CAPÍTULO 42

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Cassie se embrulhou na manta, soprou e viu sua respiração virar fumaça naquele lugar frio. Tão diferente da Califórnia com o seu sol sempre presente! Mas ela aguentaria firme, seu pai estava amolecendo, pelo menos era o que ela achava. Ou esperava. Não havia como fugir. Cassie, nas duas semanas em que estavam ali, tentou de todas as formas, mas seu pai tapou todas as brechas. E não era como se ela pudesse também, não depois do que descobriu a alguns dias atrás.
"O que está fazendo aí no frio, Cassie? Ficou louca? Entre, menina, agora!" Seu pai a chamou, ela se levantou e voltou para dentro do quarto.
"Eu quero ir embora, papai. Estou sem paciência, estou desesperada na verdade." Ela segurou nas mãos dele.
Seu pai a guiou até a cama.
"Querida, acredite em mim, filha. Isso não é amor, é vício. Eles são assim. Você não é a primeira, nem será a última. Mas com o tempo..." Cassie se viu gritando e quebrando todo o quarto de ódio, se viu pegando uma pistola e colocando contra a própria cabeça, ameaçando atirar se ele não a levasse até Hush. Mas tudo isso se passou na cabeça dela. Na vida real ela chorou.
"Cassie! Oh, minha querida! Sabe que não suporto vê-la chorar. Por favor, meu bem, pare com isso."
"Me leve embora e eu paro. Se eu for ficar nesse lugar mais um dia vou enlouquecer, papai!" Ele travou o maxilar.
"Não vou perder você. Não vou criar um bebezinho órfão, por que você decidiu dar a sua vida para dar um filho àquele brutamontes." Ele disse e saiu do quarto.
Cassie suspirou. A saudade estava a matando. E ela estava com fome. Muita fome.
Mas não precisou ir a cozinha, dali a alguns minutos seu pai voltou carregando uma grande terrina, Lizette e Louise traziam os pratos, talheres e copos.
"Madame Gagnon estava terminando esse caldo, eu achei melhor comermos aqui." Ele disse, colocando a terrina na mesinha de café que ficava numa ante sala no quarto. Ele se sentou no tapete a frente da lareira, Cassie se sentou do outro lado. O caldo de carne estava uma delícia, do jeito que ela sempre comia agora, praticamente só carne e legumes, os mais variados. Cassie comeu até se fartar, seu pai também.
"É. Não é difícil se acostumar com a vida aqui." Ele disse e sorriu. Cassie não retribuiu o sorriso.
" Não ficaremos aqui para sempre, infelizmente os negócios não se fazem sozinhos. Quando você estiver livre desse vício, vamos voltar pra casa. A nossa casa."
"A monstruosidade que só te dá custos?" Cassie se lembrou dele contando a história da morte de sua mãe. Eles agora estavam mais próximos e isso lhe doía tanto! Era tudo o que ela sempre quis, ser próxima dele, ou melhor, ter um pai. Agora ela tinha, mas o preço foi o amor de sua vida.
"Papai..." Ele endureceu o olhar, Cassie pensou bem no que ia dizer.
"E se eu não me livrar nunca desse vício? E se formos num médico, já ouviu falar de DIU? É muito seguro." Ela estava apenas provocando seu pai, se fossem num médico, ele teria um ataque.
"Você é muito novinha, Cassie. Não sabe nada da vida. Acha que não percebi que você engordou? Eu até fiquei feliz, você nunca foi muito de comer, agora..." Ele apontou a terrina vazia e eles riram.
"Você quer me mostrar que pode ficar mais forte, mas gordura não é sinal de saúde, meu bem. Ainda que esse seu rostinho mais redondo, te deixa mais linda." Ele acariciou o rosto de Cassie, ela fechou os olhos. Como brigar com ele? Ele a amava, ela o amava. Cassie sempre sentiu a falta dele, mesmo quando ele era distante, ainda assim, Cassie o amava muito, ele era toda a família que ela tinha até conhecer Hush.
"Você não viu, mas lá, no meio das parreiras tinha um trabalhador de olho em você. Um desses franceses grandes e fortes."
"Pai..." Essa era nova. Até onde Albert Turner iria para convencê-la a esquecer Hush.
"O senhor não se importaria se eu me casasse com um trabalhador rural?"
"Por favor, Cassandra. Desde que você usasse um anticoncepcional muito bom e não engravidasse, por mim, você se casaria com um mendigo. Se isso significasse ficar viva. O problema de..." Ele não gostava muito de dizer o nome de Hush.
"Hush?" Ela completou.
