CAPÍTULO 19

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Honest subiu a colina da cabana de Gabriel, percebeu o cheiro dele, de Ann e ficou surpreso ao perceber também o cheiro de Jewel.
Ele parou à porta e, ficou ouvindo a conversa delas, Jewel contava os acontecimentos do jantar, Ann parecia muito interessada.
"Ela estava namorando com Salvation, pelo menos foi o que ele contou para Florest, mas ficou o tempo todo ao lado do Adam, no meio dos dois na verdade, mas Noah estava ocupado com Harmony, então..." Jewel contava.
"E Adam e Noah são mesmo iguais a Vengeance?" A voz de Ann ainda não era a mesma. Honest se lembrou que Gabriel uma vez tinha cortado a língua dela, só para fazer a língua crescer novamente.
"São, Dinda. Adam tem a cara fechada, Noah está sempre sorrindo."
"E não têm namorada?" Ann parecia muito curiosa a cerca dos clones.
"Não. Papai diz que eles nem saem com os leãozinhos!" Ela disse e depois baixou a voz num sussurro:
"Os leãozinhos pagam as fêmeas para namorarem com eles."
Honest decidiu bater nesse momento. Jewel, é claro, foi abrir. Ela sorriu para ele e voltou para o sofá ao lado de Ann. Elas vestiam grossos casacos e estavam debaixo de uma manta, a tv estava ligada, embora não estivessem assistindo.
"Dusky te expulsou?" Ann o olhou com raiva em seus olhos imóveis e meio cegos.
"E não havia nenhum outro lugar para ir ?" Honest sabia que não, mas tinha um papel a representar.
"Meu Dindo não permite que minha Dinda fique em outro lugar. Mamãe diz que é por que Gabriel não pode fazer sexo. Meu Dindo tem ciúme." Honest olhou para Ann, ela baixou os olhos.
"Ele me mandou ficar aqui, Gabriel aceitou, eu ficarei até que ele me busque." Ela disse acariciando os cabelos castanhos de Jewel. Ann estava com melhor aparência, sua boca e rosto não estavam tão tortos como antes e seus cabelos negros estavam na altura do queixo. Seu rosto estava mais cheio. Na verdade, Honest a achou bonita. Seus olhos verdes estavam brilhantes, ainda que fossem imóveis e ela tivesse olheiras permanentes.
"Vou ver Gabriel." Honest ia saindo da sala quando ouviu Ann murmurar:
"Boa sorte com isso." Honest sorriu, pelo cheiro tudo tinha corrido como ele planejou. Ele continuou pelo corredor e entrou no quarto de Gabriel que estava sentado na cama, lendo um livro velho, surrado.
"Honest. E então, como está a faculdade?" Sua voz era calma, indiferente.
"Sabe por que estou aqui." Honest cruzou os braços. Se tivessem que lutar, o quarto seria pequeno.
Gabriel virou uma página do livro e disse:
"Já disse que não há como reverter o processo de degeneração dos clones. Vocês estão correndo atrás do vento." Ele virou outra página.
"Quando será sua próxima dose?" Honest se sentou numa cadeira. Gabriel sorriu.
"Você chegou tarde. Tomei ontem. Agora só daqui a alguns meses, pode quebrar os frascos se quiser. Eu farei mais ou morrerei, dá no mesmo pra mim." Gabriel voltou a atenção ao livro. Ele realmente não tinha nada a perder.
Honest adorava o poder de saber algo que outra pessoa não sabia. Era viciante.
"E como está se sentindo?" Honest sorriu, maldoso, Gabriel fechou o livro.
"Bem. Como sempre." Ele o encarou.
"Você injetou tudo direitinho?" Gabriel revirou os olhos.
"Se não tivesse injetado corretamente eu não estaria aqui." Ele travou maxilar. Honest podia ver sua mente recapitular todo o processo de injetar as drogas que o mantinham vivo.
"O que quer dizer? O que você fez?" Gabriel se levantou.
"Você sabe que se alguma dose estiver incorreta, só saberá daqui a algumas horas, o mais tardar amanhã cedo."
"Eu não me enganei. Eu nunca me engano." Honest tirou um frasco do bolso e jogou no chão, o vidrinho se espatifou.
"Ops! Você disse que eu podia quebrar." Gabriel, para seu crédito o olhou com calma.
