempo em que ele percebia cada pequeno detalhe sobre ela.
"O que quer, Florest? Que eu e Daisy briguemos? Ela é minha irmã gêmea, minha melhor amiga! Não vou magoá-la." Florest estava bem perto, pôde inspirar o cheiro de excitação que desprendida dela.
"Não é o que seu cheiro diz. Daisy é uma garota mimada, não consigo aceitar que não posso ter você por causa dela." Violet abriu mais os olhos. Ela estava respirando pesadamente.
"Não é só por causa dela. Não podemos de qualquer forma, Florest." Ela disse baixinho, mais baixo ainda do que eles falavam.
"Por quê?" Ele perguntou passando o dedo pelos lábios dela. Eles estavam muito próximos, sem se tocar, o pau de Florest já estava em riste, se desse um mínimo passo, ela o sentiria em seu ventre.
"Não vou namorar escondido como Rubi e Jonathan. Não vou mentir para os meus pais. Não dá certo."
"Acha que quero namorar com você?" Florest disse e em seguida viu a besteira que falou. Violet arregalou os olhos, e apertou os lábios. Como explicar que queria acasalar de uma vez por todas com ela? E ela estava certa, não podiam.
"Saia. Saia daqui ou vou gritar. O quarto de Pride fica em frente." Pride. Gigante, voz hipnótica, sede de sangue. Se Candid o esmagou, Pride iria desmontá-lo como um bonequinho de Lego. Mas não podia deixá-la pensar o que parecia estar pensando.
"Vi, eu me expressei  mal. Você não está entendendo, eu..." Te amo? Isso era pesado demais para dizer.
"Eu entendi perfeitamente, Florest. Você quer compartilhar sexo, não namorar. Isso de namorar é uma coisa de humanos, não é?" Ela abriu as narinas, estava muito furiosa.
"Não é isso." Ele não sabia como consertar aquilo sem dizer que a desejava com loucura, com tudo o que tinha.
"Não importa o que é, Florest. Vá embora." Ela desviou o olhar. Florest lhe tocou o queixo, quando ela ergueu os olhos para ele, estavam marejados. Florest se odiou.
"Eu quero você, Violet. Com loucura. Nunca pensei em namorar, nunca pensei em conversar. Estou errado, eu sei, mas estou sendo sincero. Eu só consigo pensar em você debaixo de mim, na sua boca na minha, em estar dentro de você. De beijar a sua buceta e ver você gozar na minha boca..." Ela abriu a boca, estava escandalizada, Florest percebeu, mas não conseguiu parar de falar, tudo o que ele dizia vinha do fundo da alma dele.
"Eu quero possuí-la, Violet, de todas formas possíveis, em todas as posições possíveis. Eu quero..." Ele fechou os olhos, ia parar de falar e mostrar a ela.
"Você quer morrer." Uma voz melodiosa atrás dele disse. Florest não precisava se virar para saber que Pride, com seus dois metros e oito centímetros estava atrás dele.

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