"Sim, isso, Hush. Que nome mais idiota. Bom, o problema de Hush são os genes dele. São fortes demais Cassandra. Você acabaria grávida, querida, não importa o anticoncepcional que usasse. E já pensou gerar um bebê de um homem daquele tamanho dentro de você? Não seja leviana, Cassandra, o risco era real." Ele disse e juntou os pratos, talheres e copos e pôs tudo dentro da terrina.
"A sobremesa não deve demorar. Você pediu mais pudim?" Ela deu de ombros.
"Qual deles fazia pudim?" Ele perguntou.
"Candid." Ele franziu a boca.
"O médico preguiçoso. Sabe, se ficasse com o outro, o mais velho, eu até pensaria no caso. Ele é médico e..."
"O mais velho é o Simple." Ela disse e segurou o riso, seu pai ficou até vermelho.
"Não, não pode. Simple não pode ser o mais velho, o outro, Honest é sério, inteligente e responsável. Ele deveria ser o mais velho. Na verdade, eles são tão parecidos que Honest só precisaria dizer que não era o do meio, que ele era Simple, o mais velho. Faria mais sentido pra mim."
"Honest é o mais novo. Candid é o do meio." Seu pai ergueu os braços pra cima e os deixou cair, Cassie riu tanto que engasgou.
"Eu gosto de fazer você rir." Ele disse e isso cortou o coração dela.
"Hush me fazia rir. Ele ria comigo." Ela sentiu as lágrimas se formando no fundo dos olhos.
"Como? Ele não é mudo? Embora eu acho que..." Seu pai parou de falar, estava chateado.
"Eu o ouvi dizer 'não' ou algo parecido quando fugimos. Ele parece ser um homem bom." Ele baixou os olhos.
"Ele é surdo, papai. Só não fala por que por não ouvir, é muito difícil vocalizar palavras, mas ele pode falar se tentar. Ele me disse uma vez que me amava." E as lágrimas rolaram, não era possível segurar, ela se lembrando de Hush no lago, dizendo que a amava, era demais.
Seu pai a abraçou.
"Eu sinto tanto, Cassandra! Tanto!" Ele disse e estava sendo sincero.
"Então me leve embora." Ela pediu. Ele a soltou juntou tudo e saiu do quarto. Não demorou Louise entrou com uma grande porção de pudim numa tigela.
Cassie comeu tudo e se perguntou se podia repetir, mas a noite tinha chegado, tudo estava escuro, era melhor deixar para comer no dia seguinte. Cassie tomou um banho, vestiu uma roupa quente e se deitou. Estava com muito sono, como sempre.
Seu pai veio, não disse nada, só lhe deu um beijo na testa e saiu fechando a porta. Cassie olhou para a porta janela e viu que estava destrancada, e que não foi ela que destrancou. Teria sido Louise? Ela tinha fechado as cortinas, teria deixado a porta janela aberta?
Mas estava tão quentinho debaixo das cobertas! Cassie fechou os olhos e, como sempre fazia antes de dormir, rogou a Deus que lhe deixasse sonhar com Hush nessa noite. Algumas vezes era atendida, outras não.
E o sonho veio. Uma repetição da noite de núpcias deles, quando ela pensou que era Simple. Cassie se sentia uma idiota. Como pôde confundir Hush com Simple? Hush era muito maior, ele tinha mais de dois metros. E seu cabelo liso e macio! No sonho, ele a beijava na nuca e cheirava os cabelos de Cassie. Cassie ficava imóvel, ela tinha medo de acordar. Estava tão bom te-lo ali, com seu corpo grande colado ao dela, seu pênis se enfiando devagar no meio das pernas dela. Ele suspendeu uma das pernas de Cassie para poder penetra-la melhor, com cuidado e carinho. Esse era Hush, o amor da vida de Cassie. Mas quando o sentiu dentro dela, no sonho, Cassie não perdeu a oportunidade e se moveu, exigindo que ele estocasse com força nela, Cassie pôs as mãos para trás e as enfiou naquele cabelo macio e puxou prendendo a boca dele em sua nuca, enquanto se embatiam, ele entrando e saindo violentamente dela. Era o sonho perfeito, por que quando Cassie o reencontrasse, não haveria como irem devagar seria aquela loucura de Hush metendo nela com força ela agarrada aos cabelos dele, até que ele rosnasse e rugisse, Cassie gritasse seu orgasmo.
Eles então ficariam juntinhos, bem abraçados, ele estaria inchado preso dentro dela. No sonho, Cassie pediria que ele nunca mais saísse, ele responderia, afinal era um sonho, claro, dizendo que a amava, ainda que daquele jeitinho todo especial:
"E i ã o." Cassie então poderia enfim dormir, seria uma forma de ter forças para esperar seu pai cair em si.
Na manhã seguinte, no café, depois de Cassie devorar uma grande quantidade de carne, seu pai que tinha tomado o café no escritório foi até a cozinha com seu laptop.