"Não sei como ajudá-los." Ele inspirou discretamente, eram quatro substâncias combinadas, cada uma para um propósito.
"Quem fez Jewel?" Gabriel passou as mãos pelo cabelo, estava comprido, na altura do ombro. Ele era o estereótipo do anjo perfeito.
"Eu..." Ele inspirou mais forte, arregalou os olhos.
"Como você fez isso? Vocês acabaram de chegar!" Ele saiu do quarto.
"Ann! Como pôde? Sua vagabunda!" Ele correu para a sala, mas Honest o alcançou e o puxou pelos cabelos antes que ele se jogasse sobre Ann. Jewel gritou. Honest o garroteou pelo pescoço.
"Sua desgraçada!" Jewel rosnou.
"Não fale assim com a minha Dinda!"
"Eu vou matar você, vou aproveitar a substância e vou te estuprar da maneira mais violenta que eu puder! Puta!" Gabriel tentava se libertar, mas Honest o tinha bem seguro.
Jewel abriu a boca e soltou um grito muito agudo, fazendo Gabriel se encolher, Honest teve de fazer força contra o pescoço dele e ainda segurá-lo, tudo isso com seus ouvidos e cabeça prestes a explodir de dor. Jewel continuava ecoando seu grito agudo.
Ann a abraçou, ela parou de gritar.
"Ele não pode falar assim com você! Eu vou falar com meu Dindo!" Ela olhou para Honest com os olhos azuis lacrimejando. Ann a apertou, ela começou a soluçar.
"Calma, querida, calma! Está tudo bem, você é a minha salvadora!" Ann acariciava os cabelos dela.
Gabriel desmaiou, Honest o soltou no chão. De um dos ouvidos de Honest escorreu um fio de sangue. Ele tocou seu ouvido, parecia ter sido esmagado.
"Você está bem?" Ele perguntou a Ann, ela também tinha sangue nos ouvidos. Jewel olhou as mãos de Ann e seu rosto sujo de sangue e chorou mais.
"Dinda! Eu sinto muito! Você consegue se curar? Como o papai?" Ela perguntou chorando. Estava desesperada, Honest se sentou no chão.
"Sim, querida, vou ficar bem." Ela tinha de ir para o hospital, e logo.
Logo, um barulho da porta sendo explodida soou em seus ouvidos doloridos. Gabriel se mexeu, mas não se levantou. Honest tentou levantar, mas a dor nos ouvidos o desnorteou.
"O que aconteceu?" Dusky entrou na sala pela porta quebrada e parou a frente do sofá onde Jewel e Ann estavam abraçadas.
"Dindo! Foi sem querer!" Ela se soltou de Ann, ficou em pé sobre o sofá e o abraçou. Ele lhe beijou o rosto.
"Tudo bem, meu amor, está tudo bem!"
"Ele xingou a minha Dinda, e quase a machucou. Honest que não deixou, mas eu me assustei, fiquei com muito medo, Dindo, então eu gritei, como você me ensinou." Gabriel se sentou, o sangue jorrando de seus ouvidos. Iria curar, é claro, mas ia demorar.
Dusky a soltou e se voltou para Gabriel.
"Isso é verdade?" Honest se levantou, ainda sem equilíbrio, um dos seus ouvidos estava melhorando o outro, não.
Gabriel se deitou de costas, uma poça de sangue se formava no chão.
"Ela ajudou Honest a me ferrar, quando eu melhorar vou ferrar com ela. Se quiser impedir me mate."
Dusky não pensou duas vezes, se jogou sobre Gabriel e lhe socou a cabeça várias vezes.
"Dusky! Pare!" Ann gritou, fazendo o ouvido de Honest que estava melhorando, voltar a doer. Dusky parou, o rosto de Gabriel parecia uma pizza sangrenta.
"O que ele disse é verdade?" Dusky perguntou. Ann não disse nada, seus olhos imóveis, procurando onde Dusky estava, ela não parecia estar enxergando.  Ele saiu de cima de Gabriel.
"Por quê?" Dusky perguntou a Honest. E ele não se lembrava, desde muito tempo, desde que era um filhote pequeno, de sentir tanto medo. Muito medo.
