CAPÍTULO 15

689 105 4
                                    

Vengeance se dirigiu ao complexo, entrou sem que ninguém o visse e, pelo cheiro, encontrou o quarto onde Adam estava e entrou. Ele acariciou o rosto de seu filho e fez uma prece por sua alma imortal.
Fechou os olhos e se concentrou.
"Eu sei que ele está com você, bonequinha, eu sei que você conseguiu. Eu sei." Ele disse enquanto rasgava seus pulsos com suas presas e derramava seu sangue sobre o ferimento de Adam. Ele se lembrou de puxar a sonda, ou a carne iria se fechar e teriam de reabrir. Ele começou a sentir frio, seu sangue jorrava cobrindo todo o corpo de Adam, e ele continuou ali, até que sua consciência foi se apagando, até que por uma fresta, viu o céu azul, limpo e sem nuvens do vale de Mariah. Um lobo cinza correu e o encontrou, Vengeance se ajoelhou e abriu os braços, o lobo o lambeu, enquanto Vengeance ria.
"Isso não vale, Vengeance. Você está brincando com coisas maiores que você." Mariah apareceu, seu cabelo caía até seus tornozelos e ela estava mais alta, parecia uma amazona das histórias.
"Veio para lutar comigo?" O gato selvagem também parecia maior e seus olhos azuis brilharam violentos.
O lobo se postou a frente de Vengeance, arreganhou os dentes e uivou.
"Eu fico, se for preciso." Ela balançou a cabeça, seu sorriso foi maldoso.
"Como eu disse, não é assim que funciona. Mandar a alma dele pra cá antes do corpo morrer, só impedirá que ele morra da infecção. Ele ainda vai morrer quando seu corpo parar totalmente. Isso acontecerá daqui a alguns dias."
"Eu só queria mais um tempo, todo o tempo que eu pudesse ter." Ela acenou.
"Você está quase ficando aqui, seu sangue está acabando. Volte!" Ela comandou. Vengeance segurou na orelha do enorme lobo e começou a voltar.
"E diga a Livie que cada vez que ela fizer isso, cada vez que enviar almas vivas para cá, mais perto daqui ela estará."

Vengeance abriu os olhos, estava no hospital ligado a todos aqueles aparelhos que ele odiava. Marianne chorava agarrada a sua mão. Doeu ver seus olhos bonitos fechados em meio as lágrimas. Peter estava de pé, de costas olhando pela janela. Grace dormia encostada em Torrent enquanto amamentava sua nova filhote, Melody. Harrison estava sentado no chão, parecendo cochilar.
Quantos dias teriam se passado? Será que não deu tempo? Ele se desesperou.
"Graças a Deus!" Marianne percebeu que ele tinha aberto os olhos e clamou acordando Harrison e Grace. Harrison voou pra cima dele o abraçou apertado do jeito que deu. Vengeance riu.
"Não vão se livrar de mim tão fácil."
Marianne sorriu, seus lindos olhos azuis esverdeados marejados de lágrimas.
"Eu sabia que era questão de tempo, papai, falei pra mamãe, mas ela não acreditou." Grace convencida, disse.
"Ele ficou quase que totalmente sem sangue! Que droga, Vengeance! Não faça mais isso, nunca mais, ou eu mato você!" Marianne estava nervosa.
"Ele não vai fazer. Não vai, pois nós vamos embora." Noah entrou no quarto seguido por Romulus e, graças a Deus, Adam. Ele parecia bem, Vengeance abriu os braços ele se jogou neles. Adam chorou como um bebê, como o bebê que teria chorado nos braços de Vengeance se Vengeance tivesse tido a oportunidade de criá-lo desde que nasceu. Eles ficaram ali, abraçados, até que Adam se soltou e enxugou os olhos com as mãos.
"E depois o dramático sou eu." Peter disse em tom de zoação.
"Eu não tenho uma grama de dramatismo em mim e estou prestes a chorar." Grave disse. Ela fungou, piscou e mexeu o nariz.
"Não, não os chorões da família são vocês." Ela sorriu maldosa.
Marianne colocou fim a discussão que poderia levar dias.
"Bom, você está bem? Pode sair dessa cama?" Ela tocou o rosto dele com carinho.
"Se todo mundo sair, eu te mostro como estou bem, na cama mesmo." Ele sorriu. E mostraria mesmo, quase morrer mudava as prioridades de qualquer um.
"Ah, não, pai! A conversa até estava divertida." Harrison reclamou.
"Quanto tempo eu fiquei aqui?" Ele perguntou. Conhecendo a Reserva, todos já deviam saber que Adam tinha morrido e o sangue de Vengeance o ressuscitou.
"Algumas horas. Adam voltou a si, chamou Honest, ele me chamou e eu doei meu sangue pra você." Peter disse.
"E todos já estão sabendo que Adam quase morreu?" Vengeance perguntou, mas tinha um bom pressentimento.
"Não. O assunto ficou reservado ao zoológico. Ninguém quis sair de lá, por causa da tristeza, Leo, Jonathan e Hush me colocaram aqui de madrugada, quando vieram saber dos procedimentos a tomar, Honest já tinha colocado você nesse quarto. Eu até já almocei, está tudo bem." Adam disse.
Vengeance suspirou aliviado. O episódio de Joel, ainda era comentado, mesmo que tenha acontecido a anos atrás. Vengeance não queria atenção desnecessária.
"Bom, e o que ainda estão fazendo aqui? Preciso acalmar a mãe de vocês, saiam. Agora." Vengeance olhou para Marianne, ela sorriu. Parecia estar tentada a testar fazer amor numa cama de hospital.
"E eu vigio, como nos velhos tempos, tio V." Honest disse entrando no quarto. Vengeance abriu os braços de novo, o abraçou, cheirou e beijou.
"Eu só fiz o que fiz, por que tinha plena consciência de que meu leãozinho me traria de volta." Honest se endireitou. Ele não era um leãozinho mais. Estava quase do tamanho do próprio Vengeance.
"Mas tem um preço. Eu preciso do meu irmão de volta, Simple está cada dia pior. E só você pode dar um jeito nisso, tio."
Simple, o leãozinho original. Ele foi o primeiro a ser chamado assim, depois o nome se estendeu aos seus irmãos. Vengeance o amava, amava demais e sim, iria trazer o Simple, o seu leãozinho de volta. E sabia exatamente como fazer isso.
Simple tinha de se sentir como antes, como se sentiu quando Vitória engravidou, ou como quando Bells conseguiu dominar sua compulsão violenta, tinha de se sentir exatamente como se sentiu quando tirou Jonathan da casa de Andrew, debaixo dos narizes de Noah e Adam, ou como quando transformou a fábrica num sucesso e ainda ajudou Thorment a se conectar com Enrico.
Ele tinha de sentir necessário, tinha de se sentir indispensável.
Ele tinha de salvar Noah, Adam e Romulus.

HUSHOnde histórias criam vida. Descubra agora