"Eu exigi daquela puta uma coisa, ela acabou concordando. Me custou muito dinheiro isso, espero que dê um mínimo de valor." Ele disse.
Seu pai abriu um link e Cassie quase pulou da cadeira ao ver que eram Adam e Noah. Vivos! Saber que seu ato meio desesperado tinha rendido frutos a fez chorar.
"Não chore, ou eu não reproduzo a gravação." Seu pai ameaçou, ela enxugou o rosto, riu a ver a cara de Madame Gagnon e das ajudantes. Elas estavam com os olhos arregalados ante a beleza dos gêmeos.
"Oi, Cassie! É, estamos vivos. Já fazem dois dias da data limite, e estamos aqui. Estamos bem, com muita saudade, de papai, de Hush, de Jonathan, de você. Sabe que é nossa irmãzinha não é?" Adam disse. Noah, que estava calado, também disse:
"Eu vi uma coisa e fiquei muito, mas muito feliz. Eu estou treinando, querida, vou passar o tempo em que estou aqui, vendo o futuro de vocês e o seu é muito lindo. Estamos felizes, estamos otimistas. Não importa quanto tempo demore, estaremos juntos, Cassie, acredite nisso. Amamos você." Ele disse e a tela escureceu.
Seu pai sorriu, feliz por dar a ela aquele presente. Ela pensou que mesmo ele exigindo que ela se separasse de Hush, ele salvou a vida de Adam e Noah e isso não tinha preço.
"Obrigada, papai." Ela o beijou.
"Por que não se apaixonou por um deles? Eles são menores e ouvem." Seu pai pegou o laptop e saiu da cozinha. Cassie riu.
"Eu fiquei um pouco apaixonada, será que algum deles falaria francês?" Lizette perguntou.
"O seu inglês é muito bom. Noah adora cozinhar, vocês fariam um bom par."
"Um homem bonito daqueles não precisava fazer nada, mademoiselle. Eu só iria querer ficar olhando para ele."
"Olhando? Eu foderia com ele dia e noite." Louise disse, madame Gagnon, que era tia dela, lhe deu uma sonora palmada no traseiro. Mas elas terminaram rindo.
Cassie saiu para a varanda e olhou todo o terreno de parreiras, uma linda visão, na opinião dela, e seus olhos deram com o trabalhador que seu pai tinha falado. Era um homem realmente grande e forte, mas não era o único ali. Ela entrou, sentiu um arrepio estranho quando o olhou.
E mais uma semana se passou, semana na qual Cassie sonhou com Hush todos as noites. Ela estava agora contando as horas do dia para que a noite chegasse. Era sempre o mesmo sonho. Ela estava dormindo, ele se deitava na cama dela e faziam amor. Cassie não abria os olhos, ela os fechava com força, temendo acordar antes da hora.
O Natal veio e ela demorou a dormir, acabou não sonhando. No dia seguinte, na árvore de Natal, havia um presente estranho, uma estatueta de madeira de uma menininha de longos cabelos cacheados na ponta e um rostinho delicado, com um narizinho arrebitado. Jewel. Como uma estátua de Jewel foi parar ali? Mas era o melhor presente que já deram a ela. Até o relógio delicado, ornado com pequenas safiras no lugar dos números que seu pai te deu, não era tão especial. Só podia ter sido Bells quem fez algo tão lindo e perfeito assim, e deveria ter vindo do correio.
Mas não ter sonhado com Hush a deixou triste. Foi difícil esperar as horas do dia passarem para poder ir dormir. Ela se deitou cedo, esperou seu pai ir lhe dar o costumeiro beijo de boa noite, mas ele demorou.
Cassie já estava cochilando quando ele entrou no quarto.
"Desculpe a demora, querida. Estava falando com nossa nova contratada, a doutora Smith. Ela é inglesa, mas mora aqui na França. Foi muito bem recomendada." Cassie se sentou na cama, um sinal de alerta soando em sua mente.
"Uma doutora? Pra quê?" Ela tentou ganhar tempo.
"Uma nutricionista. Como eu disse, muito bem recomendada. Você está começando a me preocupar, Cassie. Está muito gordinha, está até mais lenta. Quase não sai do lugar. Eu sei que você está sofrendo, eu estou também. Mas tentar substituir aquele brutamontes com comida não vai ser bom pra você, meu bem." Cassie não sabia o que dizer. Seu pai não insistiu no assunto, deu o beijo de boa noite e saiu do quarto.