"Eu preciso de algo que ele sabe. Para salvar o clones." Dusky deu um passo até ele, Honest deu um passo para o lado. Não havia lugar para fugir, não havia como fugir. O semblante de Dusky estava duro como se ele fosse feito de granito.
"Diga a Vengeance que ele me deve." Dusky se virou, ajeitou Jewel e Ann de forma  que Jewel ficou no colo de Ann e ele pegou Ann nos braços e saiu pela porta com as duas.
"Ann precisa ir para o hospital." Honest disse mesmo ele já tendo cruzado a porta de vidro espatifada.
Honest fechou os olhos, sua cabeça explodia em dor. Foi até o quarto de Gabriel e mexeu no armário de drogas, havia uma das ampolas da droga de regeneração. Ele aplicou no pescoço, esperou até seu ouvido melhorar e foi socorrer Gabriel.
Ele o carregou até o quarto, o pôs na cama e começou a tratar os ferimentos. Dusky era muito forte, o rosto de Gabriel ficaria desfigurado durante um bom tempo.
Honest terminou e enfaixou o rosto de Gabriel. Voltou a sala, virou o sofá e o colocou sobre a porta quebrada, ligou para Slade e pediu que viessem consertar a porta com urgência.
Quando voltou ao quarto, Gabriel estava melhor.
"Como ela fez?" Gabriel balbuciou. Não havia telefone ali, Ann era meio cega, não conseguia se localizar sozinha, então não tinha se encontrado com ele.
"Eu escondi um frasco aqui quando operamos Adam. Você dormiu, ela os trocou." Honest contou.
"Como se comunicou com ela?" Gabriel tocou o peito, Dusky devia ter acertado um murro em seu diafragma.
"Não precisei. Ela tem um faro muito bom, cortesia sua. Ela conhece o cheiro da substância sexual você não, e odeia você. Eu sabia que ela faria isso. Só tive que dar um jeito para Dusky mandá-la para cá."
"Você a manipulou?" Gabriel abriu uma fresta na faixa sobre seus olhos, querendo olhar nos olhos de Honest, como  se quisesse saber se Honest mentia olhando em seus olhos.
"Sim. Se eu pedisse, ela não faria. Quando estive aqui com Adam, percebi pelo seu cheiro que estava na hora de você tomar uma outra dose. Você sempre dorme um dia antes."
"Dusky sabia, então? Por que ele me bateu?" Gabriel deixou a cabeça pender para um lado. Logo, ele estaria falando tudo o que Honest queria saber.
"Ele também não sabia. Eu apenas passei lá e comentei que eles pareciam um casal feliz. Ele ficou furioso e a expulsou." Gabriel respirou fundo e gemeu. Analgésicos não funcionavam nele, devia estar em tormento. Honest não ligava a mínima.
"E Jewel?"
"Ela não estava na equação. Nunca imaginei que Michelle a deixaria vir aqui."
"Michelle não deixou, ela mentiu que estava na casa de Beauty." Honest deu de ombros. Seu ouvido estava melhor, Gabriel também iria se curar.
"Bom, então agora você vai me dizer tudo o que eu preciso."
"Não." Honest suspirou, a mente dele era forte demais, ele era capaz de sentir dor e ainda conservar seu juízo.
"Esqueceu o que vai acontecer daqui a algumas horas?" A substância sexual, aliada a falta do agente atenuante dos impulsos ia  deixar Gabriel louco. Ele rosnou.
"Você vai surtar de desejo sexual, sem poder sair daqui." Honest o lembrou.
"Eu posso me masturbar." O rosto dele, mesmo enfaixado se contraiu.
"Pode. Até seu pau ficar todo esfolado. Quando a pele se soltar, você vai arrancá-lo." Gabriel fez um som de frustração. Só de imaginar, Honest se sentia convulsionar. Doeria muito.
"Não é como se eu o usasse." Honest acenou.
"Sim, mas vai aquecer seu corpo. E você sabe o que acontecerá." Dessa vez ele tentou se levantar com os braços estendidos. Honest o empurrou de volta a cama.
O corpo de Gabriel se aqueceria com a excitação e ele entraria em combustão de dentro para fora.
"Me mate!" Ele implorou.
"Conte tudo." Honest se sentou na mesma cadeira. Seus ouvidos ainda doíam. Jewel era uma arma sônica.
Gabriel gemeu antes de começar a falar.

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