Cassie dormiu e sonhou. O sonho começou com um beijo escaldante, Hush a beijou com tudo o que tinha, Cassie, no sonho, quase abriu os olhos e gritou que o amava. Ele a beijou na boca, nos olhos, na garganta, abriu seu pijama e lhe beijou os seios, devagar, chupando os mamilos, fazendo ondas de prazer partirem dali até o meio de suas pernas. Ele beijou o seios dela até formigarem e ficarem ultrasensíveis, Cassie gemeu. Ele desceu a boca até beijar o meio de suas pernas, do jeito que Cassie ansiava, com ritmo. Ele chupava o clitóris e o circulava com a língua. Cassie gritou seu orgasmo os olhos fechados com força, Hush a penetrou enquanto a beijava, tudo era tão bom! Ele se movia, entrando e saindo, Cassie gemia alto, com os olhos fechados.
"Cassandra? Cassandra, abra essa porta! Abra essa porta ou os seguranças vão botá-la abaixo." Era a voz de seu pai.
Esse sonho era novo, Cassandra pensou. Mas o Hush do sonho era tão surdo quanto o Hush real, então continuou se mexendo, arremetendo seu pênis impressionante nela com força, Cassandra sabia que não podia abrir os olhos, então, não abriu.
Mas um barulho de algo grande contra a porta a intrigou, ainda que Hush não parou, pelo contrário a beijou de um jeito esfomeado, colhendo os gritos dela com sua boca.
"Cassandra! O que está acontecendo aí dentro? Mas que droga de porta é essa? Ponham essa porta abaixo!" Seu pai estava histérico no sonho. Hush continuava, Cassie sentia o clímax se acumulando.
E tudo aconteceu ao mesmo tempo, Cassie gritou seu gozo, Hush rugiu o dele, a porta foi abaixo, ela abriu os olhos e viu seu pai olhando assustado e com muita raiva para Hush em cima e dentro dela.
"Saia de cima da minha filha, seu brutamontes ou te dou um tiro!" Cassie estava muito confusa, aquilo era ou não um sonho?
"Ele é canino, senhor Turner, o pau dele incha e está preso na buceta de sua filha, tem de esperar alguns minutos." Era um sonho, só podia ser, pois Simple também estava ali.
"Seu desgraçado! Filho da puta! Atire nele, idiota!" Um segurança que estava muito vermelho com toda a cena, respondeu em francês ao seu pai que tinha deixado a arma em seu quarto.
"Senhor Turner, por que não tomou o chá que sempre toma? Se tivesse tomado nada disso teria acontecido." Simple disse. Ao contrário de seu pai, que parecia estar prestes a ter uma apoplexia, ele estava bem calmo.
Cassie olhou nos olhos castanhos lindos de Hush e sorriu, ele sorriu de volta.
"Eu te amo." Ela disse, ele aumentou o sorriso. Hush saiu de cima dela se ajeitou na cama e ela se aconchegou nele. Era tão incrível, tê-lo ali! Cassie rogou para não ser um sonho.
Seu pai mandou o segurança sair do quarto e olhou para Simple.
"Então, você nos achou. Mas eu posso fazer muita coisa para impedir isso." Ele indicou Hush e Cassie na cama, Hush rugiu para ele.
"Diga a ele que não pode fazer esse barulho esquisito pra mim!" Seu pai ordenou. Ele estava totalmente irado.
"Espécies ficam assim por suas parceiras, senhor Turner, ainda mais quando elas estão prenhas. Devia ver meu pai nas gravidezes da mamãe."
Seu pai arregalou os olhos de tal forma que pareciam que iam rolar fora de seu rosto.
"Não. Não! Cassie está gorda, não 'prenha'!" Cassie respirou fundo.
"Eu estou papai. Já estava quando vim pra cá. Eu tive medo de contar e o senhor me obrigar a..." Seu pai se sentou no chão, no tapete. Toda a cor se foi de seu rosto, Cassie sentiu vontade de chorar.
"Eu sabia que era bom demais pra ser verdade! Que eu não merecia ter você assim comigo, carinhosa, doce. Você nunca vai me perdoar, nunca vai me amar e agora..." Ele respirou fundo.
"Você vai ser responsabilizado por isso, você e esse brutamontes! Isso só pode ser um plano seu, sua cria de satanás. Você me mandou a certidão por que sabia que ela estava grávida!" Seu pai gritou e puxou os cabelos. Cassie queria abraçá-lo, mais estava nua.
"Eu juro por minha vida que Cassie e o bebê vão viver, senhor Turner. Noah viu ela, Hush e uma linda filhotinha. Eu confio nas visões dele. Temos Gabriel, temos Honest, Florest e a melhor de todos a doutora Trisha. Daqui a alguns meses vai estar brincando com sua netinha, eu prometo." Simple disse, no melhor jeito Simple de prometer coisas.
Seu pai se levantou. Suspirou e saiu do quarto.
"Você tem de dormir bem a partir de agora, Cassandra. Diga isso para o idiota do seu marido." Ele disse fechando a porta.

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